quinta-feira, 9 de junho de 2011

Lição 09 - Um tição tirado do fogo - Lição - Auxiliar - Comentários - Casa Publicadora Brasileira

Lição 9

21 a 28 de maio


Um tição tirado do fogo

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A Lição em resumo

Texto-chave: Zacarias 3:1-7

O aluno deverá...
Saber: Descrever os seguintes personagens: Josué, o acusador, o Anjo do Senhor, Seus assistentes e cada um de seus papéis em Zacarias 3 no decorrer do drama da restauração.
Sentir: Identificar-se com os sentimentos do sumo sacerdote Josué, acusado, com vestes sujas, e como ele se sentiu ao se encontrar vestido com roupas limpas.
Fazer: Aceitar as vestes sacerdotais limpas que o Anjo do Senhor fornece, e andar nos Seus caminhos.

Esboço
I. Saber: Imundo no tribunal
A. Onde se encontrava o sumo sacerdote Josué? Qual era o preparo dele para enfrentar seu acusador?
B. O que Josué fez para merecer a roupa nova? O que ele foi chamado a fazer depois que foi vestido com roupas limpas, providas pelo Anjo?

II. Sentir: Roupas limpas e novas
A. Como nos sentiríamos se nos encontrássemos no tribunal com as roupas sujas, acusados de todos os pecados que cometemos?
B. Como nos sentiríamos se essas roupas arruinadas fossem descartadas e fôssemos vestidos com as vestes sacerdotais de Deus?

III. Fazer: Vestidos por Deus
A. O que se espera que façamos por termos sido tirados do fogo, depois que nossa roupa suja foi removida e nos foi oferecida uma nova roupa?

Resumo: O sumo sacerdote Josué encontrava-se em um tribunal com as vestes sujas, acusado de todos os seus pecados. Seu juiz, em vez de baixar uma sentença, removeu suas roupas sujas e o revestiu com roupas limpas, e depois, o chamou à obediência.


Sábado à tarde

Ano Bíblico: 2Cr 34–36

VERSO PARA MEMORIZAR: "Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de finos trajes" (Zc 3:4).

Leitura para o estudo desta semana: Zc 1-3; Ap 12:10; Êx 3:2-14; Ef 2:8-10; João 14:15

Embora seja fácil esquecer, o grande conflito entre Cristo e Satanás é a suprema força motriz por trás da realidade. Guerras, crime, violência e todo o caldeirão fervente e agitado da tragédia humana são apenas manifestações superficiais do conflito subjacente, que começou no Céu (Ap 12:7), uma luta universal que afeta não apenas os seres humanos, mas toda a criação (Rm 8:20-22).

Uma coisa, porém, nunca devemos esquecer: o grande conflito não é sobre o petróleo do Oriente Médio nem sobre as notáveis mudanças geopolíticas na hegemonia econômica e militar. É sobre a salvação da humanidade, uma pessoa de cada vez. Nações vêm e vão, estruturas de poder vêm e vão, os grandes temas da história e da ideologia vêm e vão; mas somente os salvos, cobertos pelo manto da justiça de Cristo, permanecem para sempre. Satanás não está preocupado simplesmente com dinheiro, poder e política; ele se preocupa com as pessoas; seu alvo é arruinar com ele tantos quantos seja possível. Por Sua morte, Cristo pode salvar a todos da destruição. A essência do grande conflito é, no âmago, pessoas escolhendo a ruína eterna ou a vida eterna. Todo o resto é, essencialmente, insignificante.


Domingo

Ano Bíblico: Ed 1–3

Zeloso por Jerusalém

1. Leia Zacarias 1 e 2 e responda: Em meio a todos esses símbolos, qual é a mensagem do Senhor? Que princípios bíblicos claros são vistos no texto? Como esses princípios se manifestam hoje? Que promessas são feitas e quais são as condições?

1: Restauração de Jerusalém, reconstrução do templo e prosperidade; arrependimento; Deus restaura.

Embora Jerusalém estivesse em ruínas, porque havia sido conquistada por Babilônia 70 anos antes, Deus proveu esperança para o futuro da cidade. Zacarias recebeu a mensagem do Senhor de que não só o templo, mas Jerusalém seria reconstruída. Zacarias começou declarando aos seus ouvintes que o Senhor tinha ficado ofendido, "indignado", com seus pais. Mas Zacarias imediatamente encorajou os ouvintes, assegurando-lhes que, se eles se voltassem para Deus em humildade e arrependimento, Ele Se voltaria para eles (Zc 1:1-3). As visões de Zacarias eram destinadas a dar força e inspiração, para que continuassem edificando o templo em Jerusalém, para a adoração a Deus.

Após a primeira visão de Zacarias, narrada no capítulo 1, o Senhor deu um incrível encorajamento, dizendo: "Com grande empenho, estou zelando por Jerusalém e por Sião"; e ainda: "Portanto, assim diz o Senhor: Voltei-Me para Jerusalém com misericórdia; a Minha casa nela será edificada, diz o Senhor dos Exércitos, e o cordel será estendido sobre Jerusalém" (Zc 1: 14, 16).

O homem com o cordel representava os planos para a reconstrução da cidade de Jerusalém e do templo na época de Zacarias. Mas apenas com os alicerces, a edificação do templo parecia ser uma impossibilidade.

Pouco antes da visão de Zacarias sobre as vestes imundas de Josué, ele recebeu uma mensagem de esperança para comunicar aos judeus, registrada em Zacarias 2:10-13. Deus lhes disse: "Cante e alegre-se" (v. 10, NVI); depois prometeu viver com eles. Como essa mensagem deve ter sido animadora, nesse momento em que o povo de Deus tentava se reunir para adorá-Lo!


Segunda

Ano Bíblico: Ed 4–6

O acusador e o acusado

"Depois disso Ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do anjo do Senhor, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo (Zc 3:1, NVI).

2. Que grandes e importantes verdades são reveladas no texto acima, especialmente no contexto do grande conflito (e no contexto imediato da visão)?

2: Satanás acusou Josué; ele quer nos afastar da obra de Deus, mas Jesus nos purifica com Seu sangue.

Alguns pontos cruciais são representados poderosamente. Primeiro, o único acusado era Josué, o sumo sacerdote, que representava todo o povo de Deus. Descrito na visão como um sacerdote diante do Senhor, Josué representava Israel em todas as suas faltas, defeitos e pecados. Não havia dúvida: o povo não era inocente, não era impecável, e não merecia a restauração prometida, que o Senhor lhes estava oferecendo, pela qual eles estavam suplicando, pela fé e pelo arrependimento.

E, naturalmente, Satanás estava ali para acusá-los, para questionar seu arrependimento, seu desejo de reforma e de encontrar a misericórdia e a graça de Deus. Haverá melhor maneira de desencorajar as pessoas no grande conflito do que levá-las a pensar que seus pecados são grandes demais para que o Senhor as possa perdoar? Ao longo da história, e mesmo hoje, quantas pessoas têm se tornado vítimas desse perverso engano de Satanás! O que torna a ameaça tão poderosa é que ele não precisa mentir acerca de nossos pecados, certo? Tudo o que ele tem que fazer é nos lembrar deles e, sem conhecer a graça de Deus, seremos esmagados pelo senso de desespero e perdição. Mesmo sem um acusador para lançá-los diante de Deus, nossos pecados são mais que suficientes para nos condenar.

O verbo hebraico traduzido nesse caso como "acusar" dá origem também à palavra "Satanás"; são as mesmas três consoantes hebraicas que formam a base para ambas as palavras. Sem dúvida, Satanás é o acusador, mas todos devemos conhecer o famoso texto: "Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus" (Ap 12:10).

Embora não seja bom pensar em nossos pecados, às vezes precisamos examinar atenta e honestamente a nós mesmos (não importando se Satanás está ou não sussurrando em nossos ouvidos). Que mudanças devemos fazer imediatamente, e que promessas bíblicas podemos clamar, a fim de alcançar a vitória? O que estará em jogo, se o pecado dominar a nossa vida?


Terça

Ano Bíblico: Ed 7–10

O Anjo do Senhor

Até agora, em Zacarias 3, nossa atenção se concentrou em dois personagens, Satanás e o sumo sacerdote Josué. Mas há um terceiro personagem, evidentemente a figura central na narrativa: "o Anjo do Senhor".

3. Quem é o "Anjo do Senhor?" Êx 3:2-14; Zc 3:1, 2

3: Jesus Cristo.

O que vemos ali, de forma vívida, é uma miniatura do grande conflito, uma batalha travada sobre cada pessoa que colocou a vida nas mãos de Jesus, o Senhor, em fé e arrependimento. Lembre-se do contexto: Sendo severamente castigados, os israelitas "se humilharam perante Deus e a Ele volveram com arrependimento verdadeiro" (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 468). Foi nesse momento que a obra de Satanás como acusador foi revelada. Qual foi exatamente a acusação, não nos é dito, mas dada a história bíblica, e tendo em conta o que sabemos sobre a natureza humana, seguramente não foi um quadro bonito.

4. Leia Zacarias 3:1-3. O que nos diz a realidade das vestes de Josué?

4: Eram roupas impuras; significa que a pessoa estava impura.

O fato de Josué, o sumo sacerdote, ter sido considerado uma pessoa que vestia roupas imundas só destaca a profundidade do pecado. Desde o começo da aliança entre Deus e Israel, o sacerdócio como um todo, os levitas e, especialmente, o sumo sacerdote, eram especiais, mesmo no meio da nação eleita, chamada pelo Senhor para um papel e função únicos em Israel, um papel e função santos
(Êx 38:21;
Nm 1:47-53; 3:12). Entre todos os israelitas, eles deveriam ter permanecido, simbolicamente, com as roupas mais limpas.

Colocando tudo isso de lado, o restante do capítulo torna claro que, apesar de seu passado e de suas falhas, o "Anjo do Senhor" está ali para defendê-los das acusações de Satanás, independentemente de saber se as acusações são verdadeiras ou falsas. "O Anjo do Senhor", Jesus, está ali para salvar e redimir. Essa é, sem exceção, a verdade mais importante em todas as Escrituras.

Apesar de nossa indignidade, é crucial que nunca esqueçamos o papel do "Anjo do Senhor" em nosso favor. Como podemos manter essa verdade diante de nós em todos os momentos, e ainda não nos iludirmos, tirando dela falsas conclusões? Quais seriam algumas dessas falsas conclusões? Comente sua resposta com a classe.


Quarta

Ano Bíblico: Ne 1–4

Troca de roupas

5. Leia Zacarias 3 com oração e atenção; considere as etapas do processo. Embora pecadores, é dessa forma que o povo de Deus é salvo. O que você pode aprender sobre o plano de salvação através dessa visão?

5: Josué ficou imundo em seus pecados, Satanás o acusou, o Anjo o perdoou e defendeu, e ele recebeu trajes finos.

Nos versos 3 a 5, antes que as roupas novas fossem colocadas em Josué, as sujas foram removidas. O Senhor explicou a Josué o significado dessa troca de roupas: "Tirei de você o seu pecado" (v. 4, NVI). O que, entretanto, isso significa na vida da pessoa redimida? Josué agora era impecável, perfeito no coração e na mente, sem possibilidade de cair ou pecar novamente? Era essa a condição que Josué tinha que alcançar antes que as roupas novas fossem colocadas nele? Se fosse assim, teríamos alguma esperança?

Em vez disso, o significado é que a culpa e condenação de Josué haviam sido tiradas. Falando sobre a experiência de Josué, Ellen White disse: "Foram perdoados os seus próprios pecados e os do povo. Israel vestiu 'vestidos novos' – a justiça de Cristo imputada a eles. A mitra colocada sobre a cabeça de Josué era como a que usavam os sacerdotes, e trazia a inscrição: 'Santidade ao Senhor' (Zc 14:20, RC), significando que, não obstante suas transgressões anteriores, ele se achava agora habilitado a ministrar perante Deus em Seu santuário" (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 469.

6. O que "o Anjo do Senhor", disse a Josué no verso 7, após a troca de roupas, e por que essa ordem é tão importante? Zc 3:7

6: Deus ordenou que ele fosse obediente, para que pudesse ministrar como sacerdote.

Foi somente depois de ter recebido os trajes especiais que Josué recebeu a exortação de obedecer ao Senhor e andar em Seus caminhos. Esse ponto não deve ser ignorado: a justiça de Cristo lhe foi concedida pela fé, e foi creditada à parte de sua caminhada nos "[Seus] caminhos" ou da obediência aos "[Seus] preceitos". Os mandamentos vieram depois porque, se tivessem vindo antes, não teriam sido de nenhum proveito. Se [Josué] não tivesse sido vestido com esses "finos trajes" (Zc 3:4), todos os seus esforços não o teriam deixado com traje diferente das roupas sujas que ele trajava no começo.


Quinta

Ano Bíblico: Ne 5–8

"Uma defesa eficaz"

No mundo do cristianismo, muitas pessoas não experimentaram o manto da justiça e não compreendem seu potencial. No entanto, esse conceito é absolutamente vital para quem deseja paz e alegria em seu relacionamento com o Senhor. Muito frequentemente há uma motivação para fazer o bem, para que "possamos ser salvos". Mas a mensagem de Zacarias deve nos mostrar que as coisas não funcionam assim, nem poderiam funcionar. Novamente, sobre o que estava acontecendo nessa visão, Ellen G. White diz:

"Conquanto devamos reconhecer nosso estado pecaminoso, temos de confiar em Cristo como nossa justiça, nossa santificação e redenção. Não podemos contestar as acusações de Satanás contra nós. Cristo, unicamente, pode pleitear eficazmente em nosso favor. Ele é capaz de silenciar o acusador com argumentos baseados, não em nossos méritos, mas nos Seus" (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 472).

Esta última frase deveria ser gravada no coração de todo o povo de Deus, uma verdade que devemos conhecer não apenas intelectualmente, mas por experiência, aprendendo a confiar momento a momento, somente nos méritos de Cristo, não em nossas boas obras, não importando quão boas elas tenham sido realmente. Ou, colocando nas palavras de Davi: "Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto" (Sl 32:1).

7. Tendo em mente o que temos visto em Zacarias 3, leia Efésios 2:8-10, João 14:15 e Romanos 6:1-4. Como esses versos se relacionam com a visão de Zacarias sobre os "finos trajes"?

7: Josué foi salvo pela fé na graça, para guardar os mandamentos de Deus, vivendo em novidade de vida.

Após Josué ter sido revestido com as vestes da santidade, sua vida deveria refletir essa santidade. Devemos exercer todo o poder concedido por Deus, para que possamos vencer o pecado. Quando há tantas promessas de vitória aos que se entregarem a Cristo, nenhum pecado deve ser tolerado ou desculpado em nossa vida. A vida de Cristo provou que podemos viver em obediência à lei de Deus. Quando pecamos, é porque escolhemos fazer isso. É muito importante que sempre pensemos, longa e detidamente, nas implicações dessa escolha.

Quais são os pecados contra os quais você luta, principalmente? Que promessas de Cristo você pode suplicar, para que possa vencer esses pecados?


Sexta

Ano Bíblico: Ne 9–11

Estudo adicional

Leia de Ellen G. White, The SDA Bible Commentary, v. 4, p. 1092, 1093; Profetas e Reis, p. 582-592: "Josué e o Anjo"; Parábolas de Jesus, p. 169, 170: "A Fonte do Poder Vencedor"; Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 467-476: "Josué e o Anjo".

Quando Satanás tenta denegrir os filhos de Deus e arruiná-los, Cristo Se interpõe. Embora tivessem pecado, Cristo tomou sobre Seu próprio ser a culpa de seus pecados. Arrebatou a humanidade como um tição do fogo. Pela natureza humana, Ele está ligado ao homem, enquanto, pela divina, é um com o infinito Deus. É posto auxílio ao alcance das pessoas que estão à beira da morte. O adversário é repreendido... A despeito das faltas do povo de Deus, Cristo não abandona o objeto de Seu cuidado. Tem poder para mudar-lhes as vestes. Remove as vestes imundas, envolve com Seu manto de justiça os crentes e arrependidos, e, junto a seus nomes, escreve nos relatórios do Céu o perdão" (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 169, 170).

"Quando o povo de Deus aflige o coração perante Ele, suplicando pureza de coração, é dada a ordem: "Tirai-lhe as vestes sujas", e são ditas as encorajadoras palavras: "Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade, e te vestirei de finos trajes" (Zc 3:4). As vestes imaculadas da justiça de Cristo são postas sobre os tentados, provados e fiéis filhos de Deus. O desprezado remanescente está vestido de vestes gloriosas, para não mais ser aviltado pelas corrupções do mundo" (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 591).

Perguntas para reflexão:
1. Pense mais no fato de que foi somente após a troca de roupas que Josué recebeu a ordem de obedecer. Por que é tão importante se lembrar disso? O que isso nos diz sobre a base da nossa salvação? Em contraste com isso, quais são os resultados da salvação? Por que devemos sempre entender a diferença?
2. Pense na boa notícia de que, independentemente de quanto nossas vestes tenham sido sujas, podemos receber roupas totalmente novas. O que isso deveria significar em sua própria vida, em suas atitudes e no seu jeito de ver o mundo?

Respostas sugestivas:
1: Restauração de Jerusalém, reconstrução do templo e prosperidade; arrependimento; Deus restaura.
2: Satanás acusou Josué; ele quer nos afastar da obra de Deus, mas Jesus nos purifica com Seu sangue.
3: Jesus Cristo.
4: Eram roupas impuras; significa que a pessoa estava impura.
5: Josué ficou imundo em seus pecados, Satanás o acusou, o Anjo o perdoou e defendeu, e ele recebeu trajes finos.
6: Deus ordenou que ele fosse obediente, para que pudesse ministrar como sacerdote.
7: Josué foi salvo pela fé na graça, para guardar os mandamentos de Deus, vivendo em novidade de vida.


FONTE: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2011/li922011.html


Ciclo do aprendizado

Motivação
Conceito-chave para o crescimento espiritual: A purificação dos seres humanos pecaminosos é uma obra que Deus faz por meio de Jesus Cristo e pelo poder interior do Espírito Santo. Os seres humanos não podem acrescentar coisa alguma a esse processo, a não ser a submissão da vontade.
Só para o professor: Se possível, imprima imagens da devastação deixada pelo tsunami de dezembro de 2004 no Oceano Índico. Mostre à classe ao contar a história abaixo. O objetivo dessa ilustração é dar aos alunos a dimensão do desafio que enfrentamos para corrigir nossos pecados.

[Revista Geológica dos Estados Unidos], em 26 de dezembro de 2004, duas placas tectônicas, nas profundezas do Oceano Índico, produziram uma ruptura de 975 quilômetros na superfície da Terra, deslocando o fundo do mar tanto vertical como horizontalmente. O resultado foi um terremoto da magnitude 9.0, o mais forte em 40 anos sob o Oceano Índico, perto da costa ocidental da ilha indonésia de Sumatra.

O violento terremoto deslocou mais de 1 trilhão de toneladas de água e enviou ondas de choque em direção ao litoral de Sumatra com a velocidade de um jato. Um sistema inadequado de aviso deixou a Ásia à mercê do tsunami. Até o fim do dia, mais de 150 mil pessoas haviam morrido e milhões estavam desabrigadas em 11 países atingidos pelas ondas gigantescas.

Que força seria necessária para conter um desastre natural dessa magnitude? O pecado é tão mortal e desastroso quanto um desastre desses. E está além da capacidade humana interrompê-lo. Só Deus pode conter sua destruição ou até mesmo revertê-la.

Pense nisto: A maré do pecado humano não é diferente de um tsunami. Quais são algumas das maneiras pelas quais os seres humanos tentam resolver os próprios pecados? Será que funcionam? Por que não? Que acontece com o coração humano a cada falha? Será que nossos esforços não deformam nossa visão de Deus? Como isso acontece?

Comentário Bíblico

Compreensão

Só para o professor: O objetivo desta seção do comentário bíblico é examinar a realidade dos erros de Israel e Judá no passado à luz da disposição de Deus para Se reconciliar com o pequeno remanescente acusado de reconstruir o templo em Jerusalém. Zacarias levantou o passado de Israel, a fim de levá-lo a se concentrar no futuro brilhante que já existe com Deus.

I. Vislumbres do passado
(Recapitule com a classe
Zc 1, 2; 2Rs 17:7-17; Dt 28:63.)
O estudo de domingo fornece o predicado para o surpreendente ato de amor de Deus, anunciado com a visão de Josué em
Zacarias 3. O profeta lembra o remanescente israelita que Deus estava extremamente descontente com seus antepassados, e isso O levou a castigá-los, "porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe" (Hb 12:6, NVI).

A breve menção que Zacarias faz do desagrado de Deus não descreve com exatidão a medida dos pecados que Israel e Judá tinham cometido contra Deus. Eles "temeram a outros deuses" (2Rs 17:7), "andaram nos estatutos das nações que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel" (v. 8), "levantaram para si colunas e postes-ídolos, em todos os altos outeiros e debaixo de todas as árvores frondosas" (v. 10), "queimaram... incenso em todos os altos" (v. 11), "serviram os ídolos" (v. 12) e, quando Deus lhes enviou advertências por meio de Seus profetas (v. 13), eles "se tornaram obstinados, de dura cerviz" contra Deus (v. 14).

Terríveis como fossem esses pecados, o povo de Deus foi ainda mais longe. Os israelitas sacrificaram seus filhos a outros deuses (v. 16, 17).

Será que eram essas algumas das acusações lançadas por Satanás contra Josué (Zc 3)? Quem poderia suportar o peso de uma história tão tenebrosa?

Apesar das falhas de Israel no passado, no livro de Zacarias, o Senhor está ansioso para ver Seu povo colocar novamente Deus no centro da vida.

Pense nisto: Por que a reconstrução do templo foi a primeira coisa que Deus pediu que Seu povo fizesse quando regressasse a Jerusalém? O que isso nos diz sobre o lugar que Deus deve ocupar em nossa vida? Na época das visões de Zacarias, cerca de 15 anos se passaram desde que o remanescente havia começado a construção do templo. Que significa esse atraso sobre a tendência humana de se desviar da vontade de Deus? Podemos realizar alguma coisa sem Deus? Por que não?

II. Autoengano
(Recapitule com a classe
Zc 3:1-3 e Rm 7:14-25.)
Só para o professor: Esta breve discussão sobre a tendência humana para a auto-ilusão pretende comentar algumas das maneiras pelas quais os seres humanos evitam a verdadeira natureza de sua condição pecaminosa. Depois de discutir as medidas de autoengano, peça que alguém leia Romanos 7:14-25 antes de concluir esta seção.

A figura de um sumo sacerdote com as vestes sujas é uma das imagens mais chocantes de todas as Escrituras, mas este é o quadro que encontramos em Zacarias 3. O pecado configurado pelas vestes sujas de Josué representa toda a humanidade, como a lição nota habilmente. Há um sentido nessa visão em que Josué entende a natureza precária de sua condição – pecaminoso, acusado com justiça e estando na presença de um "Anjo do Senhor" sem pecado, que sabemos ser Jesus Cristo.

Josué pode ter compreendido sua situação, mas nunca se pode subestimar a tendência humana ao autoengano. A maioria dos profissionais que trabalham na área de recuperação de viciados conhece muito bem o processo de ilusão que assinala a descida para a auto-destruição.

Primeiramente, o viciado racionaliza seu comportamento. "O que estou fazendo não é tão mau assim", ele argumenta. "Posso mudar na hora que quiser." Inconscientemente, o viciado avança para a etapa dois: projeção. Nessa fase, os outros se tornam a fonte do problema do viciado, e ele ataca os que estão mais próximos, os que mais o amam. "Se eles tão-somente fizerem isso ou aquilo, eu mudaria...".

Uma decadência rápida ocorre na terceira etapa: a repressão. As incoerências do comportamento são demais para que o viciado racionalize; então, ele simplesmente reprime essas lembranças. Ele as tira da mente e continua tocando a vida. Inconscientemente, a incapacidade que o dependente tem para se corrigir o leva a aprofundar o comportamento que deseja mudar. Valores sagrados são deixados de lado enquanto torrentes de vergonha, culpa e confusão cobrem a vida.

A quarta e última fase é a memória alterada. O viciado começa a reescrever a história, inventando um passado que lhe permite sentir-se melhor a respeito do presente.

Pense nisto: O que a descrição do apóstolo Paulo sobre o tumulto interior, causado por nossa natureza pecaminosa, nos diz sobre a inutilidade da ilusão? Qual é o problema central que atormenta Paulo? Nesse dilema, a que esperança ele se apega?


III. Ajuda do Céu
(Recapitule com a classe
Zc 3:4-10; 4:6; Jo 16:5-15.)
Só para o professor: Esta parte do Comentário Bíblico se destina a examinar brevemente aquilo que deve acontecer em nós quando estamos "em Cristo". A fim de crescer em Cristo, temos o poder interior do Espírito Santo.

Não se pode ler o ato de graça encontrado em Zacarias 3:4-10 sem ser inspirado por admiração e gratidão. Você pode se imaginar em pé diante de Deus, acusado e culpado, aguardando a justa punição merecida, só para ouvir Deus dizendo: "Veja, Eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você" (v. 4, NVI)? Como você se sentiria depois de ouvir isso?

Mas Deus não parou com a purificação de Josué. Ele também o chamou à obediência (Zc 3:7). Talvez a obediência seja o ponto em que a jornada cristã fica difícil.

Deus providenciou para acabar com o pecado e a vergonha da humanidade, e o fez por meio da vida, morte, ressurreição e ascensão de Seu Filho, Jesus. Mas isso não significa que os seres humanos ficaram perfeitos. A fim de crescer em Cristo (Ef 4:15), precisamos de constante recriação interior. Afinal, Jesus subiu ao Céu, mas não nos deixou desamparados. De acordo com João 16:8, o Espírito Santo nos convence do pecado, da justiça e do juízo. Além disso, Ele nos guia a toda a verdade (v. 13), anuncia as coisas referentes a Deus Pai e ao Filho para nossa vida (v. 13) e O glorifica por nosso intermédio (v. 14, 15).

Assim como o templo só poderia ser concluído pelo poder do Espírito Santo (Zc 4:6), o mesmo acontece em nossa vida, a habitação espiritual de Deus.

Pense nisto: Que parte do processo de salvação Deus deixou nas mãos do homem? Porque nossa tendência é destacar o sacrifício de Jesus Cristo e minimizar a obra do Espírito Santo? Como o Espírito Santo nos ajuda a crescer diariamente?

Aplicação
Perguntas para consideração
1. Como podemos experimentar de forma tangível o dom da salvação, simbolizado pela brasa tirada do fogo em
Zacarias 3:2? Como podemos ter a certeza de que realmente fomos salvos? Esse ato de salvação é permanente? Explique.
2. Tendo em conta o que Deus fez por nós na remoção de nossa iniquidade – por deixarmos voluntariamente de acertar o alvo – por que continuamos a pecar? Como sabemos que estamos fazendo progressos no caminho de nos tornar cristãos? Que palavra de advertência nos dá
1 Coríntios 10:12?

Perguntas de aplicação
Leia
Efésios 2:8-10 e depois responda às perguntas abaixo. Em sua epístola aos Efésios, Paulo destacou a obra de Cristo em favor da humanidade para que seus leitores entendessem corretamente e tivessem muita alegria por estarem em Cristo.

1. Pense por um momento nos melhores presentes que você recebeu. Mencione três dos presentes e de quem vieram. Algum deles foi dado por algum estranho? Será que algum deles veio de um conhecido? Algum deles veio de alguém que ama você? Que diferença faz saber quem é o doador, e por quê?
2. Muitos dos melhores presentes que recebemos na vida vêm de pessoas que conhecemos muito bem, aqueles que nos amam. Embora maravilhosos atos de bondade provindos de estranhos possam transformar uma vida, os presentes que têm uma relação amorosa em sua base são muito mais valorizados. Como o fato de estar em um relacionamento correto com Deus torna o dom do sacrifício de Jesus ainda mais precioso?

Criatividade
Só para o professor: Conte para a classe a seguinte história verdadeira e responda às perguntas. Prepare com a classe uma lista de respostas práticas que compartilhem algumas das verdades encontradas na lição desta semana.

Jorge e Rose se conheceram no colégio e logo se tornaram amigos chegados. Não havia nada de romântico em seu relacionamento. Jorge era o irmão que Rose sempre quisera. Rose era a menina divertida que fazia Jorge rir descontroladamente. Jorge estava tendo grandes problemas em casa, e assim, essa amizade com Rose era uma fuga bem-vinda.

Ao se conhecerem melhor, Rose ficou preocupada com as variações de humor de Jorge. Em algumas ocasiões, ele até pensava em se matar. Conforme seu relacionamento ficava mais próximo, ele parecia ficar cada vez mais fora de controle, falando mais abertamente em "acabar com esta vida inútil".

Rose conversava com ele a maior parte do tempo, mas, um dia, ela não conseguiu. Anos depois, ela carrega a culpa de não ter podido salvar Jorge, devido à sua decisão de não contar a ninguém o que estava acontecendo com ele. Ela se culpa pela morte dele.

Se Rose viesse à sua Escola Sabatina hoje, que conforto você lhe daria? Que conforto você tiraria da lição desta semana?

Como você ajudaria Rose depois da classe, quando ela saísse de sua igreja e voltasse à vida diária?


FONTE: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2011/aux922011.html


Lição 9 – Um tição tirado do fogo


Diogo Cavalcanti

As roupas têm o poder de tranquilizar ou de desestabilizar emocionalmente as pessoas. Quando estamos com a roupa adequada para o ambiente ou a situação, nos sentimos confiantes e aceitos, pois estamos em harmonia com o padrão social. Por outro lado, quando usamos uma vestimenta inadequada para a situação, nos sentimos deslocados. Muitos já tiveram pesadelos em que se viram de pijama numa festa, descalços na rua, ou mesmo sem qualquer roupa, se escondendo pelas ruas.

Numa visão do profeta Zacarias, o sumo sacerdote Josué passou por essa situação frustrante. Estava com a roupa errada no lugar errado. Suas roupas, que deveriam representar a santidade e a justiça de Deus, estavam imundas e indicavam a deplorável condição espiritual do sacerdócio e do povo judeu após o cativeiro babilônico. Uma restauração espiritual era necessária para que a nação se restabelecesse na Palestina. As vestes sujas de pecado deveriam ser substituídas pelas roupas de justiça providas pelo Anjo de Yahweh.
Ao estudar essa impressionante visão do Antigo Testamento, é preciso levar em conta seu panorama histórico, os personagens e o simbolismo bíblico por trás de cada ato de um drama real que envolveu o povo de Deus naquela época.

Conflito invisível
Os 70 anos de cativeiro do povo judeu em Babilônia (Jr 25:11) terminaram com a queda dessa cidade sob as mãos de Ciro, imperador da Pérsia, no ano 539 a.C. Cerca de um ano depois, (538/537a.C.), numa política de liberdade religiosa e cumprindo uma profecia (Is 44:28), Ciro permitiu que aproximadamente 50 mil judeus retornassem à Palestina (Ed 1:1-4), sob a liderança administrativa de Zorobabel e, religiosa, de Josué (Ed 2). O grupo de exilados se dedicou à reconstrução do Templo e concluiu seu fundamento um ano depois, em 536 a.C. (Ed 3:8-13).1

No entanto, várias dificuldades, especialmente a oposição dos samaritanos, fizeram a reconstrução cessar. Uma resistência também começou a se levantar no próprio império persa. Os samaritanos trabalharam diligentemente para convencer os persas de que os judeus eram uma ameaça à região e ao próprio império (Ed 4:1-5, 24).2 Diante dessas adversidades, as famílias abandonaram o trabalho de reconstrução do Templo e passaram a se dedicar a si mesmas.

Paralelamente a essa controvérsia internacional, um conflito era travado entre forças espirituais do bem e do mal. Satanás queria impedir o restabelecimento da nação judaica e a futura vinda do Messias. O conflito foi tão intenso que o anjo Gabriel teve de se esforçar por 21 dias para convencer Ciro e outros líderes da Pérsia a não impedir os trabalhos em Jerusalém (Dn 10:13). Graças à ajuda de Miguel, "a vitória foi finalmente ganha; as forças do inimigo foram contidas todos os dias de Ciro e todos os dias de seu filho Cambises."3

Uma oposição à reconstrução se levantou em 522 a.C., quando o chamado Falso Smé rdis assumiu o trono no lugar de Cambisses [para saber quem foi o Falso Smé rdis, veja a nota ao fim deste comentário4]. O Falso Smé rdis, acusado por Dario como "destruidor de templos", decretou o fim das obras em Jerusalém, e os exilados entenderam que isso era um sinal de que o trabalho pela Casa do Senhor realmente deveria parar (Ag 1:2). Contudo, sete meses depois, Dario assassinou o Falso Smé rdis e assumiu o trono.

Em face da indisposição do povo de reconstruir o Templo e renovar a fé, Deus enviou uma seca (Ag 1:11, 12). Também enviou os profetas Ageu e Zacarias, com mensagens de consolo, esperança e exortação. Se o Templo de Yahweh deveria ser reconstruído na Palestina, a fé e o compromisso com Ele precisavam ser renovados nos corações.

O povo respondeu positivamente, retomando as obras do Templo no segundo ano de Dario (Ag 1:14, 15). Foi então que esse imperador persa emitiu um decreto reafirmando a permissão de Ciro para a reconstrução do Templo (Ed 5:3-6:13). O trabalho foi concluído quatro anos depois, no sexto ano de Dario (Ed 6:15).

Para ter uma visão geral dessa sequência histórica, veja o quadro a seguir:

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As visões de Zacarias
Zacarias pertencia à linhagem de Levi (Ne 12:16; Zc 1:1). Seu nome é o mais popular do AT, com 30 ocorrências, e significa "Yahweh S e lembrou"5. Seu livro relata oito visões, com evidentes características apocalípticas6. As três primeiras, dos cavaleiros (1:7-17), dos quatro chifres e os quatro ferreiros (1:18-21) e da medição de Jerusalém (cap. 2), afirmam a disposição divina de estabelecer, abençoar os judeus, reconstruir suas edificações e punir seus inimigos.

Se essas visões tratam do livramento externo dos exilados, as duas seguintes (Josué e o Anjo, cap. 3; candeeiros de ouro e as duas oliveiras, cap. 4) se referem à sua libertação espiritual. Nas duas visões, os dois líderes – Josué (religioso) e Zorobabel (administrativo) – representam a nação perante Deus.

A visão de Josué e do Anjo se relaciona com a eliminação dos pecados do povo e o restabelecimento do sacerdócio.7 O povo já havia voltado à própria terra, mas ainda faltava uma reconsagração espiritual, faltava "a retirada da impureza." 8

Nessa visão, Zacarias contemplou o sumo-sacerdote Josué em pé diante do Anjo do Senhor e Satanás (hassatan, literalmente "o acusador"9) posicionado à sua direita (3:1). A cena configurava um embate e representava a situação ameaçadora pela qual o povo de Deus atravessava. A posição do acusador ao lado direito era uma referência aos antigos julgamentos israelitas, em que o querelante (o autor da queixa) se colocava à direita do réu (Sl 109:6).10

O sumo sacerdote, representante do povo, estava com as vestes "sujas". Porém, a palavra hebraica (soim) traduzida por "sujas" (ARA, 2ª edição) tem um sentido mais intenso. Soim é "a expressão mais forte em hebraico para a mais vil impureza e de mais repulsivo caráter.11 Considerando esse aspecto linguístico, as vestes de Josué não estavam apenas sujas, mas imundas. Alguns interpretam essa imundícia como "cinzas"12, sujeira da fornalha13, ou mesmo excremento14. Embora não se possa provar qual era a natureza da sujeira nas vestes de Josué, elas eram símbolo dos pecados da nação e de sua repugnância aos olhos de Deus (v. 4; cf. Is 64:6).

Diante dos fatos, Josué não se manifestou. A ausência de palavras de sua parte indicava seu senso de indignidade e, ao mesmo tempo, sua confiança no Redentor de Israel. Sua mudez era uma súplica pela misericórdia divina.

O Anjo do Senhor
Satanás queria apontar os pecados da nação e dos sacerdotes, para que Deus os rejeitasse definitivamente. O Senhor, contudo, jamais faria isso, pois é fiel à Sua aliança, e Sua eleição é irrevogável (Jr 31:36-37; Rm 11:1, 2, 29).

Antes de o inimigo dizer uma palavra, "o Advogado divino fala".15 "O Senhor disse a Satanás: 'O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu a Jerusalém, te repreende'" (v. 2). E o acusador não ousou responder, pois sabia que Deus não toleraria isso (Sl 9:15; Is 17:13).16

Um detalhe importante é o fato de Josué estar diante do Anjo de Yahweh no verso 1 e de o próprio Yahweh surgir repentinamente no verso 2 e ainda citar Seu nome em terceira pessoa. Essa construção de texto indica que ambos são o mesmo Ser. Também confere ao Anjo de Yahweh o status de deidade e posição semelhante à do próprio Yahweh.

Essa relação é tão clara no texto, que, para evitá-la, eruditos judeus que escreveram a Peshita (versão siríaca do AT, 2º século a.C.), substituíram no verso 2 a palavra Yahweh pela expressão "Anjo de Yahweh". Eles não admitiam que o Anjo de Yahweh tivesse a mesma posição que o próprio Yahweh.

A noção de que o Anjo de Yahweh é um ser mais do que angelical é notada claramente em outras passagens do Antigo Testamento (Gn 16:11-13; 31:11; Jz 2:1-3; 13:22). Essas evidências indicam que o Anjo do Yahweh é uma teofania (manifestação visível) da segunda Pessoa da Trindade, Cristo. João Calvino, reformador francês do século 16, também pensava assim:

"Deus fala aqui e ainda dá a impressão de ser o Anjo de Jeová. Mas
isso não é inescrutável. Pois, como no último verso em que Zacarias diz que
Josué estava diante do Anjo de Jeová, sem dúvida significa Cristo, que é
chamado de Anjo e também de Jeová."17

Nas palavras de Ellen White, "o anjo, que é o próprio Cristo, o Salvador dos pecadores, reduz ao silêncio o acusador do Seu povo."18

Segundo ela, Cristo também é o Arcanjo Miguel: "Ainda mais: Cristo é chamado o Verbo de Deus (João 1:1-3). (...) Ele [Cristo] lhes foi revelado como o Anjo de Jeová, o Capitão do exército do Senhor, o Arcanjo Miguel".19

Na Bíblia, Miguel (em hebraico : "q uem é como Deus?") S e manifesta em momentos de grande perigo para o povo de Deus, especialmente quando o conflito contra o mal se torna mais agressivo (Ap 12:7). Miguel surge para defender e salvar, é "um dos primeiros "príncipes", o "grande P ríncipe" (Dn 10:13, 21; 12:1) – o mesmo título dado ao Messias (Dn 9:25).

"A literatura judaica descreve Miguel como o maior dos anjos, o verdadeiro R epresentante de Deus, e O identifica com o "Anjo de Yahweh", frequentemente mencionado no Antigo Testamento como um ser divino. Ela também afirma que Miguel era o A njo que vindicou Israel contra as acusações de Satanás no tribunal celestial."20

Em Judas 1:9, ao contender com Satanás pelo corpo de Moisés, Miguel disse ao inimigo: "O Senhor te repreenda" – exatamente as mesmas palavras que o Anjo do Senhor usou na visão de Zacarias. Portanto, o próprio Miguel que lutou pelo Seu povo nas cortes da Pérsia batalhava por ele nas cortes celestiais.

Aliança incondicional
"O Senhor, que escolheu a Jerusalém, te repreende. Não é este um tição tirado do fogo?" (v. 2). Na segunda frase de repreensão, o Anjo ressalta dois aspectos sobre Josué e os exilados de Judá:

1°) Eles eram uma nação escolhida, e a eleição divina não tinha que ver com méritos, mas com a soberania e o amor de Deus pelo povo, que também tinha uma missão no mundo;

2°) Josué e os exilados eram um "tição tirado do fogo". O povo já havia sofrido o cativeiro como castigo último da aliança mosaica (Dt 28:41, 68). Quase foi extinto como nação, enfrentou sérias dificuldades em Babilônia. Foi o que sobrou de uma "fornalha de ferro" semelhante à do Egito (Dt 4:20; Jr 11:4). De tudo o que passou pelo fogo do cativeiro, Josué e os cativos eram apenas tições, "pedaço[s] de lenha aces a ou meio queimada."21 Passaram pela disciplina por longos 70 anos.

Por outro lado, o Senhor não os havia abandonado no crisol de Babilônia. Enviou Ezequiel, Seu profeta, para orientá-los e dar-lhes esperança . Esteve com Daniel na corte de Babilônia, representando os interesses dos judeus e sua cultura religiosa. Deus jamais os abandonou quando passav am pelo fogo das provações (Is 48:10; 43:1,2), nem mesmo quando esse fogo se acendeu numa fornalha real para Ananias, Misael e Azarias (Dn 3:25).

Depois das provações do cativeiro, os judeus e demais israelitas eram o precioso remanescente que deveria receber todo o cuidado e proteção divinos. Haviam aprendido importantes lições, e dali em diante, era a ocasião de receber as bênçãos divinas.

Vestes de graça
O Anjo entrou em ação para defender Josué, não tentando provar sua inocência. Não negou a imundícia das vestes, mas também não permitiu que Satanás culpasse o sacerdote. É interessante pensar que o sumo sacerdote Josué (Yehoshua, "Yahweh salva") foi salvo do inimigo pelo Yahweh que um dia S e tornaria Jesus (Yehoshua, Mt 1:21) para salvá-lo do pecado.

No entanto, a intervenção salvífica não acabou ali, com a repreensão ao inimigo. Ela se consumou na solução do problema. O âmago da questão não era o acusador, mas a situação espiritual da nação exposta nas vestes imundas. Foi então que o Anjo de Yahweh ordenou aos demais [anjos] presentes que lhe retirassem as vestes imundas e que o vestissem com "finos trajes" (v. 4). Essa é uma clara referência à salvação pela graça, algo que não vem de nós, é um dom de Deus (Ef 2:8). Num primeiro momento, as vestes imundas foram retiradas, representando a eliminação do pecado; num segundo momento, os finos trajes postos sobre o sacerdote simbolizavam a justiça de Cristo.

"Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de finos trajes" (Zc 3:4). As vestes de graça são vistas aqui não somente como os trajes sacerdotais típicos, mas como roupas festivas. Essa expressão ocorre apenas em outra passagem do Antigo Testamento (Is 3:22) e simboliza pureza, alegria e glória. No contexto da visão de Zacarias, a mudança de vestes representa a restauração de Israel como nação sacerdotal (19:6).22

Assistindo a essa visão de glória para seu povo, o jovem Zacarias (Zc 2:4) se entusiasmou, ao ponto de participar dela: notou que faltava um turbante nos paramentos sacerdotais. Os sacerdotes antigos usavam uma mitra que continha os dizeres " Santidade ao Senhor" (Êx 28:36; 30:30). Zacarias ordenou que pusessem um deles sobre a cabeça de Josué, e seu pedido foi atendido.23

Bênçãos condicionais
Com vestes finas e numa posição adequada diante de Yahweh, Josué não poderia mudar o passado e os erros cometidos por sua nação, mas poderia construir um novo futuro. Foi por isso que o A njo o advertiu, em nome de "Yahweh dos Exércitos", com uma promessa condicional: "Se andares nos Meus caminhos e observares os meus preceitos, julgarás a Minha casa e guardarás os M eus átrios, e te darei livre acesso entre estes que aqui se encontram" (v. 7).

Nessas palavras do Anjo, Josué recebeu uma séria advertência para se sujeitar totalmente a Deus e observar S eus preceitos (mishneret), guardando não somente os regulamentos sacerdotais, mas os mandamentos morais prescritos na lei de Moisés (Torah).
Se fosse fiel, Josué também julgaria o povo . Um dos deveres do sacerdote no antigo Israel era julgar o povo e representar Deus nas causas difíceis. Além de prometer a restituição dessa posição diante da comunidade, Yahweh prometeu que, se fosse fiel, Josué também teria livre acesso à corte celestial.

Esperança final
Nos versos 8 a 10, o Anjo pronuncia, em nome de Yahweh, um oráculo (profecia). Esse oráculo é destinado a Josué e seus companheiros, "homens de presságio". O Anjo diz a Josué que, no futuro, Seu servo, "o Renovo" S e manifestaria (v. 8). Renovo, uma planta nova que surge de um tronco cortado, foi a metáfora usada para representar Israel (Is 4:2), a descendência de Davi quase destruída (Is 11:1) e, de maneira especial e evidente, o Messias, que também viria da descendência davídica (Is 53:2; Jr 23:5). Isaías se referiu ao Renovo messiânico diversas vezes, e foi nesse Renovo que todas as esperanças de Israel se concentravam.

Uma pedra com sete olhos que representam a onisciência divina (4:10) estava diante de Josué na visão. Ela seria testemunha da promessa divina de que "a iniquidade desta T erra" seria tirada num só dia (v. 9). Essa profecia se cumpriria literalmente no dia em que o Anjo de Yahweh, Cristo, em forma humana, entregasse Sua vida na cruz. Quando Ele desse Sua vida, eliminaria os pecados, expiaria a transgressão (Dn 9:24) e poria fim ao próprio sistema sacrifical do qual Josué era a peça principal em seus dias. O véu do Templo se rasgaria de alto a baixo, e Israel teria apenas um sacerdote no Céu (Mc 15:38; Hb 8:1, 2).

Quando o Renovo S e manifestasse e a iniquidade fosse eliminada, o povo desfrutaria da almejada paz, debaixo de suas videiras e figueiras (v. 10).

Lições espirituais
Somos os herdeiros espirituais do sacerdote Josué e s eu povo. A exemplo deles, temos inimigos na Terra que procuram impedir nossos planos de reconstrução, não de muros, mas do "evangelho eterno" (Ap 14:6) no coração das pessoas.

Os inimigos são usados por Satanás, que não acusou apenas Josué e o povo judeu, mas ainda hoje nos acusa (Ap 12:10). Assim como o povo de Deus do passado, devemos mostrar uma fé que resista ao fogo das provações (Zc 13:9; Jr 30:7; Is 61:10; 1Pe 2:5).

Não estamos sozinhos. Temos o Anjo do Senhor em nosso favor. Ele é Cristo, nosso Advogado (1Jo 2:1) e S umo sacerdote junto ao Pai no santuário celestial (Hb 8:1 e 2, 4). E, nos momentos finais deste mundo, assim como o Anjo do Senhor (ou Miguel) Se levantou em favor de Josué, Ele S e levantará por nós no "tempo de angústia" (Dn 12:1).

Defender um povo pecador como nós é um puro ato de graça do Senhor ­– uma iniciativa divina de buscar e salvar os que se haviam perdido (Lc 19:10). E Ele não apenas repreende o acusador, mas retira de nós as iniquidades que mancham nossas vestes morais e coloca sobre nós Seu manto puro de justiça. Por isso a "grande multidão" que vencerá a grande tribulação é descrita como tendo vestiduras brancas (Ap 7:13).

Não temos do que nos gloriar. Assim como o sumo sacerdote Josué, mudos reconhecemos nossos pecados e nada falamos sobre nossos méritos, pois não os temos. Aceitamos humildemente a graça de Cristo, Sua defesa contra o acusador e a renovação espiritual que Ele nos concede, perdoando nossos pecados e nos purificando de nossas injustiças (1Jo 1:9).

Assim como Josué foi instruído a andar nos caminhos de Deus e observar Seus preceitos (Zc 3:7), entendemos que devemos guardar os mandamentos de Deus. Fazemos isso como numa atitude também baseada na graça de Deus que já nos salvou e nos salva a cada dia pela santificação do Espírito. Temos fé em Jesus, sim, mas também guardamos Seus mandamentos (Ap 14:12).

E é somente graças ao Renovo, Jesus Cristo, que temos esperança. NEle se concentram todas as nossas expectativas. Diferentemente de Josué e seu povo, não olhamos para o Messias que ainda viria pela primeira vez para expiar pecados. Hoje olhamos para o Messias que virá segunda vez para nos libertar para sempre da presença do pecado. Somente então a profecia de Zacarias 3:10 se cumprirá plenamente. Cada um se sentará debaixo de sua vide e de sua figueira e habitará em paz para sempre.

"Às vezes, pode parecer que o Senhor esqueceu os perigos de Sua igreja, e o dano a ela feito por seus inimigos. Mas Deus não Se esqueceu. Nada neste mundo é tão caro ao coração de Deus como Sua igreja".24


Referências

1. Barker, Kenneth L. "Historical Background of Zechariah" In The Expositor's Bible Commentary: Volume 7. 595-596. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, © 1985.

2. Nichol, Francis D., The Seventh-day Adventist Bible Commentary, (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association). v. 2, 1978.

3. White, E. G. Profetas e Reis, p. 572.

4. O verdadeiro Smé rdis era filho de Ciro, mas fora morto secretamente em 528 a.C. por seu irmão Cambis es. Este foi deposto e Guamata, parente de um importante mago, assumiu o trono, dizendo ser Smé rdis; por isso foi chamado de "falso".

5. "Zechariah". Horn, Siegfried, Seventh-day Adventist Bible Dictionary, (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association), 1979.

6. Baker, K. L., p. 595, 596.

7. Lindsey, F. D. Em Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado. v. 5. Cidade Dutra, SP: Candeia. 1 ed. 2000, 3665.

8. Smith, G. A. "The Book of the Twelve Prophets". The Expositor's Bible. Nichol, R. (ed.). v. 2. Nova York: George H. Doran Company, s. d. p. 293. Em Reed, O. F. e outros. Comentário Bíblico Beacon. v. 5. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2005, 305.

9. Nichol, Francis D., The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association), 1978.

10. Barker, K. L.

11. Ibid.

12. Nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém para Zacarias 3:3.

13. Baldwin, J. G. Ageu, Zacarias e Malaquias. Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1ª ed, 91.

14. Unger, M. Commentary on Zachariah. Grand Rapids: Zondervan, 1963. p. 59. In Wiersbie, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo – Proféticos. v. 4. Santo André, SP: Geográfica Editora. 1. ed., 559.

15. Reed e outros, 306.

16. Baldwin, J. G., 91.

17. Calvin, J. Commentary on the Prophet Zechariah (Ages Digital Library), 68. Versão Eletrônica, p. 70. In: Assis, J. A. Zacarias 3. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/comentarios/zacarias3_jefte.pdf

18. White, E. G., Profetas e Reis, p.584.

19. White, E. G. Patriarcas e Profetas, p. 366.

20. "Michael". Horn, Siegfried. Seventh-day Adventist Dictionary. Neste verbete há uma indicação para se conferir a seguinte referência judaica: Talmude Yoma 37a; Midrash Rabbah, sobre Gn 18:3; Êx 3:2, 12:291.

21. "Tição". Dicionário Eletrônico Aurélio.

22. Barker.

23. Ibid.

24. White, E. G. Profetas e Reis, p. 590.


FONTE: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2011/com922011.html