Alimentos coloridos protegem o cérebro (Parte 1)

Ester Riu
Da mesma maneira que falamos de alimentos cardio-saudáveis, podemos falar de alimentos que são bons para nosso cérebro e que podem ajudar os neurônios a manter as conexões entre si e a retardar a deterioração das funções cognitivas associadas ao envelhecimento. Poderíamos chamá-los de alimentos neuro-saudáveis. Não se trata de uma dieta mágica nem de alimentar falsas promessas de manter o cérebro em perfeito estado, mas de identificar certos nutrientes que podem ter um efeito favorável em nossa matéria cinzenta.
O estudo da relação entre a alimentação e o cérebro é relativamente novo, mas há cada vez mais publicações científicas que demonstram que o que comemos afeta a saúde cognitiva, tanto negativa como positivamente, e que para manter o cérebro em bom estado, além de fazer "sudoku" e jogar Brain Trainer, podemos começar a prestar atenção em algo tão corriqueiro quanto a lista de compras.
"A comida é como uma substância farmacêutica que afeta diretamente o cérebro, e o fato de que pode alterar nossa saúde mental é muito animador, pois significa que as mudanças alimentares podem chegar a ser uma estratégia viável para proteger o cérebro, melhorar a capacidade cognitiva e deter os efeitos do envelhecimento", afirma Fernando Gómez-Pinilla, neurocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Essa análise traz informações que podem ser muito valiosas na hora de decidir o que comprar para comer. Em produtos tão comuns quanto morangos, nozes, salmão e espinafre podemos encontrar uma fonte poderosa de alimentação para os neurônios.
Frutas silvestres
A cientista catalã Gemma Casadesús, que pesquisa a perda cognitiva e o envelhecimento no departamento de neurociências da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (Ohio, EUA), afirma que dá todos os dias a seus filhos morangos, framboesas e oxicocos [arando, uva-do-monte, "cranberry"]. Por que essas frutas, exatamente? A pesquisadora é muito consciente do poder antioxidante das frutas silvestres, depois que demonstrou em sua tese de doutorado, há quatro anos, que ratos que tinham sido alimentados com oxicocos eram capazes de produzir novos neurônios - processo conhecido como neurogênese - no hipocampo, a região do cérebro associada à memória.
Casadesús realizou sua tese sob a supervisão de James Joseph, chefe do Laboratório de Neurociência do Jean Mayer USDA Centro de Pesquisa de Nutrição Humana e Envelhecimento na Universidade Tufts, em Boston, e um dos primeiros a descobrir o efeito protetor dos antioxidantes no cérebro.
Joseph publicou um estudo em 1999 no "Journal of Neuroscience", segundo o qual ratos de 19 meses - equivalentes a humanos de 65 ou 70 anos - que foram alimentados com extratos de nutrientes ricos em antioxidantes haviam demonstrado melhora na memória em curto prazo. Mais especificamente, os que haviam tomado extrato de oxicocos melhoraram nas tarefas de equilíbrio e coordenação. Desde então Joseph toma todas as manhãs um punhado de oxicocos com o café da manhã.
Nos últimos dez anos Joseph estudou as propriedades dos antioxidantes de frutas e verduras para tentar entender como podem ter esse efeito tão benéfico no cérebro. "Por trás das doenças cardiovasculares, da diabetes, do câncer, do Parkinson e do Alzheimer estão a inflamação e o estresse oxidante, e observamos que os arándanos têm a capacidade de apagar esses sinais inflamatórios e oxidantes e acender outros positivos que os bloqueiam", explica.
Continua...