sexta-feira, 29 de maio de 2009

Alimentos funcionais para prevenir doenças

Alimentos funcionais para prevenir doenças

A alimentação é a mola propulsora de nosso organismo, o combustível gerador da energia necessária para enfrentarmos o desgaste cotidiano. Mas, além das funções nutricionais básicas, alguns alimentos possuem propriedades preventivas e até mesmo curativas para alguns males que nos afligem — principalmente doenças crônicas degenerativas provocadas pelo estilo sedentário de vida. São os chamados alimentos funcionais.

Foram os japoneses que, na década de 1980, descobriram que os alimentos possuíam algo além de macronutrientes (proteína, lipídeos e carboidratos), micronutrientes (vitaminas e sais minerais) e água. Eles perceberam que as substâncias bioativas, também classificadas como fitoquímicos, promoviam benefícios à saúde humana.

Mas foi somente a partir da década seguinte que a produção e a comercialização dos funcionais foi normatizada, sendo os japoneses igualmente pioneiros. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou resoluções desde 1999.

"Graças a Deus o Ministério da Saúde liberou para os nutricionistas funcionais prescreverem a fitoterapia", comenta Fátima Nunes, nutricionista que trabalha com a funcionalidade dos alimentos, indicando-os aos seus pacientes.

Nas dietas que prescreve, ela procura equilibrar a alimentação conferindo-lhe funcionalidade através de alimentos ricos em substâncias bioativas; grãos, legumes, verduras, frutas, peixes, oleaginosas (castanhas), chás. A combinação deles e a repetição da ingestão geram diversos benefícios, segundo ela.

Pode-se dizer que esses alimentos funcionais estão diante de nós e não percebemos o quanto eles podem nos ajudar. A lista é grande: uva, tomate, goiaba, frutas em geral, soja, brócolis, peixes, alho, cebola, amendoim, castanha de caju, chá verde, milho, gergelim, azeite de oliva. O consumo regular e direcionado desses alimentos podem prevenir doenças cardiovasculares, inflamatórias, intestinais, reumáticas, hipertensão, diabetes, entre outras.

Segundo Fátima Nunes, a prescrição da dieta a ser seguida é dada após uma investigação inicial sobre os hábitos de vida do paciente. Ela esclarece, porém, que também é levada em consideração a individualidade de cada um. "Você pode ter o mesmo biotipo que eu, ter a mesma altura, peso, fazer o mesmo exercício, mas o metabolismo é diferente. E é isso o que a gente tem centrado na nutrição funcional; é, primeiro, a repetição do que é importante para a saúde; e, segundo, respeitar o indivíduo enquanto pessoa, sua rotina."

Quem também segue os preceitos da nutrição funcional é Jocélia Cristina, que trabalha na elaboração de cardápios para crianças de uma escola particular da cidade. Ela diz não tem como abrir mão das descobertas científicas sobre as propriedades terapêuticas dos alimentos . Os cardápios que Jocélia elabora primam pela boa nutrição e primam pela educação alimentar das crianças. "Já reduzi o sódio e as sobremesas doces, introduzindo frutas no lanche. Elas já crescem sabendo da importância dos alimentos saudáveis", diz.

Mas nem todo nutricionista é funcional, como lembra Fátima Nunes, esclarecendo ainda que, muito mais do que uma corrente de pensamento, a nutrição funcional integra a formação acadêmica, inclusive com cursos de pós-graduação.

Pós-graduada em nutrição clínica, metabólica e funcional, Letícia Castelo Branco diz não ser radical, incentivando sempre aos seus pacientes uma dieta saudável, mas considera a nutrição funcional de alto custo para ser mantida, pela variedade do que é recomendado. "Uso apenas alguns alimentos funcionais nas dietas que prescrevo. Não me classifico como nutricionista funcional, e sim, generalista", afirma Letícia.

Alimentos processados perdem suas propriedades

A nutricionista paulista Denise Carrero, uma das pesquisadoras mais respeitadas na área, com vários livros publicados, defende que todos os alimentos são funcionais. A potiguar Fátima Nunes concorda, mas faz algumas ressalvas. Para ela, a afirmação está correta mas desde que os alimentos não sejam alterados em sua integridade, em sua composição.Ao serem processados pela indústria alimentícia, os alimentos fatalmente perdem a composição original, uma vez que são introduzidos conservantes e outros elementos químicos para prolongarem sua validade e, em muitos casos, aguçarem o sabor e a aparência.

"Na hora em que você pega um leite, processa e coloca dentro de uma caixa, ele foi manipulado, alterado, entrou produto químico para ser conservado. Mas se o leite veio de um gado que come capim num pasto, e não ração, isso tudo está correto. Outro exemplo é a manteiga, que é um alimento; enquanto a margarina é sintética", comenta Fátima, que está escrevendo o livro "Comida de Verdade", ainda sem data de lançamento.

Ela acredita que estamos cada vez mais voltados para o conceito de "comida de verdade", na busca por uma alimentação, embora o estresse do dia a dia nos empurre para os 'fast-foods' da vida. Ela faz uma analogia sobre o tema. "Digo muito no consultório que se você levar seu avô para o supermercado e ele vai saber reconhecer o alimento que é comida de verdade. Se mostrar uma caixa de hambúrguer, por exemplo, ele não sabe o que é. Mas se mostrar uma carne moída, uma batata doce, um inhame ou uma macaxeira, ele conhece. Então, estamos voltando para a comida de verdade."

E Fátima Nunes afirma estar cada vez mais radical na hora de expor o que é saudável e o que nos faz mal na hora de comer. "Quanto menos enlatado, embutido, plastificado, envolvido em alguma coisa você comer, melhor; porque o maior conservante da indústria é o sal, pois é mais barato."

O certo mesmo é cozinhar sem sal, substituindo-o por ervas como açafrão, cominho, orégano, salsinha, coentro, cebola, alho, que possuem em sua funcionalidade a propriedade antioxidante.

A nutricionista também comenta as propriedades de alguns alimentos que deveriam ser introduzidos definitivamente em nossa alimentação, como os integrais. "A fibra do arroz integral tem magnésio, que ajuda na absorção da proteína e o carboidrato para a massa muscular. Isso é pura bioquímica", diz. "é dentro da fibra que estão os micronutrientes tão importantes para metabolizar os macros."

Também são exaltadas as propriedades do chá verde, por ajudar a baixar o colesterol e ser antioxidante; do chá de alcachofra com porangaba, ótimo para tirar a gordura do fígado e baixar a ferrentina; castanha-do-pará e de caju, por aumentar a saciedade nas feições, da pimenta, do azeite de oliva, da linhaça. Os alimentos funcionais, segundo Fátima, são quase todos indicados para combater problemas do coração. Alguns previnem até mesmo o desenvolvimento de células cancerígenas. "Por que algumas pessoas têm câncer e conseguem reverter? Porque têm uma alimentação funcional boa. Você nutriu o gene e não houve alteração. Mas quando você faz uma dieta errada, apareceu um câncer e você continua errando, aí você vai se dar mal."

Nutricio