Alimentos coloridos protegem o cérebro (Parte 2)
Origens do Alzheimer
Tanto Joseph quanto Casadesús estão muito interessados em estudar o Alzheimer, e seu objetivo é se concentrar nos primeiros estágios da doença para ver se, tentando conter os primeiros sinais de perda de função cognitiva, se pode chegar a retardar o aparecimento dos efeitos mais devastadores dessa patologia neurodegenerativa. "É claro que não se pode curar o Alzheimer com a comida, mas o que nós gostaríamos é que cada pessoa possa reduzir sua probabilidade de desenvolver a doença e inclusive consiga preveni-la se souber que certos hábitos podem ajudá-la", afirma Joseph.
Ele e Casadesús tomam certa distância em relação às pesquisas atuais de Alzheimer, concentradas na formação de placas amilóides, porque crêem que a doença começa muito antes de que se acumule a proteína beta-amilóide e que os processos inflamatórios e oxidantes poderiam ter muito a ver com isso. Casadesús sabe que esses processos não são os únicos causadores, mas sua intenção é estudá-los antes que a proteína amilóide comece a se acumular, para poder entendê-los melhor e ver qual é seu papel.
"Acreditamos que a amilóide é produzida como compensação para combater um forte estresse oxidante, e o que queremos é estudar cronologicamente um modelo específico de ratos transgênicos que sofrem uma deterioração cognitiva semelhante ao Alzheimer - o SAMP8 - para ver que efeitos têm os antioxidantes", explica Casadesús.
A pesquisadora prevê utilizar resveratrol, o benéfico componente do vinho tinto, para conter a ação dos radicais livres. Esse trabalho está sendo feito em colaboração com uma equipe da Universidade de Barcelona e em parte com financiamento de La Marató da TV-3.
Apesar de o oxicoco consumido na Espanha ser diferente da "blueberry" americana (mirtilo) em que se baseiam esses estudos, o dr. Joseph afirma que os espanhóis podem se beneficiar dos antioxidantes consumindo morangos e nozes e bebendo vinho tinto. O pesquisador foi um dos primeiros a indicar as vantagens dos alimentos coloridos, como as frutas silvestres, espinafres ou brócolis. Casadesús insiste na importância da cor e acrescenta que outros estudos também demonstraram os benefícios dos fitoquímicos presentes nas maçãs, uvas pretas e romãs.
Outro nutriente importante para o cérebro são os ácidos graxos ômega-3, que se encontram em alimentos como o salmão, as nozes ou o kiwi. Segundo Gómez-Pinilla, eles atuam diretamente nas sinapses do cérebro, processo que é fundamental para o aprendizado e a memória. Um dos ômegas-3 mais importantes é o DHA, muito presente no salmão. "O DHA é um componente das membranas dos neurônios, mas tanto o cérebro como o corpo humano são deficientes na hora de produzi-lo, por isso temos de obtê-lo diretamente na alimentação", indica o pesquisador de origem chilena.
Exemplo de Okinawa
Há estudos que demonstraram a relação entre uma dieta deficiente em ômega-3 e o aumento do risco de doenças. Nesse sentido, é interessante observar o que acontece em Okinawa, uma ilha japonesa onde se consome muito peixe (mais que a média japonesa) e as pessoas fazem exercícios regularmente. Os habitantes da ilha têm uma das expectativas de vida mais altas do planeta, e o índice de distúrbios mentais é muito baixo.
Continuando na Ásia, também devemos prestar atenção à cúrcuma, uma especiaria procedente da Índia e um dos componentes do molho curry. Essa especiaria, que às vezes é chamada de "aspirina da Ásia", está sendo alvo de muitos estudos por seu valor como antiinflamatório e antioxidante. Na UCLA, uma equipe dirigida por Greg Cole pesquisa seus efeitos em doentes de Alzheimer e os resultados observados até agora são promissores: além de ser um poderoso antiinflamatório, a cúrcuma também parece reduzir o acúmulo de amilóide e a perda de marcadores sinápticos. Os especialistas indicam que a baixa prevalência de Alzheimer na Índia poderia ter a ver com o alto consumo de cúrcuma. O estudo de Gómez-Pinilla também salienta os benefícios para o cérebro dos alimentos ricos em ácido fólico (espinafre, suco de laranja, levedo) e de outros nutrientes, como os flavonóides (cacau, chá verde, frutas secas).
Esses três pesquisadores concordam em que é muito melhor comer diretamente o alimento do que tomá-lo em forma de suplemento. "Os diversos componentes de frutas como o oxicoco atuam no conjunto e em sinergia", afirma Casadesús. Da mesma forma, nos beneficiamos muito mais do ômega-3 do salmão silvestre do que do de criadouro.
Fonte:Controversia