Ande sempre armado
Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus. Efésios 6:17
O desespero era total. Desde o dia anterior, velhos, pessoas doentes, mulheres chorando, carregando crianças de colo, levando trouxas de roupas, comida e água para a viagem, tentavam fugir de qualquer maneira. Famílias inteiras lotavam os raros caminhões ou automóveis, que saíam em disparada rumo ao litoral. A ordem do prefeito era que quem estivesse desarmado deveria sair da cidade.
A estação ferroviária estava superlotada. Vagões de carga foram atrelados ao trem para que a multidão pudesse partir.
Retardatários, em lágrimas, imploravam um lugar para viajar. O movimento na estação durou a noite toda e só terminou na tarde do dia seguinte, quando foram ouvidos os primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta havia sido alcançada: a cidade estava deserta. Só haviam permanecido os homens encarregados da defesa.
Assim foi o dia 13 de junho de 1927, dia esse que ficaria para sempre registrado na história de Mossoró, no Rio Grande do Norte. E todo esse tumulto fora provocado por ninguém menos que o famigerado Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, conhecido como "O Rei do Cangaço", o qual havia enviado ao prefeito, o Coronel Rodolfo Fernandes de Oliveira, um bilhete exigindo a quantia de 400 contos de réis para não atacar a cidade.
O prefeito respondeu, dizendo que não tinha o dinheiro e que estava preparado para enfrentá-lo. Em seguida, mandou evacuar a cidade, e organizou a resistência. O bando de Lampião atacou Mossoró às quatro horas da tarde, do dia 13 de junho, e uma hora e meia depois, havia fugido, derrotado. Graças à coragem e ao preparo dos mossoroenses, muitas vidas foram salvas naquele dia.
O cristão também deve estar sempre preparado para enfrentar os inimigos visíveis e invisíveis. E a arma que ele deve empunhar e saber manejar com destreza é a Palavra de Deus, que é "mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb 4:12).
"Não é hora de o povo de Deus mostrar fraqueza. Não podemos deixar de ficar alerta um momento sequer" (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 42).
Ande sempre armado com a Palavra de Deus.
Quem diz o povo ser Jesus?
Indo Jesus para os lados de Cesareia de Filipe, perguntou a Seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? Mateus 16:13
Jesus é, sem dúvida, a figura mais controversa da História. Se perguntássemos ao povo, hoje, "quem foi Jesus?", obteríamos uma variedade de respostas: "Um celibatário", "um pacifista", "um líder guerrilheiro", "um político ingênuo", "um líder carismático", "um mágico", "um grande mestre".
Ele realmente deve ter sido um homem notável, para ser visto de tantas maneiras diferentes. Mesmo em Seu tempo, as opiniões a Seu respeito divergiam muito. Quando Cristo perguntou aos discípulos: "Quem diz o povo ser o Filho do Homem", eles responderam: "Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas" (Mt 16:14). O próprio Cristo disse que alguns O consideravam "um glutão e bebedor de vinho" (Lc 7:34).
Jesus abriu a discussão a Seu respeito porque o Seu tempo estava se esgotando. Logo Ele deveria "seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia" (Mt 16:21). Será que eles haviam entendido quem Ele era e qual Sua missão? Estavam os doze preparados para continuar a obra após Sua morte? Se ninguém houvesse entendido essas questões, a fé cristã não sobreviveria à Sua ausência.
Se Ele fosse considerado apenas um "Mestre vindo da parte de Deus" (Jo 3:2), ou um dos profetas ressuscitado dos mortos, Sua morte não teria maior significado do que a de qualquer outro grande homem.
Para que alguém encontrasse salvação na cruz do Calvário seria preciso, primeiramente, reconhecer que Aquele que estava pendurado na cruz não era outro senão o Filho de Deus, o Salvador do mundo, o Messias, o Cristo.
"Jesus, obviamente, sabia muito bem o que o povo pensava dEle. A razão dessa pergunta feita aos discípulos foi a de preparar-lhes a mente para a pergunta seguinte: o que eles próprios pensavam dEle" (SDA Bible Commentary, v. 5, p. 429).
O que pensa você de Jesus? A resposta é essencial, porque dela depende seu destino eterno. Amanhã retomaremos este tema.
Quem é Jesus para você?
Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Mateus 16:16
Analisemos, primeiramente, as respostas dos discípulos quanto à opinião do povo sobre a identidade de Jesus, o que não foi senão uma triste constatação de que, apesar das evidências, "os Seus" não O haviam reconhecido como o Messias anunciado nas profecias.
Uns diziam que Ele era João Batista, que havia ressuscitado dos mortos. Não era só Herodes que pensava assim (ver Mt 14:1, 2), mas muitos dentre o povo.
Outros diziam que Jesus era Elias. Ao considerá-Lo assim, o povo pensava estar enaltecendo Jesus, pois Elias era tido como o "príncipe dos profetas". E isto significava também que O consideravam como o precursor do Messias. Barclay diz que até o dia de hoje os judeus esperam o retorno de Elias antes da vinda do Messias, e ao celebrarem a Páscoa, mantêm uma cadeira vazia, pois quando Elias vier, o Messias não irá demorar.
E outros, ainda, afirmavam que Jesus era Jeremias. Várias lendas circulavam acerca de Jeremias. Acreditava-se que, antes de o povo ser levado para o exílio, Jeremias havia escondido a arca do concerto e o altar do incenso numa caverna do Monte Nebo, e que, antes da vinda do Messias ele retornaria, mostraria a arca, e a glória de Deus voltaria ao povo de Deus novamente (2 Macabeus 2:1-12). Ao considerar Jesus como Jeremias, o povo Lhe estava atribuindo a elevada posição de precursor do Messias.
Todas essas opiniões, no entanto, eram inadequadas, pois Jesus era o próprio Messias, e não o Seu precursor. Mateus apresenta uma sequência progressiva na compreensão que os discípulos e as multidões tiveram de Jesus, passando da admiração à adoração: "E maravilharam- se os homens, dizendo: Quem é este que até os ventos e o mar Lhe obedecem?" (Mt 8:27). "E as multidões se admiravam, dizendo:
Jamais se viu tal coisa em Israel" (9:33). "E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?" (12:23). "E chegando à Sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde Lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos?" (13:54). "E os que estavam no barco O adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!" (14:33).
"Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (16:16).
Admirar Jesus não é suficiente. É preciso adorá-Lo na beleza da Sua santidade. E reconhecê-Lo como "Senhor meu e Deus meu" (Jo 20:28). Só assim estaremos no caminho da salvação.
Alegorias e parábolas
Então, se aproximaram os discípulos e Lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Mateus 13:10
Na Bíblia há vários sistemas literários, como alegorias, parábolas, metáforas, hipérboles, provérbios, poesias e outros mais. Vamos ver os dois primeiros hoje.
Alegoria é um modo de expressão que apresenta um objeto para dar ideia de outro. Um exemplo disto se encontra no Salmo 80, onde Israel é comparado a uma videira do Egito. Essa muda tenra foi transplantada e deitou raízes na Terra Prometida. Isto ilustra como Deus trouxe o Seu povo do cativeiro egípcio e os levou para a Palestina, onde eles prosperaram e se multiplicaram. Em João 15 Cristo usa uma alegoria semelhante – a da videira e os ramos.
A parábola típica utiliza-se de um evento comum da vida natural para acentuar ou esclarecer uma importante verdade espiritual. As parábolas eram um dos sistemas de ensino preferidos por Cristo.
Em Mateus 13:10, 11, Jesus explicou aos discípulos por que falava por parábolas. O primeiro objetivo é revelar a verdade aos crentes. E o segundo é exatamente o oposto: ocultar a verdade daqueles que endurecem o coração contra ela. Vamos ver como as parábolas ajudam a compreender algumas verdades que Cristo queria que ficassem guardadas para sempre na memória.
Se Jesus tivesse dito: "Vocês devem ser persistentes em sua vida de oração", Seus ouvintes esqueceriam disso cinco minutos depois. Em vez disso, contou-lhes uma parábola, de uma viúva, que continuou rogando a um juiz iníquo que a ajudasse, até que o juiz, por fim, resolveu atender aos pedidos dela e fazê-la parar com as queixas (Lc 18).
Cristo, então, fez a aplicação da parábola: se um juiz injusto, que pouco se importa com uma viúva, pode ser levado a agir mediante súplicas persistentes, quanto mais um amorável Pai celestial responderá aos que são constantes em orar a Ele.
De igual modo, Cristo poderia ter dito: "Sejam humildes quando orarem". Em vez disso, contou-lhes a parábola do fariseu e do publicano, que subiram ao templo para orar (Lc 18:9-14). O orgulho ridículo do fariseu e a humildade do publicano ensinam a lição de Cristo de modo simples, mas inesquecível.
Através de Suas parábolas, Cristo tornou o reino de Deus compreensível aos humildes de coração. E delas emerge a grande verdade: se você se sente à vontade com o reino de Deus aqui e agora, também o sentirá durante a eternidade. E a recíproca é verdadeira.
Coando mosquitos e engolindo camelos
Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo! Mateus 23:24
Hipérbole é uma figura de linguagem que engrandece ou diminui exageradamente a verdade. Os latinos, por natureza, são hiperbólicos, e usam com frequência expressões como: "Já falei um milhão de vezes", "há séculos espero por esta oportunidade", "chorou rios de lágrimas", "ele não corria, voava".
Todos nós sabemos que essas expressões não podem ser interpretadas literalmente. Os orientais também usam amplamente essa figura em seu linguajar diário. Como Cristo falava a linguagem do povo, em várias ocasiões usou hipérboles, para ensinar de modo enfático Suas preciosas lições. E trabalhava muito em cima de coisas absurdas, que se tornavam engraçadas e inesquecíveis para o povo comum.
Certa vez, Cristo Se referiu à incoerência dos fariseus, que eram excessivamente minuciosos e exatos em dizimar suas hortaliças, mas faziam vista grossa para com os preceitos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fé. E Cristo denunciou tal incoerência, chamando-os de "guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!"
É interessante notar que a hipérbole está apenas na última parte do versículo, que se refere ao camelo. A primeira parte é literal, pois os fariseus, antes de beber água, literalmente coavam os mosquitinhos que caíam na água, provavelmente passando uma peneira ou pano fino para retirá-los, para não transgredir a lei mosaica, que os proibia de comer animais imundos (Lv 11:23).
A multidão, ao ouvir isto, deve ter-se divertido bastante, imaginando um fariseu tentando engolir um camelo. E qual a lição que Cristo queria ensinar com tal figura? Que eles eram incoerentes – por um lado tinham excessivo zelo em observar os mínimos detalhes da Lei, mas, por outro, negligenciavam os seus grandes e mais importantes preceitos. Eles não tinham senso de proporção das coisas.
O mesmo espírito existe ainda hoje, pois não há nada mais fácil do que observar as exterioridades da religião, mas ser totalmente irreligioso. Muitos crentes frequentam assiduamente os cultos da igreja, são exatos na doação dos dízimos, mas não conseguem controlar o temperamento, são desonestos no trabalho, ou maltratam o cônjuge e os filhos em casa.
Precisamos ter senso de proporção das coisas, para não confundir observâncias religiosas com a verdadeira devoção. E isto só será alcançado quando Cristo reinar supremo no coração.
Os absurdos de Cristo
Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Mateus 7:3
Creio que Cristo foi o inventor do método audiovisual, o qual envolve som e imagem. Como em Seu tempo não havia projetores de slides, DVDs e gravadores, Ele falava de tal modo que o povo, ao ouvir, criava na própria mente as imagens. E assim, as lições de Cristo se tornavam inesquecíveis.
Certa vez, um pai de família estava lendo o capítulo 7 de Mateus, no culto familiar, quando, sem razão aparente, o filho menor, de quatro anos, desatou a rir. O pai o repreendeu, dizendo-lhe que o culto era um momento sagrado e, portanto, não era hora de rir. Mas o menino, mal podendo se conter, explicou que achara engraçado o texto que o pai acabara de ler. O pai releu o texto e descobriu que, de fato, a passagem continha uma boa dose de humor, que ele jamais havia percebido: "Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?"
As crianças alegres reconhecem facilmente o caráter absurdo de qualquer coisa, e as coisas absurdas as fazem rir. E aí estava algo duplamente absurdo: um indivíduo com um poste atravessado no olho, procurando um cisco no olho de seu irmão. Com tal ilustração vívida, as multidões jamais se esqueceriam da lição que Cristo quis ensinar: ninguém deve julgar o outro. Só quem estiver sem pecado tem o direito de procurar faltas nos outros.
Outro absurdo explorado por Cristo: "Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz" (Lc 8:16).
Nesta passagem há também um duplo absurdo. O primeiro, é que um lampião debaixo de uma cama não ilumina a sala; e o segundo é que, pelo fato de ele ter uma chama viva, certamente queimaria o colchão.
Há, portanto, um toque de humor nesse exemplo, através do qual Cristo ensinou que nenhum mistério ou segredo importante para a salvação deve ser ocultado daqueles que se dispõem a ouvir.
Já dissemos que as crianças se divertem mais facilmente do que os adultos, pois são capazes de reconhecer mais prontamente o caráter absurdo de certas coisas. E se reconhecermos que Cristo era um homem bem humorado, descobriremos uma profundeza ainda maior em Sua afirmação de que "quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele" (Mc 10:15).
Que Deus conserve em nós o espírito inocente de uma criança, que é um traço de todo herdeiro do reino.
Literalismos e simbolismos
Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. João 6:54
A quantidade de religiões cristãs existente hoje se deve em grande parte a diferenças de interpretação do texto bíblico. E uma dessas dificuldades é saber quando o texto é simbólico e quando é literal. Contudo, esse não é um problema novo. Muitas pessoas que viveram na época em que o texto bíblico foi escrito ou em que certas expressões foram proferidas não entenderam o seu real significado.
Quando Cristo disse que seria capaz de reconstruir o templo em três dias, os judeus responderam: "Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e Tu, em três dias o levantarás? Ele, porém, Se referia ao santuário do Seu corpo" (Jo 2:19-21).
Quando Cristo disse a Nicodemos que "se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo 3:3), Nicodemos emprestou sentido literal a essas palavras: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?" (Jo 3:4).
Por ocasião da última Ceia, Cristo disse, ao repartir o pão e o vinho: "Tomai, comei; isto é o Meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue" (Mt 26:26-28). Jesus não estava ensinando, com estas palavras, que o pão se convertia em Seu corpo e o vinho em Seu sangue, como ensina a doutrina da transubstanciaçã o.
Mas de todas as expressões de Cristo, a que mais chocou os judeus de Seu tempo, e os próprios discípulos, foi a seguinte: "Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6:54).
Os literalistas ficaram horrorizados. Essa declaração de Cristo parecia canibalismo. Comer Sua carne e beber Seu sangue? Não, não. Não se pode entender e muito menos aceitar o que este Homem está dizendo.
A Lei mosaica proibia o uso de sangue como alimento. Mas se os judeus tivessem se lembrado que a razão dada para tal proibição é o fato de que "a vida está no sangue", eles talvez tivessem compreendido que "comer a Sua carne e beber o Seu sangue" significa apropriar-se de Sua vida pela fé. Significa recebê-Lo como Salvador pessoal, crendo que Ele perdoa os nossos pecados.
Como saber se o texto bíblico deve ser interpretado literal ou simbolicamente? (1) Através da própria Bíblia, pois ela é o seu próprio intérprete (Is 28:10); (2) Com o auxílio do Espírito de Profecia; (3) Utilizando comentários bíblicos autorizados.
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