Muitas são as interpretações distintas que têm sido apresentadas para conciliar a liberdade do homem com a presciência divina. Infelizmente, alguns, interpretando mal determinadas passagens bíblicas, afirmam, que Deus baseado em Sua onisciência, decidiu quem será aceito e quem será rejeitado, quem será salvo, quem será condenado.
Essa posição, assumida por alguns, tem causado problemas à Teologia e até comprometido ensinamentos bíblicos. Outros comentaristas têm afirmado que, se Deus tem o conhecimento antecipado das opções individuais, isto anula totalmente o livre- arbítrio.
Para boa compreensão desse assunto dois princípios exegéticos ou interpretativos devem ser considerados:
1) O denominado por Orígenes de "Analogia da Fé", que, em outras palavras, quer dizer: O verso deve ser interpretado no conjunto da Escritura e não isoladamente.
2) Atentar bem para o contexto da passagem bíblica. A Bíblia nos ensina as seguintes verdades: livre-arbítrio, presciência divina e predestinação. Compreendida no conjunto das Escrituras, elas jamais se contradizem.
Livre-Arbítrio é o princípio escriturístico que declara ser o homem livre para tomar decisões. Presciência Divina é o conhecimento antecipado de Deus das escolhas e atos bons ou maus praticados pelo ser humano. Predestinação bíblica é o decreto divino que possibilita a salvação a todos os que aceitarem a Cristo.
Passagens como Gênesis 3:2 e 3; Jeremias 21:8; Ezequiel 33:11; João 3:16 e Apocalipse 22:17 provam o nosso livre-arbítrio. Que Deus conhece tudo é um fato que não pode ser negado. As passagens de São João 10:14; II Timóteo 2:19; Romanos 11:2; Salmo 139:4 e muitas outras, comprovam essa verdade. Mas esse conhecimento não pressupõe que nossa liberdade está sendo reprimida ou ignorada.
Paulo, em Romanos 8:29, usou a palavra grega Prognosko, que em português significa "presciência" ou "conhecer de antemão. Esse vocábulo formado do prefixo pró, antes de, diante de, e do verbo gnosko, "saber", conhecer é usado cinco vezes no Novo Testamento, ou seja, em Atos 26:5; Romanos 8:29; 11:2. I Pedro 1:20; II Pedro 3:17.
O substantivo predestinação não se encontra na Bíblia, mas o verbo predestinar é usado quatro vezes por Paulo (Romanos 8:29, 30; Efésios 1:5 e 11). Vamos ao texto de Romanos 8:29 - "Pois os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos."
O estudo do contexto das passagens nos leva à seguinte conclusão: os gentios, admirados por serem atingidos pelo evangelho, perguntaram: por que só agora lhes fora revelado esse privilégio? Paulo lhes diz que através de Cristo todos tinham sido predestinados para a salvação, inclusive eles também estavam incluídos nesse plano.
O Dr.Treyer em seu livro Epístolas del Nuevo Testamento declara: "Deus jamais teve outro destino para os seres humanos que o da salvação, em Sua presciência já conheceu adiantadamente a cada indivíduo e faz previsão antecipada para prover sua salvação. No entanto não força ninguém a aceitá-la. A Bíblia diz que esta depende da livre eleição pessoal."
O conhecimento antecipado de Deus não significa de maneira nenhuma que Ele influa no procedimento humano a ponto de condicionar a nossa vontade de forma arbitrária para salvação ou perdição. Crer de modo diferente é aceitar o fatalismo grego ou dos muçulmanos, mas sem nenhuma base bíblica.
O cristão sabe que é responsável por seus atos perante Deus (Romanos 14:10 a 12), sabe que tem livre-arbítrio para escolher o caminho do bem ou do mal, por isso não pode aceitar a doutrina calvinista de alguns serem predestinados para a vida eterna e outros para a morte eterna.
Outro comentário bíblico (The SDA Bible Commentary) assim se expressa a propósito de I Samuel 12:1: "O reino de Deus fundamenta-se no princípio do livre-arbítrio. O fato de que Deus conhece o fim desde o princípio de modo algum limita o homem em relação a suas próprias decisões."
Embora não saibamos explicar como, Deus conhece antecipadamente as livres decisões humanas, essa verdade bíblica é inegável: a presciência de Deus não impede o livre-arbítrio do homem.
Strong em sua Teologia Sistemática, páginas 284 a 286, e outros estudiosos apresentaram conceitos úteis sobre este assunto, merecendo ser destacados os seguintes:
1) Deus em Sua Soberania conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras.
2) A presciência por si só não é causativa... As ações livres não ocorrem por haverem sido previstas, mas são previstas porque ocorrerão.
O conhecer de antemão de Deus é vantajoso para o homem, proporcionando-nos uma sensação de alívio, desde que Ele usa esse conhecimento para o nosso bem.
FONTE: http://www.novotempo.org.br/radio/interno.asp?ARS=vocepergunta_perguntasok&VCP_Codigo=00000948