Na seção "Sobe e Desce" da Veja desta semana, na coluna "desce", foi publicada a frase: "Enquanto a ministra do Meio Ambiente defende o ensino do criacionismo, o desmatamento na Amazônia bate recordes." O que uma coisa tem que ver com a outra? Veja tenta irresponsável e maldosamente vincular a posição criacionista da ministra com os problemas ecológicos que não são de hoje no Brasil. É como se eu dissesse que a roubalheira da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu porque ele é ateu. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Os editores ateus e ultradarwinistas de Veja mostram cada vez mais suas garras intolerantes.
Época também dá sua alfinetada na ministra. E usa o geneticista Francis Collins, que é evolucionista teísta, para levar o leitor a concluir que Marina é "fundamentalista" (termo na moda e que vive na boca dos fundamentalistas do outro lado). Segundo Época, "ao dar ao criacionismo o mesmo status do evolucionismo, Marina Silva comete uma perigosa confusão entre fé e ciência. 'Marina Silva está pura e simplesmente errada ao dizer que não podemos explicar a natureza pela evolução darwiniana', afirmou em seu blog o jornalista Marcelo Leite [e aqui a revista cita um jornalista que também é da Globo], especializado em ciência e meio ambiente. 'Ela é a melhor explicação científica que existe. Nem a Bíblia nem o 'design inteligente' podem ser colocados no mesmo plano como conhecimento.'"
É claro que não se pode alçar a Bíblia ao status de livro científico. E nem é isso que se quer. O que é de se estranhar é essa blindagem em torno do darwinismo.
Pra variar, nenhum cientista ou teórico criacionista ou do DI foi procurado. Nem mesmo os organizadores do simpósio. Esse jornalismo de uma fonte/ideologia só já está cansando.
Pelo menos a revista da Globo destaca a trajetória de sucesso da ministra: "Filha de seringueiros, ela foi semi-analfabeta até os 16 anos. Foi empregada doméstica, formou-se em História pela Universidade Federal do Acre e tornou-se a mais jovem senadora do país. É uma ambientalista respeitada e, por seu trabalho à frente do Ministério do Meio Ambiente, o jornal britânico The Guardian a incluiu na lista das 50 personalidades que podem salvar o planeta de catástrofes ambientais provocadas pelo aquecimento global." Mas que pena... Ela é criacionista.
Isso me lembra aquela reportagem de Veja sobre a educação adventista, publicada no fim do ano passado. Depois de admitir que o sistema educacional da Igreja Adventista do Sétimo Dia é um dos melhores no ranking do MEC e é reconhecido por sua excelência educacional e ética, a revista ataca: diz que há um quê de obscurantismo nesse sistema, pois ensina junto com o darwinismo o famigerado criacionismo. [!]
Nem a ministra (que tem duas filhas num internato adventista), nem a educação adventista mereciam esse tratamento.
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