Quadrinhos: janela para uma sexualidade distorcida

A iniciativa está agregada ao contexto das histórias da Tina, reformuladas e voltadas atualmente para o público jovem adulto. Na 6ª edição da nova revista, surge um novo componente na trama, um rapaz conhecido como Caio, já definido como melhor amigo da Tina. Apesar do ciúme do namorado da moça, Tina e Caio se apressam em explicar que não têm nada, fora a amizade. Caio afirma até ser comprometido e aponta para outro rapaz! A história é maliciosamente intitulada "O triângulo da confusão". A notícia foi veiculada no G1.[1]
Recentemente, a Batwoman (distinta da Batgirl), outra personagem tradicional que entrou de vez no mundo GLS, foi definida como uma socialite que namora uma ex-policial.[2] A tendência aponta para o surgimento de novos personagens gays, tanto nos quadrinhos como nas telonas. Porém, como tudo isso começou?
Dos anos 1980 para cá, a sensualidade passou a desfilar nas histórias de super-heróis de forma aberta, a seguir desembocando em um erotismo bizarro, visível desde as roupas coladas que revelam as formas físicas das heroínas, até situações de coerção sexual, envolvimento erótico ou linguagem obscena. Em Watchmen (que voltou ao estrelato graças ao filme recente), por exemplo, não faltam referências a conflitos sexuais e constrangedores, como o momento em que o Comediante mata a sangue frio uma vietnamita que o feriu, ao vê-lo recusar-se a assumir o filho deles; ou a declaração de que o envolvimento do Dr. Manhattam com a jovem Spectral se deu quando a moça era adolescente, cabendo a acusação de pedofilia, feita dentro da trama por Janey Slater, ex-namorada de Manhattam.
Evidentemente, a década de 1990 viu uma exacerbação da sensualidade, principalmente promovida pela companhia Image Comics, fundada por artistas que fizeram fama nas gigantes Marvel e DC Comics - as quais, por sua vez, seguiram o "fluxo", promovendo uma considerável redução dos uniformes de suas heroínas. Um exemplo é a versão "turbinada" da Mulher-Maravilha, desenhada pelo brasileiro Mike Deodato Jr. O mesmo Deodato desenhou Glory (Image) e Elektra (Marvel).
Sendo que a distorção da sexualidade ganhou tanto espaço nos quadrinhos, não era de se estranhar que comportamentos sexuais não-convencionais figurassem nas suas páginas cobertas por nanquim. O que pode ser pior do ponto de vista da moralidade? É verdade que quadrinhos eróticos, como Valentina e Druuna, tiveram alcance sobre alguns leitores. De pior qualidade, apenas As Meninas Perdidas, criação de Alan Moore (o mesmo que idealizou os Watchmen), obra que defende toda e qualquer expressão sexual, inclusive a pedofilia e o sexo bestial (entre homens e animais).[3]
Nenhuma dessas obras, porém, teve alcance tão grande como as novas produções, que igualmente postulam a depravação moral, direta ou indiretamente. O acesso a esse material contamina a imaginação dos jovens e os acostuma ao prazer barato, em que o estímulo visual incentiva a pornografia, desconfigurando a beleza e complexidade do relacionamento sexual, por natureza entendido como ocorrendo entre gêneros complementares, ou, mais explicitamente, um homem e uma mulher. E ainda acham que os quadrinhos são inocente diversão para crianças...
Douglas Reis
[1] "'Interpretação depende do leitor', diz Mauricio de Sousa sobre personagem gay"
[2] Douglas Reis, "Santa Cássia Eller, Batman!"
[3] Omelete: entrevista com Alan Moore, disponível em (parte 1) e (parte 2).