Seminário do Dia do Senhor–III
Dr. Samuele Bacchiocchi
Tradução de Azenilto Brito
Introdução
[Dr. Carl Coffmann, Chefe do Depto. de Religião da Universidade Andrews]:
Bem-vindos à terceira sessão deste Seminário do Dia do Senhor. Nas duas primeiras apresentações captamos o desafio do grande valor do sábado para cada um de nós. Sabemos a importância de uma correta relação com o Senhor do Sábado. Agora estamos vendo mais claramente a grande necessidade para o sábado do Senhor.
Eu aprecio a convicção e emoção que o Dr. Bacchiocchi traz a essas grandes verdades bíblicas. Em nossa última sessão lembram-se que ele indicou sete formas específicas em que o sábado permite ao nosso Senhor enriquecer nossas vidas com uma medida maior de Sua divina paz e descanso.
O sábado nos faz recordar o descanso da Criação, o descanso em saber que Deus está presente conosco. Traz-nos descanso da competição sem misericórdia da vida diária, descanso para sabermos que pertencemos a Deus. Descanso das tensões sociais, o glorioso descanso de redenção e restauração, e descanso em servir, fazer o bem, estar mais próximo da família, amigos e semelhantes.
Esta terceira apresentação nos desafia com o conceito do serviço genuíno. O Dr. Bacchiocchi nos ajudará a ver o sábado como um tempo para o serviço. Este será um estudo muito prático, como fazer do tempo do sábado uma ocasião de enriquecedora experiência de serviço a Deus e aos outros.
Primeiramente ouçamos Karry McComb entoar um dos cânticos favoritos da Igreja Cristã, o belo e amado Salmo 23. Sua esposa Tammy o acompanha ao piano.
Ao orarmos, peçamos a Deus, o Grande Pastor, para falar-nos numa maneira especial mediante o cântico de Karry, e pela mensagem do irmão Sam.
Oremos: Querido Pai celeste, quando Te aceitamos descobrimos o Verdadeiro Pastor. O salmo diz que "o Senhor é o meu pastor". Ajudar-nos a regozijar-nos nessa promessa e tornar-nos pastores servidores, particularmente no sábado, para ajudarmos outros a compartilhar o relacionamento pastor-ovelha também, em nome de Jesus, amém.
Karry McComb interpreta, "O Senhor É o Meu Pastor".
Muito obrigado Karry e Tammy por esta bela apresentação do Salmo do Bom Pastor. A contribuição de vocês a este Seminário do Dia do Senhor é verdadeiramente apreciada por todos nós, e também muito obrigado por terem vindo, amigos, a esta 3a. sessão do Seminário do Dia do Senhor. Muitos dentre vocês que assistiram às primeiras duas sessões me disseram que o que compartilhamos grandemente os enriqueceu na compreensão e experiência do santo dia de Deus e confio em que acharão esta terceira apresentação ainda mais informativa e inspiradora do que as duas primeiras.
Agora o alvo desta terceira apresentação é nos ajudar a descobrir, explorar, talvez mais plenamente, como o sábado nos propicia uma oportunidade singular de nos servirmos individualmente e servirmos a nossa sociedade em geral.
Vivemos hoje numa sociedade muito excitante e paradoxal, não é verdade? Podemos sintonizar nossos rádios e TVs para ouvir sons e fotos derivados do espaço exterior, contudo há muitos em nossa sociedade hoje que têm dificuldade em sintonizar suas almas com Deus e ouvir a sua voz. Podemos percorrer os céus com nossos jatos supersônicos, não obstante há muitos em nossa sociedade que têm dificuldade em alcançar o necessitado, o pobre, o desanimado, o frustrado que vive na sua vizinhança. Vivemos e nos movemos entre grandes multidões, todavia há muitos em nossa sociedade que se sentem muito sozinhos, estão experimentando o que chamamos de crise de identidade. Sim, podemos apertar uns poucos botões e falar com alguém que vive do outro lado do oceano, enquanto há tantos em nossa sociedade que têm dificuldade de se comunicar com seus parentes mais próximos, seus esposos, esposas, filhos. Podemos explorar muitos recursos naturais hoje em dia para assegurar nosso conforto e conveniência, contudo, nos é dito que nossa vida neste planeta está ameaçada hoje pelo esgotamento e poluição desses recursos naturais.
Para resumir, podemos dizer que vivemos hoje numa era muito paradoxal, não é verdade? Por um lado estamos desfrutando crescentes bens, comunicações, conforto, por outro lado há muitos em nossa sociedade que estão experimentando exaustão física, frustração emocional, perda de segurança na existência de Deus e numa solução divina para os problemas humanos.
À luz desse dilema creio que nos é apropriado tomar alguns momentos para considerar juntos que contribuições podem os valores, a celebração do sábado fazer na solução de alguns desses problemas muito humanos, e para orientar nossa reflexão gostaria de convidá-los a considerar comigo quatro áreas específicas de serviço que, acredito, o sábado tem o objetivo de propiciar. Eu os chamo: serviço a Deus, serviço a nós próprios, serviço a outros, e serviço a nosso habitat, o mundo natural que nos rodeia.
Em primeiro lugar, creio que o sábado visa a propiciar-nos tempo e oportunidade para servir a Deus, não é verdade? A Bíblia repetidamente nos lembra que o sétimo dia é "santo ao Senhor teu Deus".
Obviamente servimos a Deus todos os dias, não é? Mas creio que há uma diferença entre nosso serviço a Deus nos dias úteis e o serviço do sábado. Qual é a diferença? Bem, nosso serviço nos dias de semana podem ser chamado de "tipo de serviço de Marta", que prestamos a Deus enquanto estamos servindo um empregador humano, enquanto estamos em busca de atender às muitas demandas da vida. Mas o serviço do sábado é o que chamamos o "tipo de serviço de Maria", o serviço que prestamos a Deus após termos deixado de lado nosso emprego rendoso a fim de darmos prioridade a Deus em nosso pensamento e viver.
O que desejo exercitar hoje é o ato mesmo de descansar para Deus no dia de sábado, um ato de adoração muito significativo porque representa nossa consagração a Deus. É um ato de culto que não se esgota numa hora ou duas de freqüência à igreja, mas um ato de culto que dura por 24 horas. E aqui eu creio que jaz a diferença básica entre a observância do sábado e a do domingo, sobretudo no entendimento das regras que o ato de descansar desempenham na celebração do Dia do Senhor.
Vejam, amigos, ao passar esses muitos anos nos arquivos do Vaticano examinando todos aqueles antigos documentos do cristianismo primitivo eu descobri, por exemplo, que o domingo originou-se como a hora do culto, quando os cristãos iam para a igreja cedo na manhã, e depois voltavam a suas várias ocupações ordinárias. A despeito dos esforços por Constantino em 321, na sua famosa Lei Dominical, por concílios da Igreja, por puritanos, de tornar o domingo um dia total de descanso e adoração, o fato é que o domingo permaneceu essencialmente a hora do culto.
E em reconhecimento dessa realidade histórica eruditos, por exemplo, como Christofer Kiesling, em seu livro recente, The Future of Christian Sunday [O futuro do domingo cristão] argumenta em prol do abandono do domingo como um dia total de adoração. Seu argumento é muito simples. Diz ele: "Sabemos que o domingo nunca foi um dia total de descanso e não há motivo para tornar o domingo um dia santo hoje quando as pessoas não estão interessadas em dias santos, mas em feriados". Assim, sua tese é de que temos que nos esforçar em preservar a hora do culto dominical e desistir do conceito de dia total. Ele argumenta que se essa hora não se ajusta ao tempo do domingo, porque interrompe o lazer e recreação do fim de semana, então, sugere ele, antecipemos a um momento durante a semana. Reunião para o desjejum, almoço, jantar, uma hora de culto cumpriria a obrigação dominical.
De fato, na Igreja Católica, talvez estejam cientes, o fato é que a missa do sábado à noite está disponível para aqueles que não podem assistir missa no domingo. Em outras palavras, a missa do domingo é antecipada para o sábado à noite a fim de acomodar aqueles que estão muito ocupados para irem à igreja no domingo.
Agora, amigos, desejo que entendam que enquanto a observância do domingo essencialmente tem sido historicamente, e hoje ainda é, a hora do culto, a observância do sábado é apresentada nas Escrituras não como a hora, mas como as 24 horas em que nos consagramos a Deus. Notarão isto no mandamento do sábado, no livro de Êxodo, cap. 20, vs. 8 e 9 é explicitamente dito que devemos trabalhar seis dias, e então consagrar ao Senhor. . . uma hora, ou duas horas do sétimo dia? Não! A totalidade do sétimo dia.
Por favor, observem que no mandamento do sábado não é dito: "Lembra-te do dia do sábado para o santificar freqüentando a Escola Sabatina e o culto". Não é o que está dito ali. O que diz é: "Lembra-te do dia do sábado para o santificar", como? Por trabalhar seis dias, e daí consagrar a totalidade do sétimo dia ao Senhor. O que isso significa? Simplesmente quer dizer que a essência da observância sabática é a consagração das 24 horas do sétimo dia ao Senhor.
O que eu gostaria de enfatizar nestas alturas é que este ato de consagrar o sábado ao Senhor é um ato de adoração muito significativo, sabem por quê? Porque faz com que todas as atividades do dia de sábado, sejam de caráter informal, recreacional ou, em termos de comunhão, representa nossa participação num culto, porque tudo isso parte de nosso coração que decidiu honrar ao Senhor em Seu santo dia.
Como vêem, nossa vida é uma medida de tempo, não é verdade? Sessenta, setenta, oitenta anos, nossa vida é uma medida de tempo. A maneira como empregamos nosso tempo é indicativo de nossas prioridades. Se você não gosta de alguém, existe uma maneira fácil de se livrar de tal pessoa. Basta alegar, "desculpe-me, mas não tenho tempo para atendê-lo". Mas se você gosta de alguém, o que ocorre? Mesmo que esteja ocupado, você tira tempo para essa pessoa, não é um fato? Sim, nós não temos tempo para aquelas pessoas às quais somos indiferentes, mas achamos tempo, fazemos tempo, para aqueles a quem amamos.
E o cristão no sétimo dia se dispõe a retirar-se do mundo das coisas a fim de encontrar-se com o seu Senhor invisível na quietude de sua alma. Esse é o cristão que revela de modo muito tangível seu amor, lealdade e comprometimento com o Senhor. Ele é o cristão que oferece ao Senhor, não apenas um serviço superficial, mas o serviço de seu ser total.
Sim, o sábado significa serviço a Deus, mas ao mesmo tempo é serviço para nós próprios. De fato, o culto que prestamos a Deus no sábado tem o objetivo, não de ajudar a Deus, não de acrescentar poder ou força a Deus, mas transmitir poder e força à nossa própria vida pessoal. Deus não precisa de nosso descanso sabático, nem nossa adoração sabática, e Ele nem mesmo precisa de nosso serviço nos dias de semana.
O que Deus precisa, Ele diz, é de corações responsivos, mentes e almas dispostos a receber o Seu descanso em nossa própria vida.
E eis que o sábado cumpre uma função muito vital porque, como lemos em Hebreus, cap. 4, vs. 10, devemos cessar, desistir de nossos trabalhos, pois segundo este texto, esse ato de parar nosso trabalho nos permite entrar no descanso de Deus. Permite tornar-nos livres e disponíveis para Deus, e assim podermos entrar mais livre e plenamente nesse divino descanso e paz.
A pergunta que gostaria de considerar hoje brevemente é: como podemos nós, no sábado, experimentar esse divino descanso e renovação em nossa própria vida pessoal?
Gostaria de convidá-los para considerarem comigo quatro sugestões básicas, quatro maneiras em que tenho descoberto que o sábado me ajuda pessoalmente a experimentar descanso e renovação divinos em minha própria vida pessoal.
A primeira sugestão que gostaria de fazer-lhes é: descansem no sábado como se o seu trabalho estivesse realizado.
Isso pode soar como uma sugestão irreal porque muitas vezes se dá que quando chega a sexta-feira à noite pensamos que chegou mais cedo do que antecipávamos. Não acontece isso com vocês? Começamos a semana dizendo: "Bem, esta semana eu tenho tantas coisas a cumprir. . .", fazemos nossa lista de tarefas, mas o que acontece? A sexta-feira à noite parece chegar mais cedo do que esperávamos, e daí dizemos, mamma mia! Ainda tenho tanta coisa por fazer. . .
Mas deixem-me dizer-lhes algo. Se nossos maiores esforços produziram muito ou pouco, quando chega o sábado Deus nos diz: "Descansem de seu trabalho como se esse trabalho estivesse realizado". Por quê? Não para dizermos, nosso trabalho está concluído no sentido de que nossa vida, nossa obra sempre está inconclusa, esta é a verdade. Mas Deus nos convida a descansar porque Sua obra está feita. Lemos no relato da Criação, sim na história do estabelecimento do sábado em Gênesis, cap. 2, vs. 2, que no sétimo dia Deus concluiu Sua obra. Aqui nos diz que Adão terminou o seu trabalho, Eva terminou o seu trabalho. De fato, Adão e Eva tinham apenas vivido umas poucas horas quando o primeiro sábado veio. Eles não haviam completado qualquer semana de trabalho ainda, mas Deus convidou Adão e Eva e convida a vocês e a mim hoje para descansarmos no sábado, não necessariamente porque o seu trabalho e o meu trabalho estão completados, mas porque a Sua obra de criação, Sua obra de redenção, Sua obra de restauração final está completada e será completada. É por isso que Deus nos convida no sábado, não só a descansarmos do trabalho, mas descansarmos da preocupação com o trabalho, e isso é muito importante também, sabem por quê? Porque às vezes o que é esgotante e preocupante para a nossa vida não é apenas o trabalho, mas a preocupação a respeito do trabalho.
Já lhes ocorreu de terem que levar trabalho para a cama à noite? Ou acordar à noite para completar o trabalho que deixaram inconcluso durante o dia?
Uma boa coisa a respeito do sábado é que quando chega a sexta-feira à noite, nós podemos ir para a cama e dormir e descansar em paz porque Deus nos convida a descansar não só do trabalho, mas até do pensamento do trabalho! Isso é de fato ótimo, e é por isso que nós no sábado podemos verdadeiramente descansar. Por quê? Porque nossas mentes estão em repouso, e nossas mentes estão em repouso porque descansam em Deus.
No sábado nossos corpos podem verdadeiramente descansar porque nossas mentes estão em repouso, e nossas mentes estão em repouso porque descansam em Deus.
Uma segunda sugestão que quero compartilhar com vocês hoje é: tomem tempo para deleitar-se no sábado da grandeza da criação de Deus.
Sim, a segunda maneira em que podemos experimentar descanso divino e renovação é, como o profeta Isaías nos diz, em Isaías 58: 13 e 14, tomando tempo para deleitar-nos, desfrutar a bondade da criação de Deus manifestada no culto, nas pessoas, no alimento, no mundo ao nosso redor.
Para o verdadeiro observador do sábado o culto divino é mais rico, as pessoas são mais amistosas, o alimento é mais delicioso no sábado. Não há nada como aquelas boas lasagnas do sábado como feitos por minha esposa. O alimento durante a semana não se compara com ele, porque há o molho do sábado que o torna especial.
Permitam-me perguntar: por que tudo é tão especial, mais bonito, mais gostoso, mais prazeroso no sábado? Basicamente porque o sábado nos concede não só o tempo, mas também os recursos espirituais para desfrutar a Deus, as pessoas e as coisas.
Como vêem, entrar na celebração do sábado significa, por assim dizer, colocar um par de óculos em três dimensões, aqueles que transformam quadros simples em quadros tridimesionais. Ao celebrarmos o sábado, e mediante o sábado a criação perfeita, completa redenção, final restauração de Deus somos capazes de contemplar o mundo ao nosso redor, não meramente como é, mas como era originalmente e como será por fim.
Assim, ao longo do sábado podemos ver o mundo mediante a janela da eternidade. Somente mediante o sábado podemos experimentar uma antecipação, um antegozo e prefiguração da bênção e bondade do mundo por vir.
A terceira sugestão que gostaria de compartilhar com vocês em como tornar o sábado uma experiência de renovação, refrigério e descanso no Senhor é: tomem tempo para meditar sobre realidades espirituais.
Tomem tempo para meditação refletiva. Sabem de um coisa? Os analistas sociais nos dizem que uma das maiores maldições de tanta inquietude e tensão em nossa sociedade hoje é a falta de reflexão. As pessoas vivem numa correria tão grande que não têm tempo sequer para pensar em si próprias.
Algumas delas de fato se esquecem de seus problemas apenas mantendo-se ocupadas, correndo ao longo de dia para cumprir uma agenda de atividades, e vai para casa e de lá sai para nova série de atividades esperando esquecer seus problemas e tensões, apenas por se manterem ocupadas.
Mas permitam-me dizer-lhes algo: verdadeira paz interior e descanso se encontram não por nos esquecermos de nossos problemas pelo constante fazer coisas, mas por descobrirmos a nós mesmos descansando. O sábado nos traz essa verdade tão belamente no Salmo 46:10: "Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus".
Sim, é na quietude de nossas almas que podemos conhecer a Deus e experimentar Sua paz e descanso em nossa vida. E eu creio que o sábado nos concede uma oportunidade única para experimentar a realidade divina, ao nos empenharmos em meditação profunda. Porque o sábado, ao nos liberar das pressões de nosso trabalho diário, cria o clima de liberdade, o clima de tranqüilidade para a meditação profunda. Permitam-me fazer-lhes um apelo: ao planejarem para a celebração do sábado, planejem um tempo para meditação na sexta-feira à noite, no sábado à tarde, seja num grupo, ou sozinhos, ouvindo músicas sagradas, talvez lendo literatura devocional, admirando o ar-livre.
Devemos permitir diversidade para nossos exercícios espirituais. O fato importante é tomar algum tempo para meditar, deixar nossas mentes demorar-se sobre realidades espirituais. E eu lhes asseguro que se nós de fato tomamos esse tempo para meditação e renovação refletivas, isso restaurará o equilíbrio entre os componentes físico e espiritual de nosso ser. Isso dará uma chance a nossa alma para ajustar-se a nossos corpos.
Permitam-me ilustrar isso com a história de obreiros africanos que creio ser muito adequada neste ponto. Conta-se que alguns trabalhadores africanos estavam encarregados de transportar pesadas peças de equipamento no interior da África e após vários dias de marcha pesada, esses trabalhadores decidiram que havia chegado o tempo para pôr abaixo suas cargas, sentar-se sem ninguém para os interromper e não prosseguiriam. Podem imaginar como o dirigente da expedição ficou exasperado. Ele lhes dizia: "Levantem-se, vamos em frente. Temos um longo caminho a seguir!" Mas eles não prestavam atenção e nem se mexiam. "Por que não se mexem?" Foi quando um dos trabalhadores nativos respondeu: "Senhor, nós estamos esperando que nossas almas alcancem nossos corpos".
Eu gosto desse relato porque creio que se enquadra muito bem para ilustrar a função do sábado, que é dar uma chance de fazer nossas almas alcançarem nossos corpos, uma experiência de nova provisão de graça e força divina, um reabastecimento para nos ajudar a defrontar os desafios de uma nova semana.
A quarta sugestão que gostaria de fazer-lhes é: tomem tempo no sábado para dedicar-se a atividades recreativas apropriadas como um meio de experimentar essa renovação e
descanso divino pessoais.
Agora, este é um assunto delicado. De fato uma das perguntas que as pessoas costumam me fazer quando apresento Seminários do Dia do Senhor por este grande país e no exterior é: "O que o senhor considera atividades apropriadas?". Eu sempre me distancio de respostas padronizadas por duas razões: 1o. porque as necessidades físicas das pessoas são diferentes, não é verdade? Os adolescentes, cheios de energia, têm necessidades físicas diferentes para o sábado; o pedreiro de meia-idade que trabalhou duro durante a semana precisa de um tipo diferente de atividade sabática. Ademais, e essa é a 2a. razão por que não gosto de dar uma lista fixa de atividades apropriadas ou inapropriadas para o sábado, é porque no momento em que você elabora uma lista, nesse momento estamos encorajando um legalismo espiritual que pode abafar o próprio espírito de liberdade do sábado.
Assim, em vez de dar uma lista, permitam-me sugerir quatro princípios simples que, creio, devem nos guiar na escolha de nossas atividades recreacionais para o sábado. Principalmente, como no. 1, sugiro que nossas atividades sabáticas devem ter a Deus como o centro, e não serem centralizadas no eu. Como o profeta Isaías nos diz no capítulo 58, vs. 13 e 14, deleitar-nos no Senhor, expressar nossa alegria e celebração da bondade da criação de Deus.
Às vezes eu acho que em nosso temor de quebrantar o sábado tentamos desencorajar pessoas de dedicar-se a qualquer tipo de atividade. Eu descubro que às vezes há pessoas que pensam que a melhor maneira de celebrar o Dia do Senhor é ser paralítico, inativo. O que pensam disso? Acham que Deus é particularmente feliz em ver jovens, ou mesmo pessoas mais velhas, num tipo de imobilidade paralítica pelas 24 horas do sábado?
Para mim o que honra a Deus não é a ação ou inação per si, mas a intenção por detrás disso. Não pensam assim? Eu vejo que às vezes até os jogos bíblicos que consideramos uma atividade apropriada, podem tornar-se inapropriadas quando pessoas jogam para competir e vencer a todo custo. Eu vejo que isso é verdadeiro em minha casa. Tenho dois garotos e às vezes eles se metem em brigas enquanto brincam com jogos bíblicos, por quê? Por que o menino mais velho é muito esperto e deseja passar a perna no mais jovem e o mais jovem também não é bobo e não deseja ser enganado, assim apelam ao papai ou mamãe para acertar as coisas. . . "Veja, Danny não está jogando direito", e assim papai ou mamãe tem que intervir para lembrar-lhes que hoje é sábado e não se joga para competir, mas para ter comunhão um com o outro, para cultivar a presença de Deus em Seu santo dia.
Um segundo princípio que gostaria de sugerir é que nossas atividades sabáticas encorajem liberdade e alegria. Deve ser uma ocasião para celebrar a liberdade da redenção que o Salvador concedeu a cada um de nós. Às vezes a mesma atividade pode ser uma experiência de liberdade, regozijo ou uma experiência de restrição e tristeza. Permitam-me explicar: se nós planejamos ter, por exemplo, um piquenique no sábado à tarde no quintal da casa, essa é uma forma maravilhosa de celebrar o sábado juntos, perceber a bondade da Criação através de uma comunhão informal se preparo adequado foi feito para isso. Por outro lado, se certas pessoas, pode ser um irmão, ou irmã, tem que passar muitas horas durante o sábado para preparar todo o alimento para uma multidão que vier na tarde, então, digo-lhes, essa atividade torna-se um exercício em egoísmo. Por quê? Porque priva algumas pessoas da liberdade e do regozijo do sábado.
Um terceiro princípio que gostaria de sugerir é que nossas atividades sabáticas deviam dar ocasião a uma comunhão informal. Deve encorajar jovens e velhos a estarem juntos e desfrutar comunhão informal. Creio que no sábado à tarde, por exemplo, como crentes podemos nos reunir, seja dentro de casa ou no ar livre, e compartilhar experiências e talentos e estabelecer relacionamentos duradouros.
Eu me recordo com saudades dos felizes sábados que passei em Roma, primeiro, depois em Florença com os jovens. Gostávamos de sair em caminhadas para o Monte Morello perto de nossa escola em Florença. Parávamos num lugar conveniente e cantávamos juntos, orávamos, compartilhávamos histórias e experiências, e essa reunião, encorajada pela celebração do sábado, nos ajudava a estabelecer amizades duradouras por muitos mais anos pela frente, e assim celebrávamos adequadamente o dia do sábado.
Um quarto princípio que gostaria de sugerir na escolha de nossas atividades sabáticas é que devem ser verdadeiramente recreativas no sentido literal da palavra. Deve realmente contribuir para a renovação física, moral e espiritual. O que isso significa é que se a sua atividade no sábado o esgota, o deixa no sábado à noite com uma "ressaca" e tão exausto que precisa do dia seguinte, o domingo, para recuperar-se, então, permita-me dizer, essa atividade sabática não se conforma com o ideal divino para o uso do sábado.
Bem, o sábado não é só um serviço a Deus e a nós mesmos, mas também serviço a outros. Após ajudar-nos a servir a Deus e a nós próprios, o sábado nos desafia a alcançar outros.
Devem ter observado como o mandamento do sábado, por exemplo, traz uma menção específica de outras pessoas: servos, servas, estrangeiros, que eram também beneficiários de nossa preocupação e celebração. E também se lembrarão que o nosso Salvador, por exemplo, além de ensinar e ministrar no sábado, Ele se empenhou em nos mostrar e ensinar como o sábado deve ser compartilhado com outros. Lembram-se, por exemplo, como o Salvador disse em Mateus 12:12, que o sábado é o dia para fazer o bem. Em Marcos 3:4 o sábado é o dia para salvar. Em Lucas, cap. 13:12, o Salvador diz que o sábado é o dia para libertar homens e mulheres da servidão física e espiritual. Em Mateus, cap. 12:8, o Salvador declara que o sábado é o dia de misericórdia, não de religiosidade, não só de exercícios rotineiros.
A questão é—com quem devemos compartilhar o sábado? Com quem compartilharemos a celebração do sábado? Quem são os outros que devemos alcançar em nossa celebração sabática?
Primeiro, creio que devemos compartilhar a celebração do sábado com os membros de nossa família. O trabalho dos dias da semana tende a espalhar a família em diferentes direções, não é verdade? Esposo e esposa vão para o trabalho, os filhos para a escola, e em muitos casos não há realmente muita vida familiar porque todo mundo está seguindo um rumo diferente. Mas, amigos, quando a sexta-feira à noite chega, não é verdade que o descanso do sábado pode trazer a família junta?
Às vezes o pai se torna um estranho para os membros da família. Já ouviram seus filhos dizer, "dificilmente vemos o papai, ele está sempre longe"? Ou mesmo se o pai está em casa. Eu via meu filho às vezes chegar até o meu escritório no subsolo, e me dizia: "Papai, ouça. . ." E eu lhe dizia, "Sinto muito, filhinho, mas não posso ouvir. Agora eu tenho muito o que fazer. Eu tenho que preparar minha lição, tenho que concluir este capítulo, tenho que ditar esta carta, assim, deixe-nos por agora".
Quando chegava a sexta-feira à noite meu garotinho dizia: "Papai, agora pare de preocupar-se com o seu trabalho e dê-me ouvidos. Agora você deve ter algum tempo para me dar ouvidos". Não é isso bonito? Como o sábado concede a oportunidade aos pais de sintonizar-se com os membros de sua família.
Devo dizer-lhes que alguns dos momentos mais felizes em nosso lar, em nossa família de cinco, ocorrem nas sextas-feiras, quando após a confusão e correria da semana nossa família de cinco se reúne na sala de estar para dar as boas-vindas ao Senhor do sábado em nossa casa. E após cantarmos, lermos e orarmos juntos, ouvíamos uns aos outros, e eu tinha uma chance de alcançar os membros da família. Creio que o sábado é uma ocasião para reunir a família, para, por assim dizer, religar os laços familiares.
Em segundo lugar, creio que o sábado devia ser compartilhado de modo especial com nosso cônjuge. O rápido ritmo da vida moderna, assinalada por diferentes interesses profissionais, contribuem para uma crescente separação, destruindo casamentos em nossa sociedade, não é verdade? É-nos dito que 51% de todos os matrimônios celebrados nos EUA mais cedo ou mais tarde se desfazem.
Eu creio que o sábado pode funcionar como um catalisador para solidificar, fortalecer o relacionamento marital. Como? Em duas maneiras: teologicamente e praticamente.
Teologicamente, a santidade do sábado pode ajudar marido e esposa a preservarem a sacralidade de seu relacionamento marital. Por quê? Porque o sábado nos ensina que nosso relacionamento é sagrado e o casal no sábado tira tempo para renovar seu comprometimento com Deus através da celebração do sábado. Eles automaticamente também renovarão seus votos de compromisso de um para com o outro.
Por outro lado, o casal cristão que prefere ignorar a Deus no Seu santo dia dá margem a ele ou ela, se a ocasião surge, ignorar seu compromisso para com seu parceiro marital.
O sábado, além do aspecto teológico, tem um aspecto prático pois oferece oportunidade para marido e esposa aproximarem-se um do outro.
Minha esposa me diz que sente mais minha falta nos sábados do que em qualquer outro dia da semana. Obviamente isso também é verdade para mim. Por quê? Porque o sábado é o tempo em que realmente temos a oportunidade de adorar juntos, conversar, ter comunhão, brincar juntos como uma família, e eu vejo que essa unidade que o sábado propicia nos ajuda a vencer qualquer sentimento de separação que possa ter-se desenvolvido durante a semana.
Sim, o sábado deve ser compartilhado com os membros de nossa família, nossos cônjuges, mas também (e isso é muito importante) assistir as pessoas necessitadas. Notarão que no mandamento do sábado é dada especial ênfase aos estrangeiros e forasteiros, e Jesus também, como se recordam, estava ensinando por seu ministério que nos mostrou como o sábado não é apenas formado por regras para obedecer, mas pessoas para amar.
Uma das coisas que me impressionaram nessa pesquisa que realizei nos arquivos do Vaticano foi perceber naqueles antigos documentos judaicos como na preparação para o sábado, a mãe judia, por exemplo, preparava algum alimento extra e quando ia para o templo tinha um prato adicional e cadeira adicional para algum visitante sabático inesperado. Assim, quando ia para a sinagoga e encontrava alguma pessoa visitante, estendia àquela pessoa uma hospitalidade sabática.
Lembram-se daquele sábado quando Jesus e Seus discípulos saíram da sinagoga, ninguém lhes estendeu um convite sabático, e o que aconteceu? Eles tiveram que ir até um campo e começaram a comer sementes cruas de trigo? Quantos aqui gostariam de celebrar o sábado comendo trigo cru, levantem a mão. Ninguém parece estar interessado nessa proposta. Eu estou certo de que vocês, como eu, prefeririam comer essas boas lasagnas, ou tortas de maçã, ou seja lá o que tenha sido preparado especialmente para o sábado.
Mas nessa ocasião é que Jesus declarou que o sábado é o tempo de misericórdia, de preocupação, não só de religiosidade. E creio que seria uma coisa maravilhosa que também, em nossos próprios lares cristãos, à semelhança dos lares judeus, planejassem que no sábado compartilhemos o nosso alimento e comunhão sabática com uma mãe solteira, uma viúva, ou órfão, ou idoso, ou desanimado, ou frustrado, pessoas carentes que estão presentes em toda igreja, toda comunidade. Eu lhes asseguro que com esse compartilhar do sábado com outros nós não só enriquecemos nossa vida com alegria e satisfação, mas isso também nos ajuda a experimentar o divino descanso e paz em nossa vida.
A quarta área de serviço é aquele que o sábado nos ajuda a propiciar ao nosso habitat, ao mundo ao nosso redor. Analistas sociais nos dizem que a exploração irresponsável de nosso meio-ambiente está ameaçando nossa sobrevivência. Estamos experimentando hoje uma poluição e esgotamento de nossos recursos naturais que realmente ameaçam nossa sobrevivência. Permitam-me dizer que vocês e eu como cristãos devemos estar preocupados quanto a isso. Por quê? Porque cremos que Deus colocou vocês e eu como bons mordomos de Sua criação neste mundo. O que eu acho muito interessante nessa pesquisa é que o sábado pode propiciar incentivos teológicos e oportunidades práticas para vocês se tornarem bons mordomos da criação de Deus. Teologicamente eu descobri que o sábado nos ensina a respeitar a natureza de Deus porque o sábado nos ensina que compartilhamos da natureza, na criação, redenção e restauração final.
No sábado, sabem, Deus nos ensina que a natureza é nosso parceiro digno. Ensina-nos a salvação. Não é como os antigos gregos ensinavam, e alguns cristãos ensinam, que ao partir deste mundo segue-se para longe a fim de viver num mundo espiritual, abstrato. Não, as Escrituras nos dizem, particularmente mediante a celebração do sábado, que a criação, redenção, restauração ocorrem dentro deste mundo, e este mundo é parte e componente de nossa origem e destino, que significa que vamos desfrutar não só aqui e agora, mas no mundo por vir, que também significa que devemos aprender a amá-lo e respeitá-lo.
De modo prático aprendemos que o sábado nos ensina a respeitar o mundo natural ao nosso redor, sabem por quê? Porque no sábado não saímos para cortar as árvores, ou vamos ao pomar para apanhar as frutas ou as flores. Quando saímos para o ar livre no sábado apenas o fazemos para admirar, para desfrutar a criação de Deus, não é verdade?
E no sábado, ao nos ensinar a admirar a criação de Deus, como um canal, uma avenida de revelação divina, somos ensinados a sermos respeitosos da criação de Deus. Sabem, quando a natureza deixa de ser um objeto de adoração, torna-se objeto de exploração. Quero repetir--quando a natureza deixa de ser um objeto de adoração, torna-se objeto de exploração. E o sábado, ao nos ensinar a admirar a natureza como o canal, o veículo da revelação divina nos ensina a sermos os curadores, os mordomos, antes que predadores, exploradores da criação de Deus.
Notamos hoje nesta breve meditação que o sábado propicia serviços muito vitais para cada um de nós hoje. Notamos como por meio do sábado podemos servir a Deus mediante a consagração de nossa vida e tempo a Ele. Notamos que mediante o sábado podemos servir-nos a nós próprios experimentando renovação física, moral e espiritual. Notamos como mediante o sábado podemos servir a outros para estarmos mais próximos dos membros da família, de nossos parceiros maritais e das pessoas em necessidade. Notamos como mediante o sábado podemos servir ao nosso habitat, ao mundo mesmo em que vivemos, ao aprendermos, por respeitar este dia, a sermos os zeladores, em vez de predadores, da criação divina.
Oremos para encerrar, e que Deus ajude cada um de nós a empregar o sábado efetivamente para servi-Lo, a nós próprios, a outros e ao mundo que nos rodeia, e que o serviço do sábado nos ajude a experimentar mais livremente a realidade da paz e presença de Deus em nossa vida.
Oremos: Nosso amorável Deus do céu, agradecemos-Te por teres nos dado o sábado, e mediante o sábado tão maravilhosas oportunidades de servir a Ti, servir-nos a nós mesmo e a outros, bem como ao habitat natural ao nosso redor. Oramos, Senhor, para que ensines a cada um de nós a como empregarmos o tempo do Teu sábado, diligentemente. Senhor, nos ajude a que nas horas sagradas do sábado aprendamos a como nos consagrar mais plenamente a Ti, como experimentar renovação física, moral e espiritual para nós, como alcançar a outros, a nossos membros da família, a nosso cônjuge e às pessoas carentes ao nosso redor, e a como respeitar a Tua bela criação, admirando-a e sendo bons mordomos da beleza e bênçãos que nos tens concedido. E que o serviço que o Teu santo dia oferece a cada um de nós nos ajude a experimentar mais plenamente, mais livremente, a Tua divina paz e descanso em nossa vida. Finalmente oramos para que a paz do sábado, o descanso do sábado, seja uma experiência que se estenda a todos os dias da semana. Que cada dia da semana seja um dia em que, num certo sentido, desfrutemos a Tua paz e descanso sabáticos e descanso em Ti, é a nossa oração no nome de Jesus, amém.
Abraço a todos
Prof. Azenilto G. Brito
Ministério Sola Scriptura
Bessemer, AL, EUA
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