Palavras... nada mais do que palavras.

Neste último fim-de-semana praticamente todos os noticiários apresentaram a manchete de uma atendente de loja nos Estados Unidos, que evitou um assalto após falar de Jesus para o ladrão (veja aqui).
O ladrão realmente desistiu de assaltar a moça, que disse ser evangélica. Segundo ele, o motivo do assalto era porque estava para ser despejado, e precisa de US$ 300 para pagar o aluguel.
Algumas horas depois o ladrão foi preso, após tentar assaltar outra loja.
Sermão resolve?
Eu ouvi pessoas dizendo: "Tá vendo? Ladrão é assim mesmo!" ou "Não aproveitou a oportunidade de salvação, e acabou sendo preso".
Mas eu gosto de pensar "nos dois lados". Tenho adquirido o hábito de tentar me colocar no lugar "do outro", para entendê-lo.
Aquele rapaz não estava precisando de um sermão, mas sim de US$ 300. É claro que isso não justifica seu erro, mas será que a jovem não poderia ter feito "algo mais"? Ela não poderia ter "andado a segunda milha"? Quem sabe ter ligado para algum empresário membro de sua igreja, para emprestar o dinheiro ao rapaz... ou ter feito uma consulta às Dorcas ou ADRA de sua igreja local... Será que o papel dela era apenas o de pregar? Falar de Jesus? O ladrão saiu com a consciência pesada por quase ter feito algo de errado, mas será que ao virar a esquina não deu de cara com o proprietário da sua casa, perguntando: "e ai, já arranjou o dinheiro? Lembre-se que você só tem até hoje..."?
Recordo-me que Jesus não Se limitava a "pregar"... Ele também Se preocupava em satisfazer as necessidades dos Seus ouvintes. Lembra da primeira multiplicação dos pães? Os discípulos (nós) achavam que a pregação por si já estava de bom tamanho, mas qual foi a atitude de Jesus?
"Ao cair da tarde, vieram os discípulos a Jesus e lhe disseram: O lugar é deserto, e vai adiantada a hora; despede, pois, as multidões para que, indo pelas aldeias, comprem para si o que comer. Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se; dai-lhes, vós mesmos, de comer" (Mateus 14:15-16).
Viram como nós, os discípulos, somos muito insensíveis às necessidades dos nossos "irmãos"?! A gente tem uma forte tendência a achar que nossa parte é pregar, falar de Jesus. Quem não quiser aceitar, que se vire!
Mas cada vez que tiro tempo para refletir sobre a maneira de Jesus agir, eu fico mais convicto do quanto os Seus discípulos do passado e os de hoje O compreendem mal.
Na mente dos que ouviram as palavras de Jesus naquela multiplicação miraculosa, uma profunda impressão deve ter ficado. Anos depois, Tiago escreveu sua epístola e fez questão de "detalhar" aquilo que Jesus lhes havia ensinado:
"Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tiago 2:15-16).
Fico imaginando como seria o nosso mundo se os bilhões que professamos o Cristianismo fizéssemos nossa parte!
Ainda haveriam crianças nos orfanatos?
Existiriam famintos nas nossas cidades?
Teríamos irmãos morando de aluguel, enquanto nós gastamos no luxo para ornamentar as nossas moradias?
Haveria falta de sangue nos hospitais (ou será que nossa "obrigação" se resume às fantásticas manifestações em eventos jovens durante a Semana do Calvário)?
Os políticos que se auto-intitulam de cristãos (e até de Adventistas!) seriam vistos nos noticiários policiais?
Seríamos tão frios e insensíveis diante de tanto sofrimento e miséria que devasta a vida de milhões de pessoas que cruzam nosso caminho todos os dias?
Deixa eu parar por aqui... senão vai ficar parecendo que o Cristianismo verdadeiro é uma utopia.
E eu ainda acredito que não é.... Ele é real!