quinta-feira, 17 de abril de 2008

Lição 3 – A realidade de Sua humanidade

Subsídios Para a Lição da Escola Sabatina
2º Trimestre de 2008

 

Lição 3 – A realidade de Sua humanidade

Rodrigo P. Silva
O Dr. Rodrigo P. Silva é professor de Teologia do SALT
Unasp Campus II.

Esboço da lição

Introdução

I – O Mistério da encarnação
II – Questionamentos gnósticos
III – Por que Ele Se encarnou?

Introdução 

A lição desta semana fala do ministério da encarnação, seu porquê e menciona um forte grupo, dentro da igreja cristã, que se opôs a esse conceito desde os tempos antigos, os gnósticos. Seria bom ter em conta que toda heresia consiste não numa apresentação totalmente contraditória da verdade, mas num desequilíbrio dela. Noutras palavras, uma das estratégias de Satanás para induzir ao erro é levar os homens a tomar um dado da verdade e sobreestimá-lo em detrimento de outro, o que gera o engano. Exemplo: Somos salvos pela graça, não é mesmo? Pois bem, o inimigo pode incentivar uma sobrevalorização tão extensa da graça a ponto de praticamente anular a Lei de Deus e a considerar obsoleta ou revogada na cruz. Por outro lado, ele incentiva como resposta uma sobrevalorização exacerbada da lei a ponto de criar um legalismo em que a graça quase não tem oportunidade de atuar. A falta de equilíbrio entre dados de determinada verdade é o que gera doutrinas distorcidas dentro da Igreja. Outro exemplo: A Trindade é constituída de três pessoas que formam um único Deus. Posso enfatizar com tamanha ênfase a unicidade de Deus que negue a pluralidade pessoal dEle, chegando a supor que se trata de uma só pessoa divina que ora se apresenta como Pai, ora como Filho e ora como Espírito. Por outro lado, posso enfatizar tanto o pluralismo pessoal da divindade que crio um triteísmo (três deuses) que também é outra forma de distorcer a doutrina de Deus.

Foi assim que o inimigo agiu no passado e assim ele age hoje. No começo, incutiu nos homens que um Deus é pouco e criou uma multidão deles (politeísmo). Depois, disse que muitos são demais, e criou a idéia de nenhum Deus (ateísmo). Por isso, é possível dizer que a heresia é um lado da verdade que ficou louco!

No caso da natureza divino-humana de Cristo, a atitude do enganador foi a mesma. Para uns, ele incentivava uma crença exagerada na humanidade de Cristo, a ponto de praticamente negar Sua divindade, tornando-O, no máximo, um ser humano especial. Para outros, ele sugeria uma ênfase sem limites na divindade do Filho de Deus que quase chegava a anular qualquer traço de humanidade existente em Sua pessoa. É sobre esses grupos que estudamos nesta semana.

I – O mistério da encarnação

Talvez essa parte da lição possa ser introduzida com esta pequena reflexão ou confissão teológica: "Quando estudamos os vários tratados de teologia sistemática, deparamo-nos com muitas coisas profundas e até difíceis de se reproduzir. A conclusão é que a essência de Deus ainda está muito distante de qualquer discurso que se intente fazer de Sua pessoa!"

Disseram-me, por exemplo, que Deus é onisciente, que sabe tudo e não é surpreendido por nenhum evento futuro; que Ele nem precisa raciocinar, pois já sabe o fim desde o princípio. Confesso que aceitei pela fé, mas não entendi Deus! Depois, disseram que Ele não teve começo, nem terá fim. Tentei voltar mentalmente no mais longínquo passado que minha imaginação permitiu. Mas ainda fiquei sem entender Deus. Disseram que Ele é tão grande e infinito que dificilmente haveria um espaço em que pudesse caber o Seu corpo. Minha mente deu um nó e continuei sem entender Deus! Finalmente, começaram as aulas de Cristologia e aprendi que Deus Se fez carne e habitou entre nós, tornando-Se um de nós. Somente aí comecei a entender um pouquinho sobre Deus e a ter a capacidade genuína de amá-Lo como meu Salvador!

A encarnação nos oferece um belo quadro da Divindade. Ela não esgota o todo de Deus; é apenas uma revelação oferecida por meio da segunda pessoa da Trindade, mas é o suficiente para nossa relação com Ele. É o rosto divino que a humanidade pecadora pode contemplar. Certa mãe colocou, uma vez, seu filhinho no quarto à noite, para dormir. Ao sair, ela ouviu o pequenino dizer: "Mamãe, você não vai me deixar aqui sozinho, não é? Está tão escuro..." "Eu sei que está escuro, replicou a mãe do menino, mas Deus está contigo". "Eu sei que Deus está aqui, choramingou o pequeno, mas eu quero alguém com um rosto!"

Alguém com um rosto! Era o desejo universal de uma humanidade pecadora. Em Cristo nós temos esse Deus e podemos contemplá-Lo sem medo de ser exterminados por Sua presença.

Em 1 Timóteo 3:16, Paulo fala do "Mistério da Piedade". Essa palavra grega, mysterion, é significativa nos escritos de Paulo. Ele a usa pelo menos umas 20 vezes em seus escritos. Para os adeptos das religiões de mistério que permeavam o império romano, o mistério era um ritual ou doutrina secretos que somente a elite dos iniciados na seita poderia conhecer. Para Paulo, no entanto, todos podiam gratuitamente conhecer esse mistério, desde que o aceitassem pela fé, pois, afinal, ele tinha agora sido revelado em Cristo Jesus. Paulo, aliás, foi mais longe dizendo que esse mistério é o Evangelho antes oculto, mas agora revelado, que ele mesmo pregou (Rm 16:25-26; 1Co 2:1, 6-16; 4:1; Ef 6:19). Algumas vezes o "mistério" se refere a um aspecto específico do plano da redenção, como a inclusão dos gentios na igreja, a transformação dos crentes por ocasião da segunda vinda de Cristo ou a união de todas as coisas na pessoa de Cristo (1Co 15:51; Ef 1:9; 3:3, 4, 9).

Seja como for, os protagonistas desse grande mistério são: Deus, que projeta o plano da redenção e o revela; Jesus Cristo que o executa na história, morrendo pelos pecadores, o Espírito Santo que convence os pecadores, e o ser humano que não só é alcançado por esse plano como ainda o transmite a seus irmãos em todo o mundo.

O mistério foi, pois, montado por Deus, auto-revelado em Cristo, anunciado pelos homens, registrado pela Bíblia e efetivado pelo Espírito. Tudo sempre, "na plenitude dos tempos" (Cl 1:26-28; 4:3).

II – Questionamentos gnósticos

As primeiras distorções dentro do cristianismo alusivas à pessoa de Cristo começaram na segunda metade do primeiro século e foram se intensificando à medida que o tempo caminhava para os anos 90 e início do segundo século da Era Cristã. Na verdade, as discussões conciliares sobre a pessoa de Cristo se estenderam até por volta do século 4. E hoje, curiosamente, muitas das polêmicas levantadas naqueles idos estão voltando à baila nas declarações de alguns teólogos e também religiosos que não mais aceitam a divindade de Jesus Cristo.

Este resumo histórico poderá ajudar a classe a entender como se processou a discussão:

A igreja apostólica começou com dois possíveis centros: Nazaré e Jerusalém (mais tarde substituída por Antioquia). A função destes centros (mais Jerusalém e Antioquia, pois Nazaré não pareceu exercer muita influência) era em maior escala missionária e em menor escala administrativa.

Com a "nova diáspora" dos apóstolos para o mundo gentílico, causada pelas perseguições iniciadas por Herodes, Cláudio e Nero, estes centros originais se esvaziaram e é difícil dizer como ficou seu papel centralizador durante esse período. A partir de então, as igrejas que se fundavam pelo trabalho de um apóstolo ou missionário se caracterizavam como uma comunidade deste discípulo e tinham um comportamento quase autóctone em relação a igrejas fundadas por outro pregador. Noutras palavras, as comunidades administravam-se a si mesmas, e sua unidade era feita pelo trabalho daquele pregador pioneiro (poderia ser Paulo, Pedro ou outro). Mas isso, é claro, não nega uma unidade maior do cristianismo nem deve servir de modelo para a organização hoje, pois era uma situação especial de perseguição à qual a Igreja procurava sobreviver – uma realidade bem diferente da IASD em nossos dias!

Continuando, as igrejas nesta época eram todas "igrejas do lar" (domus ecclésiae) e não um templo próprio conforme temos hoje. Os cristãos se reuniam na casa de um convertido do grupo que tivesse maiores condições de reunir os demais (Rm 16:5; 1Co 16:20; Cl 4:5). Assim, uma comunidade específica (igreja de Éfeso, de Esmirna, de Corinto, etc.) poderia ser composta de meia dúzia de famílias ou menos. Ademais, é possível que numa mesma cidade (especialmente nas metrópoles) houvesse mais de uma igreja cristã, fundadas por diferentes apóstolos.

Em alguns casos, uma igreja poderia até se rivalizar com outra, como podemos subtender de 3 João 9-12. Gaio e Diótrefes talvez tivessem sido chefes de diferentes comunidades que estavam na mesma cidade. Neste sentido é razoável supor que cada uma tenha sido fundada por um missionário diferente (talvez uma por Paulo outra por João). Seja como for, o trabalho de unificação das igrejas não deveria ser nada fácil nessa época!

Entre os anos 70 a 90 d.C., há um hiato silencioso que não nos esclarece como estavam as relações hierárquicas dentro do cristianismo. É possível que, com a ausência dos apóstolos mortos, restando somente João, a liderança local tenha sido ocupada por líderes não muito afinados com a pregação apostólica ou com a liderança centralizada em Antioquia (que talvez também tivesse se diluído por causa da perseguição).

Assim vemos, especialmente nos escritos de João, a preocupação com movimentos dissidentes cada vez mais numerosos dentro do cristianismo. E a tônica de sua mensagem parecia ser a natureza de Jesus Cristo. 1 João 2:18-27, carta que João escreveu possivelmente após ter saído da ilha de Patmos, revela a existência de grupos separatistas que ele empregou não pouca energia em denunciar. Que grupo ou grupos seriam estes?

1.    O plural usado (anticristos e falsos profetas) pode indicar tanto os membros de um mesmo grupo, quanto os líderes de grupos distintos.

2.    Os hereges combatidos têm uma distorção cristológica em seu ensino (1:5-2:11)

3.    A menos que 1 João 4:5 seja uma hipérbole, os cismáticos seriam um grupo numericamente bastante expressivo.

4.    Pelo testemunho patrístico, isto é, os primeiros escritores cristãos a produzirem livros a partir do fim do primeiro século d.C., é possível que se trate de grupos de orientação gnóstica: ebionitas, docetistas liderados por um certo Cerinto que se tornara inimigo do apóstolo João.

O que ensinavam tais grupos?

Como não dispomos de seus escritos, devemos tentar uma montagem de seus ensinos através dos olhos de João. Como se trata da análise de um escrito apologético, é possível que vejamos as afirmações lapidares do pensamento cismático nas afirmações reunidas por João que seriam quase que slogans do pensamento dissidente. Muitos destes grupos podem ter se originado antes da saída de João da ilha de Patmos. Assim que retornou a Éfeso, ele deve tê-los encontrado ali e espalhados pela comunidade cristã de outras partes. Veja que ele apela para uma mensagem ouvida desde o princípio – o que indica um evangelho mais antigo que eles abandonaram. Lembremos que a sistemática abaixo pode se referir não a um grupo apenas, mas a vários:

1. Cristologia

Negavam a preexistência de Jesus, embora pudessem aceitar a preexistência de Cristo (1Jo 4:2 – prólogo de João).

Dissociavam Jesus do Cristo como duas entidades separadas. Note que João é o único a (além do binômio Jesus Cristo) escrever de modo "identificativo" "Jesus é o Cristo" (Jo 20:31; 1Jo 2:22; 5:1).

Negavam o messianismo de Jesus (1Jo 2:22).

Negavam a relação Pai-Filho na Divindade e a própria filiação divina de Jesus Cristo (1Jo 2:22, 23; 5:5).

Negavam a filiação divina do Messias (estes talvez fossem de origem judaico-ebionita ou seguidores de João Batista, pois não aceitavam a divindade do Messias vindouro) (1Jo 5:20).

Negavam a encarnação de Cristo, isto é, Sua humanidade real (docetistas) – aqui temos dois grupos distintos: os "docetistas puros" que negavam qualquer realidade à humanidade de Jesus, dizendo que Ele apenas "aparentou ser humano" e os "docetistas adocionistas" que ensinavam que o espírito do Cristo veio sobre um homem chamado Jesus de Nazaré e o "adotou" como Filho de Deus. É possível que alguns docetistas puros até cressem na existência humana de Cristo, mas a consideravam insignificante do ponto de vista da salvação.

2. Ética do comportamento – desde o ponto de vista soteriológico

Para João, a insistência numa cristologia herética produzia um comportamento ético igualmente distorcido pois era o tema da salvação que estaria por trás deste debate.

Os hereges entendiam que:

1 – O sangue de Cristo não é essencialmente necessário à salvação (1Jo 1:7; 5:6; 2:1, etc.).

2 – Talvez por orientação gnóstica, alguns iniciados do grupo julgavam ter atingido uma condição acima do pecado que inclui os pecados pessoais. Assim, havia gnósticos que evitavam satisfazer os apetites da carne (perfeccionistas) e os que viviam satisfazendo-lhe os prazeres – pois diziam que sua mente estava acima do corpo e não se maculava mais pelas atitudes deste. Ambos tinham o objetivo de negar a importância do corpo. João corrigia os dois extremos (1Jo 1:8-10; 3:6-10; 5:18).

3 – Negavam a importância dos mandamentos para a carreira cristã (1Jo 2:2, 3; 5:2, 3; especialmente: 3:4 onde o termo anomia traduzido por "transgressão da lei" seria melhor entendido como "negação da lei").

3. Posição Gnóstica

Os separatistas da comunidade joanina tinham uma tendência bastante docetista (1Jo 1:1). Eles migraram da idéia de um Jesus simplesmente humano [ebionismo], passando por um Jesus não plenamente humano até chegar a uma mera aparência de humanidade). Depois, vincularam a preexistência do Cristo à preexistência dos crentes que viviam antes no mundo ideal (platonismo). Eles também produziram vários evangelhos apócrifos nos quais supunham reproduzir ensinamentos esotéricos de Cristo que só deveriam ser revelados aos iniciados do grupo. Tratava-se de evangelhos falsos, é claro, atribuídos a figuras históricas do cristianismo a fim de oferecer credibilidade a um texto espúrio. Assim surgiram textos como Evangelho de Felipe, Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria, etc... Um deles, por exemplo, o evangelho de Judas, mostrava Jesus ensinando que a morte é uma coisa boa, pois liberta a alma que está prisioneira no corpo material. Sendo assim, o que mata o outro ou o leva à morte não é seu inimigo, mas aquele que propiciou sua libertação. Esse grupo chamado Cainita entendia que Caim, o primeiro homicida da história, seria um legítimo herói, e depois dele viriam Balaão, Datã até chegar a Judas – aquele que libertou a alma de Cristo quando O conduziu para a cruz. Aliás, o texto diz que Jesus teria feito um acordo com Judas para que este O traísse. Quanta "crendice", não é mesmo?

III – Por que Ele encarnou?

A obra de redenção realizada por Cristo visava a diversos elementos do grande conflito que estariam, obviamente, centrados na salvação da raça humana. Entre esses elementos temos o desafio feito por Satanás: no Céu, ele argumentara que a lei de Deus era desnecessária, pois restringia a liberdade dos anjos. Após a queda de Adão, ele ampliou o discurso dizendo que a lei de Deus é pesada demais para ser cumprida. Logo, a queda do homem não se deu por sua culpa, mas por culpa do Deus que lhe impôs um fardo pesado demais para cumprir.

Ora, a lei era a expressão exata do caráter de Deus; logo, questioná-la era questionar o Altíssimo! Portanto, era necessário provar que Adão e Eva poderiam, sim, ter sido fiéis, pois o cumprimento da lei estava à altura de suas forças. E de que modo seria isto evidenciado? Ora, somente um: Deus, na pessoa de Seu Filho, toma a natureza de Adão antes da queda e enfrenta o pecado como homem, vencendo-o como Adão poderia ter vencido.

Mas ainda resta uma parte da questão. Após a queda de Adão, seus descendentes ficaram mais vulneráveis à morte, ao pecado e ao sofrimento. Esses, ao contrário de seu ancestral antes da queda, não tinham mais condição de cumprir a lei por si mesmos. Estavam condenados e vendidos ao pecado. Pela justiça, deveriam morrer. Como, portanto, conciliar um Deus justo com um Deus misericordioso? Como se vê, não bastaria provar que Adão poderia ter ficado fiel, se quisesse! Isso inocentaria Deus, mas não salvaria a humanidade.

Então, a Divindade encarna com a natureza de um Adão sem pecado (para mostrar a viabilidade da obediência), mas luta com um corpo marcado por quatro mil anos de conseqüências da transgressão. A natureza, portanto, era anterior à queda, mas o corpo, posterior a ela, para que não houvesse "vantagens" em Cristo que pudessem comprometer a seriedade da prova. Noutras palavras, Deus não "deu um jeitinho".

Como se vê, não bastou Cristo ser sacrificado no lugar do homem, ou simplesmente mostrar que Deus estava certo. Ele teve que fazer as duas coisas, além de revelar Deus a uma humanidade que agora fugia dEle. Foram essas razões que tornaram necessária Sua encarnação, que O fizeram tornar-Se um de nós.

Mas uma questão ainda pode ser levantada por alguns: com base em Hebreus 4:15, entendemos que Cristo foi tentado em todas as coisas, semelhante a nós (que vivemos após a queda de Adão), mas sem pecado (semelhante a Adão antes da queda). Ora, isso não colocaria Cristo em vantagem sobre nós? E como Ele pôde ter sido tentado em todas as coisas se muitas das tentações modernas nem existiam em Seu tempo? Jesus também não experimentou todas as provações que existem por aí. Ele nunca soube o que é ser vítima de um estupro, ser abandonado pela esposa ou ter a família assassinada por traficantes de drogas. Também não soube o que é resistir ao cigarro ou a tentações virtuais da Internet. Como Ele pôde ter sido tentado em tudo? Há tentações que são minhas e pertencem aos nossos dias! Jesus não pode dizer que me entende, pois não passou por aquelas experiências que passei.

Bem, respondendo às primeiras perguntas, lembramos que o fato de ter Ele uma natureza sem pecado não O coloca em vantagem nenhuma sobre nós. Ao contrário, isso era até desvantajoso para Ele. Raciocinemos assim: quem está mais sujeito ou sensível a qualquer sujeirinha? Uma roupa suja e encardida ou um terno branquíssimo, recém-saído da loja? Leve os dois para um lugar com muita poeira (daquela vermelha que vemos na roça) e responda: qual se afeta mais rápida e visivelmente com a sujeira local? É obvio que é o terno branco. Ser completamente limpo nessa situação não traz vantagem nenhuma; ao contrário, torna o que está limpo mais sujeito às sujeiras ao redor. Até o assentar-se com o terno limpo, pode deixar as marcas de um banco empoeirado.

E tem mais: Jesus poderia a qualquer momento Se livrar daquela situação retomando o poder que tinha no Céu. Isso O colocaria em uma situação mais incômoda que a nossa. Afinal, o que é pior? Sentir cócegas e não poder coçar por estar com as mãos amarradas ou sentir cócegas, não poder coçar, mas estar com as mãos livres? Essa segunda situação é definitivamente pior pois é necessário controlar não apenas a vontade, mas o próprio impulso, pois não há nada exterior que me impeça de obter o alívio imediato. Imagine que Jesus, diferente de nós, poderia ter Se livrado da dor a qualquer momento, esta era uma condição muito pior do que a nossa!

Com esses elementos em mente, podemos dizer que, se alguma vantagem houve na equiparação entre a luta de Cristo e a nossa, esta certamente não esteve ao lado do Salvador! Some-se a isso o fato de que nós sofremos conseqüências do nosso pecado, ou, no máximo, conseqüências indiretas daqueles que nos rodeiam (um filho, por exemplo, que nasce com certa doença devido ao vício dos pais). Mas Cristo sofreu as conseqüências de coisas que Ele não fez e ainda, não apenas as conseqüências das pessoas em redor, mas de todos os males do mundo inteiro e de todas as épocas. Por mais exagerado que possa parecer: a dor de Cristo, especialmente no Jardim das Oliveiras e no Calvário, foi a mesma dor dos ímpios no lago de fogo e enxofre. Sua separação do Pai foi o juízo final no seu sentido mais exato sem nenhuma mistura de misericórdia. É por isso que, embora alguém crucificado pudesse demorar dias até morrer, Jesus faleceu em poucas horas. Ellen White diz que Seu sofrimento espiritual foi tão intenso que a dor física da cruz se tornou um mero detalhe (veja em O Desejado de Todas as Nações, p. 723).

Quanto às demais questões de Cristo necessitar a experiência de todo tipo de sofrimento para nos entender e para justificar o texto de Hebreus 4:15, devemos entender que Ele não precisaria experimentar cada situação específica para compreender a dor de todos. Bastava enfrentar o mal em sua raiz e isso Ele fez com muita propriedade. Mesmo nós, seres humanos, limitados como somos, não precisamos passar pela exata dor de um companheiro para dizer que o compreendemos. Não importa o local, se é uma dor de dente ou dor de cabeça, dor é sempre dor! Logo, mesmo que não estejamos sofrendo a exata dor de um semelhante, só por termos sofrido outro tipo de angústia, podemos dizer que nossas experiências são análogas uma à outra e nós o entendemos. Mais do que isso, Cristo enfrentou o pecado e suas conseqüências no mais íntimo grau. Tal experiência O legitima não apenas como nosso substituto, salvador e intercessor, mas, mais ainda, como nosso sacerdote que pode "compadecer-Se das nossas fraquezas". Curioso é que "compadecer" é um verbo que vem do latim compassivus e quer dizer literalmente "sofrer com", "padecer ao lado de...". Jesus é um Deus compassivo que não emite conceitos teóricos sobre o sofrimento, mas sofre conosco e, também junto de nós, anseia pelo fim do pecado, da morte e do sofrimento humano.

FONTE: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2008/frlic322008.html

Um comentário:

  1. Amém! Já estive dando uma espiadinha nos comentário do Dr Rodrigo P. Silva e fiquei encantada ... Agora você testificou ... ADELANTE ... hehehe
    assim facilita pra mim, porque eu ainda não sei bem o caminho para chegar mais rápido ao menu (papÁ)... hehehe
    DTA
    ( DESTA VEZ = UMA JAMANTINHA - GLÓRIA A DEUS!!! )

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