Farol dianteiro
Os justos, e os sábios, e os seus feitos estão nas mãos de Deus; e, se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro. Eclesiastes 9:1
Quando o escritor e memorialista Pedro Nava completou 80 anos de idade, foi entrevistado por uma repórter, que lhe perguntou:
– Como é ter 80 anos?
– Não é grande coisa – respondeu Nava. – Melhor é ter vinte, como você.
– E toda essa experiência não é nada? – insistiu a repórter.
– A experiência é um farol na traseira do carro – contestou o escritor. – Só alumia para trás. Mostra onde você errou, onde acertou.
Nava estava querendo dizer que a experiência de toda uma vida não lança luz sobre o futuro. Oitenta anos de erros e acertos continuam inúteis no sentido de evitar futuros tropeções. Oitenta anos tateando nas trevas! Assim é a vida do ser humano, quando não tem um farol dianteiro a lhe guiar os passos.
No início de um novo ano, muitos adivinhadores apontam seus holofotes em direção ao futuro, tentando desvendar o que acontecerá no novo ano. Consultam orixás, bolas de cristal, cartas ou búzios, e saem a público, alardeando suas predições. Algumas delas eventualmente se cumprem, ou por acaso, ou porque Satanás os inspira a pronunciá-las, já que "pela experiência adquirida através dos longos séculos, ele pode raciocinar partindo das causas aos efeitos, e predizer muitas vezes, com certo grau de precisão, alguns dos acontecimentos futuros da vida do homem" (Patriarcas e Profetas, p. 687).
Pela observação do passado e do presente, é possível prevermos tendências e comportamentos, da mesma maneira como as empresas, baseadas nos dados passados e atuais, fazem projeções de vendas para os anos seguintes. E a margem de erro muitas vezes é pequena.
Não há nenhum inconveniente nisto. O que é condenado pela Palavra de Deus é o consultar espíritos familiares, pois a prática do ocultismo é abominação ao Senhor.
Por que repetir isso ao povo de Deus? Porque alguns consultam o seu horóscopo alegando que "geralmente dá certo". Outros o fazem movidos pela curiosidade. Devemos ser um povo sábio, não nos deixando enganar por aqueles que acreditam na influência dos astros sobre a vida humana.
O que precisamos saber está revelado na Palavra de Deus. Este é o único farol dianteiro que lança luz sobre o futuro.
Depressão
Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Salmo 43:5
Há um hino muito conhecido que diz: "Sempre alegre, sempre alegre é o viver do bom cristão" (Hinário Adventista, nº 219). Entretanto, a maioria dos cristãos que conheço, e entre os quais eu me incluo, não vive o tempo todo alegre, cantarolando e assobiando, como se a vida fosse um eterno mar de rosas.
Todos nós temos nossos momentos de aflição, dor e desânimo. E este fato também se acha expresso na letra de outros hinos que cantamos: "Dias turvos há em que busco em vão o semblante de meu Jesus" (375). "Quando te vêm tristezas, dores ao coração, olha com fé pra cima" (272). "Se amargas tristezas da vida curvarem-te a fronte em dor" (360). O hino 297 do Hinário Adventista fala nas "dores que a mim vêm assolar".
As estatísticas sobre depressão indicam que este é o mal do século 21. Os psicoterapeutas explicam que a falta de sono, combinada com uma dieta imprópria e falta de exercício, pode contribuir para a depressão. Mas as principais causas são de natureza psicológica, como solidão, estresse, sentimento de culpa, ira ou uma perda dolorosa, como falência, divórcio ou morte de um ente querido.
Nas Escrituras Sagradas encontramos pessoas devotas que sofreram de depressão. Davi, por exemplo, era músico talentoso, corajoso guerreiro e herói, aclamado pelas mulheres de Israel. Uma pessoa ilustre, popular, bem-sucedida como Davi, deveria ser imune à depressão. Mas é interessante notar que todas as causas de depressão mencionadas acima – solidão, estresse, culpa, ira e perda dolorosa – estavam presentes em sua vida.
Recapitulemos alguns fatos: Davi matou o gigante Golias com sua funda, tornando-se um herói popular, o que deixou o rei Saul com inveja. O irado rei procurou matar seu jovem rival. Davi precisou fugir pelos fundos de sua casa e ir para o deserto, perseguido pelo exército de Saul. Para completar sua desgraça, o rei tomou-lhe a bela esposa e a deu a outro homem.
Davi, que era recém-casado, entrou em depressão, o que é compreensível. E em meio às profundezas do desespero, clamou: "Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?" Mas apesar do desânimo, Davi se recusou a abandonar sua fé em Deus. Ele preferiu continuar confiando na providência divina, e no mesmo verso aponta a solução para si mesmo: "Espera em Deus, pois ainda O louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu" (Sl 43:5).
Qualquer que seja a nossa situação, também podemos encontrar refúgio nos braços amorosos de Deus e, mesmo nas horas mais sombrias de nossa vida, louvá-Lo pelo Seu poder para nos salvar.
Inversão de valores
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam. Mateus 6:19
Por ocasião do naufrágio do Titanic, uma senhora ocupou o seu lugar no bote salva-vidas que estava para ser baixado às águas encapeladas do Atlântico Norte. De repente, ela se lembrou de algo que iria precisar, de modo que pediu permissão para voltar ao seu camarote, antes que partissem. Deram-lhe três minutos. Se não voltasse nesse prazo, partiriam sem ela.
Ela correu pelo convés, que já se inclinava num ângulo perigoso. Atravessou o salão de jogo, com todo o dinheiro que havia rolado para um canto até à altura do tornozelo. Entrou em seu luxuoso camarote e rapidamente empurrou para o lado os anéis de diamante, braceletes e colares que possuía, a fim de pegar, na prateleira acima de seu leito, três pequenas laranjas. E voltou apressadamente para o bote.
Trinta minutos antes ela não teria trocado um engradado de laranjas pelo menor dos seus diamantes. Mas agora a morte estava a bordo do Titanic. E o seu trágico sopro havia transformado todos os valores. Instantaneamente, joias preciosas haviam se tornado sem valor. E coisas sem valor haviam se tornado preciosas. Naquele momento, ela trocaria uma caixa de diamantes por três pequenas laranjas.
Há eventos na vida que têm o poder de transformar a maneira como encaramos o mundo. Geralmente, quando nos acontecem tragédias inesperadas, como falência, perda de um ente querido, perda da saúde e da liberdade, é que nos damos conta dos verdadeiros valores. Foi com essa intenção que Jesus contou a parábola do Rico Insensato, o qual havia acumulado uma enorme soma de dinheiro que lhe permitiria viver muitos anos sem trabalhar – só comendo, bebendo e se divertindo. Queria desfrutar esta vida como se fosse viver para sempre. Mas Jesus o chamou de volta à realidade dizendo: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus" (Lc 12:20, 21).
Não é pecado ser rico. Abraão, Jó, Salomão, Nicodemos e outros personagens bíblicos eram muito ricos. E a Bíblia nada fala contra a riqueza desses homens. Na verdade, a Bíblia diz que Deus é quem nos dá forças para adquirirmos riquezas (Dt 8:18).
O grande problema desse fazendeiro era que, além de acumular riqueza só para si, ele não era rico para com Deus. Daí o conselho de Cristo a todos nós: "Mas ajuntai para vós outros tesouros no Céu" (Mt 6:20).
A porta estreita
Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Mateus 7:13, 14
Eu ainda era garoto, quando um dia, durante o culto familiar, meu pai leu o texto acima. Ele parou a leitura por uns momentos e comentou o que o texto dizia, isto é, que a salvação é difícil, e é um privilégio de poucos. Por outro lado, é muito fácil se perder, e é o que vai acontecer com a maioria das pessoas. Todos nós concordamos. Afinal, não foi o próprio Cristo que disse isto?
Cresci com essa ideia de que a salvação é difícil e é para poucos. É só para gente muito consagrada, dedicada inteiramente às coisas celestiais. Por outro lado, a perdição é um caminho espaçoso, ensaboado, ladeira abaixo e, uma vez que a pessoa caia nele, é muito difícil conseguir sair.
Hoje, no entanto, devo dizer que penso exatamente o contrário, isto é, que é fácil ser salvo. Difícil é se perder. Uma pessoa que me ajudou a mudar de ideia, foi o Dr. Raoul Dederen, que foi professor de teologia na Universidade Andrews. Ao entrevistá-lo, um dia, ele me disse que o sacrifício de Cristo na cruz foi tão grande, tão poderoso, que poderia ter salvo o Universo inteiro, e que para alguém se perder, precisa declarar que não quer ser salvo. Porque, quem cala, consente. Portanto, se você se cala, já está consentindo em ser salvo.
Então, pensei: "Preciso dizer isso aos meus pais." Um dia, ao visitá-los, mencionei essa ideia à minha mãe. Ela arregalou os olhos, e como se fosse a maior pecadora deste mundo, exclamou: "Mas, desse jeito, até eu posso ser salva!" E eu confirmei: "É isso mesmo, mãe. Desse jeito, até eu também posso ser salvo!"
Concordemos ou não com as palavras do Dr. Dederen, o fato é que Deus tomou todas as providências, para que aquele que crê, não pereça. Ele não quer "que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2Pe 3:9).
O preço pago pela nossa salvação foi muito alto, e Deus não deseja que apenas umas poucas pessoas se beneficiem do infinito sacrifício feito por Cristo. Portanto, desista da ideia de que é fácil se perder, pois Deus está decidido a salvar cada pessoa.
Mas se é assim, então o que quer dizer o texto de Mateus 7:13 e 14, mencionado no início? É simples: João 10:7 e 9 deixa claro que Jesus é essa porta estreita que poucos encontram. Se já aceitou Jesus como seu Salvador pessoal, você já achou a porta estreita, e está no caminho que conduz para a vida.
Escolhido para aplaudir
A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. 1 Coríntios 12:28
Um garoto chamado Jaime Scott se inscreveu para participar da apresentação de uma peça teatral em sua escola. Sua mãe revelou que ele havia colocado o coração nisso, mas ela temia que ele não fosse escolhido.
No dia em que as várias partes foram distribuídas, ela foi buscá-lo na escola. Quando a sineta tocou, no fim das aulas, Jaime saiu porta afora, ao encontro da mãe. Seus olhos brilhavam de orgulho e emoção.
– Adivinhe, mãe! – exclamou ele.
E ante o espanto da mãe, o garoto lhe disse com entusiasmo:
– Fui escolhido para bater palmas!
Que sabedoria tiveram as professoras ao dizer ao pequeno Jaime que ele não havia sido escolhido para representar no palco, mas para fazer a sua parte no auditório! E que humildade, da parte do garoto, em aceitar essa incumbência com alegria! Ele queria participar da peça, não importava como nem onde, e conseguiu. E estava feliz por isso.
A sociedade e a igreja precisam desses dois grupos de pessoas: os que vão à frente, falam e aparecem, e os que atuam na retaguarda, muitas vezes no anonimato, mas nem por isso são menos importantes. Porque realizam um trabalho de apoio, necessário aos que estão na linha de frente.
Imagine se todos atuassem como primeiro violino em uma orquestra! Ou se todos, num coral, cantassem a primeira voz. O fato é que alguém precisa ficar na retaguarda, e tocar contrabaixo, trompa, ou cantar barítono e baixo, para que haja contraste e os sons se completem.
Esta é a razão pela qual Deus concedeu diversidade de dons à igreja. Nem todos podem ser apóstolos. Nem todos são pregadores. Muitos poderão pertencer ao grupo de apoio, que muitas vezes trabalha no anonimato. Mas, sua obra é indispensável.
Que ninguém fique ressentido ou enciumado, pensando que seu trabalho não aparece ou não é reconhecido. Lembre-se do garoto que salvou a vida do apóstolo Paulo, mas o registro sagrado nem ao menos menciona o nome dele. Ele passou à história apenas como "o filho da irmã de Paulo" (At 23:16).
É possível que não apareçamos tanto quanto Pedro, nem brilhemos como Paulo. Mas há uma coisa que sempre podemos fazer: conduzir pessoas a Jesus.
Conhecedores da época
Da tribo de Issacar havia 200 chefes – todos eles eram homens que conheciam bem os fatos daquele tempo, e sabiam qual o melhor caminho para Israel seguir. 1 Crônicas 12:32, BV
O texto acima nos diz que os filhos de Issacar eram homens bem informados. E isto em uma época em que não havia rádio nem televisão. As notícias corriam de boca em boca, o que também é uma forma eficaz de comunicação.
E agora vem a segunda parte do texto: "E sabiam qual o melhor caminho para Israel seguir". Porque os filhos de Issacar eram bem informados, eles tinham melhores condições do que qualquer outra pessoa, de dizer o que Israel devia fazer, de apontar-lhes o caminho a seguir. E isto é verdade ainda hoje: um líder mal informado não deveria liderar nada, pois não tem condição de apontar aos liderados o caminho a seguir. Uma pessoa que está "por fora" dos acontecimentos não pode dirigir bem um país, uma empresa ou uma igreja.
Entretanto, é bom frisar que não só os líderes devem estar bem informados, mas cada membro da igreja. É inconcebível que nesta era de comunicação instantânea alguém não saiba das coisas.
Os discípulos de Cristo, dois milênios atrás, demonstraram interesse em conhecer os tempos, ao Lhe perguntarem: "Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da Tua vinda e da consumação do século" (Mt 24:3).
Em resposta, Cristo fez uma profecia que salvou milhares de vidas: "Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça a tirar de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa" (Mt 24:15-18).
A profecia de Daniel havia deixado claro que os exércitos romanos seriam o agente de destruição. Tal e qual Cristo havia predito, 35 anos mais tarde, o exército romano comandado por Céstio cercou Jerusalém. E começaram a lutar junto ao templo. Era o sinal para que os cristãos fugissem. Mas fugir como?
Foi então que se deu o livramento providencial. Sem a menor razão aparente, Céstio retirou-se. E quando os zelotes abriram os portões e se lançaram em perseguição aos romanos, os cristãos, que durante 35 anos haviam conservado na memória a profecia de Cristo e acompanhado os acontecimentos, entenderam que o momento predito havia chegado. E fugiram para os montes próximos.
Nenhum cristão morreu na destruição de Jerusalém. Porque se mantiveram atentos, comparando a palavra profética com o noticiário.
O que os outros vão dizer?
Replicou-lhes Pilatos: Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo? Seja crucificado! Responderam todos. Mateus 27:22
Eu tinha dez anos de idade, e havia concluído o antigo curso primário. A formatura fora marcada para alguns dias depois do término das aulas. No dia marcado, saí de casa malvestido, pensando que iria à escola apenas para buscar meu primeiro diploma. Estava de calças curtas e pés descalços.
Ao chegar à escola, a diretora olhou para mim e perguntou:
– Sua mãe sabe que você veio para a formatura vestido desse jeito?
– Não, ela não me viu sair.
Logo percebi que havia cometido um equívoco, pois todos os demais colegas estavam bem vestidos, e que a entrega do diploma seria uma solenidade pública e não particular, como eu havia imaginado. Passei vergonha quando o meu nome foi chamado, e tive de ir à frente receber o canudo.
Ao chegar em casa, minha mãe ficou horrorizada ao me ver.
– Você foi assim para a escola? – exclamou ela. – O que é que os outros vão dizer? Vão pensar que você não tem mãe!
Minha mãe se preocupava muito com a opinião pública, e ainda me soam aos ouvidos o que ela me disse inúmeras vezes: "O que é que os outros vão dizer?"
Devemos nos preocupar com a opinião alheia ou ignorá-la, vivendo nossa vida como bem nos parecer, indiferentes ao que os outros possam dizer ou pensar?
Não há dúvida de que a opinião pública é, muitas vezes, um tirano que não ousamos desafiar. A ditadura da moda é um exemplo. Muitas pessoas podem até não gostar dela, mas acabam adotando-a por medo de saírem à rua e serem consideradas antiquadas.
A Palavra de Deus descreve alguns personagens que sucumbiram perante a opinião pública e outros que a desafiaram. Pilatos foi um desses homens de caráter fraco que, embora convencido da inocência de Jesus, e até mesmo desejoso de libertá-Lo, acabou condenando-O à morte por exigência da multidão.
No extremo oposto vemos homens como Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que não aceitaram curvar-se perante a estátua de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor. Permanecendo eretos diante de Deus e de suas convicções, ousaram desafiar não só a opinião pública, mas o próprio decreto do rei.
Não está longe o dia em que cada filho de Deus terá de desafiar abertamente o mundo e suas imposições ecumênicas, para não transigir com a consciência. Que Deus dê a cada um, nessa hora, a coragem de Lutero, para enfrentar os seus opositores e declarar: "Não posso retratar-me. Aqui permaneço. Que Deus me ajude. Amém!"
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