7 a 14 de março |
Interpretando os escritos proféticos |
Sábado à tarde | Ano Bíblico: Dt 32–34 |
VERSO PARA MEMORIZAR: "E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lucas 24:27). |
Leituras da semana: Is 65:17; Mc 1:15; Rm 2:14-16; Ef 2:8, 9; Tg 2:14-26; 1Jo 5:12, 13
Como adventistas do sétimo dia, cremos que Ellen White manifestou o dom de profecia. A próxima pergunta, porém, é: Como interpretamos seus escritos?
Embora creiamos que sua inspiração – não sua autoridade – está no mesmo nível dos profetas do Antigo e do Novo Testamento, quando interpretamos o que ela escreveu, devemos aplicar aos seus escritos os mesmos princípios de interpretação que utilizamos para as Escrituras. Realmente, os princípios para interpretar a Bíblia podem ser usados quando interpretamos os escritos de Ellen White, embora a autoridade da Bíblia esteja acima da autoridade do Espírito de Profecia. Para usar uma analogia da lei americana: Pode-se usar os mesmos princípios para interpretar uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos como para interpretar a decisão de um tribunal inferior mas, no fim, a decisão da Suprema Corte tem a principal autoridade.
Prévia da semana: Qual é a diferença entre exegese e o uso homilético de um texto bíblico? Por que o contexto é tão importante? Pessoas que nunca ouviram o evangelho podem ser salvas? Qual é a diferença entre o reino da graça e o reino da glória?
Ano Bíblico: Js 1–4 |
Exegese
A exegese se preocupa com o significado original de um texto. Concentra-se no que o autor queria dizer e o que o texto significava para o leitor original.
1. Qual é o significado original ou exegético de Romanos 2:14-16? Compare Ez 3:17-19; Rm 10:12-17
Não existe dúvida de que haverá pessoas no Céu que nunca ouviram o evangelho. "Há, entre os gentios, pessoas que servem a Deus ignorantemente, a quem a luz nunca foi apresentada por instrumentos humanos; todavia não perecerão. Conquanto ignorantes da lei escrita de Deus, ouviram Sua voz a falar-lhes por meio da natureza, e fizeram aquilo que a lei requeria. Suas obras testificam que o Espírito Santo lhes tocou o coração, e são reconhecidos como filhos de Deus" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 638).
Em algumas ocasiões, independentemente dos mensageiros humanos, Deus alcança as pessoas em terras pagãs e as salva. Porém, serão salvas porque o Espírito Santo tocou seu coração e elas responderam apropriadamente, como suas obras comprovam. Não são salvas simplesmente porque viveram à altura de sua consciência; se fosse assim, seriam salvas pela guarda da lei, e o Novo Testamento nega claramente essa possibilidade (Rm 3:28; Gl 2:16). A questão em Romanos 2:11-16 é a responsabilidade de judeus e gentios, não sua salvação. O fato de que Deus não faz acepção de pessoas (v. 11) é ilustrado pelo que Paulo diz em Romanos 2:12. "Todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados". Esses "sem lei" são os gentios que não têm a lei escrita que foi dada aos israelitas no Monte Sinai. Porém, perecerão, não porque não tiveram a lei escrita, mas porque são pecadores que transgrediram a lei "gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência" (v. 15).
No juízo, judeus e gentios serão julgados e condenados por suas respectivas leis, os judeus, pela lei escrita, e os gentios, pela lei "gravada no seu coração". Entre os gentios, a consciência cumpre a mesma função que a lei escrita cumpre entre os judeus. As Escrituras dizem claramente que "não há justo, nem um sequer" (Rm 3:10). Isso significa que judeus e gentios são igualmente pecadores e são todos salvos da mesma maneira, não pela guarda de qualquer lei mas só pela morte de Jesus na cruz.
Sua consciência é confiável como guia? Seguir a consciência sempre garante que você tomará a decisão certa? Justifique sua resposta. |
Ano Bíblico: Js 5–8 |
Homilética
A homilética é a arte de pregar. Em uma classe de homilética, o estudante aprende a preparação de sermões e como usar as Escrituras para pregar. Às vezes, um pastor pode usar apenas o teor de um texto, sem consideração especial pelo seu significado original, para ensinar uma lição ou um apelo durante o sermão. Isso é chamado de uso homilético das Escrituras.
2. Qual era o reino que Jesus proclamava estar próximo em Marcos 1:15?
O reino que Jesus estava proclamando naquele tempo era o reino da graça, que Ele estabeleceu no primeiro advento. Mas o texto também pode ser aplicado à nossa situação hoje. Em uma manhã de sábado, um pastor pode dizer à congregação: "Todas as profecias de tempo já estão cumpridas, o reino de Deus está próximo". E ele pode declarar que hoje precisamos de arrependimento e crença no evangelho. O reino que o pastor moderno tem em mente, porém, não é mais o da graça, mas o reino da glória, que Cristo inaugurará na segunda vinda. A primeira interpretação de Marcos 1:15 é exegética; a segunda é homilética.
De acordo com Marcos 1:17, Jesus estava caminhando certo dia pelo Mar da Galileia quando viu Simão e André, seu irmão, lançando uma rede ao mar (eles eram pescadores). Jesus lhes disse : "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens", e imediatamente eles deixaram as redes e O seguiram.
Um pastor moderno, usando as palavras de Marcos 1:17, pode convidar os membros da igreja a seguirem Jesus porque só Ele pode nos fazer pescadores de homens. Exegeticamente, o texto se aplica a Simão e André, mas homileticamente, ele pode ser aplicado a todo cristão, porque Jesus quer que todos nos tornemos pescadores de homens (Mt 28:19, 20).
Com frequência, Ellen G. White usava as Escrituras homileticamente. Ela estava embebida da linguagem bíblica, e sempre que falava ou escrevia um tópico, usava a linguagem bíblica e textos bíblicos para transmitir para a Igreja a mensagem que recebia do Senhor. Por exemplo, no livro Educação, Ellen G. White tem um capítulo sobre o estudo da fisiologia. Falando sobre a boa postura, ela diz: "Entre as primeiras coisas que se deve ter em vista está a postura correta, estando sentado ou em pé. Deus fez o homem ereto e deseja que ele obtenha não somente o benefício físico, mas também mental e moral, graça, dignidade, compostura, ânimo e autoconfiança que essa atitude correta tende a promover de maneira tão evidente" (Educação, p. 198). Esta expressão: "Deus fez o homem ereto" é uma citação de Eclesiastes 7:29, mas quando Salomão escreveu Eclesiastes, estava se referindo à retidão moral, não à postura.
Ano Bíblico: Js 9–13 |
Tempo e lugar
Um princípio importante de interpretação bíblica é o de estudar os tempos e circunstâncias em que um texto em particular foi escrito e por quem.
3. O que Jeremias descreve no capítulo 4:23-26?
Quando a maioria dos adventistas lê estes textos, pensa no milênio. Porém, quando escreveu este texto, cerca de 600 a.C., Jeremias não estava pensando no milênio. O contexto dessa passagem é a destruição de Jerusalém em 586 a.C. No verso 1 Deus disse a Israel: "Volta para Mim; se removeres as tuas abominações de diante de Mim, não mais andarás vagueando". Em outras palavras, ainda havia tempo para se arrepender. Se tivesse voltado ao Senhor, Israel não teria sido levado para o cativeiro.
Por meio de Jeremias, Deus apelou para que Seu povo se afastasse de seus maus caminhos, mas ele não ouviu. Nos versos 23-26 o profeta viu o que aconteceria se o povo desobedecesse. Em linguagem poética, ele descreveu a ruína e desolação que viria sobre a terra de Judá por causa da desobediência. A lição que precisa ser levada em conta é que, quando buscamos interpretar um texto, é importante saber quando esse texto foi escrito e sob que circunstâncias.
O que aconteceu com Judá e Jerusalém em 586 a.C. é um tipo do que acontecerá ao mundo no futuro. Quando Jesus vier e a Terra foi purificada com fogo, Jeremias 4:23-26 será uma descrição adequada deste mundo durante o milênio. Assim, exegeticamente, Jeremias 4:23-26 se refere à destruição de Jerusalém. Simbolicamente, porém, se refere também ao tempo do milênio. Ellen G. White, então, cita Jeremias 4 para descrever a situação na Terra durante o milênio (O Grande Conflito, p. 659).
Ao ler Ellen White, precisamos também levar em conta tempo e circunstâncias. Por exemplo: em 1897, a Sra. White escreveu que "do dinheiro despendido em bicicletas e roupas, e outras coisas desnecessárias, deve-se dar contas" (Testemunhos Para Ministros, p. 398).
No fim do século 19, a bicicleta não era um meio econômico de transporte mas, ao contrário, era um brinquedo para ricos. As melhores bicicletas custavam 150 dólares, investimento comparável ao custo de um carro caro nos dias de hoje. As pessoas estavam comprometendo sua renda por meses de antecedência para comprar o que era, naquele tempo, um custoso artigo de luxo. Depois de alguns anos, a bicicleta se tornou um meio útil e barato de transporte, e ela nunca mais falou contra ela.
Sua política a respeito das bicicletas estava baseada no princípio bíblico da boa mordomia. Se ela vivesse hoje, provavelmente aplicaria esse princípio a outras coisas nas quais as pessoas gastam seu dinheiro de maneira inconsequente.
Ano Bíblico: Js 14–17 |
Contexto estrito
4. Em Isaías 65:17, a que novo céu e nova Terra o profeta se refere? É a Nova Terra que os cristãos esperam no futuro?
No contexto estrito, Isaías diz: "Não haverá mais nela criança para viver poucos dias, nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem anos é morrer ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será amaldiçoado" (v. 20). Morte na Nova Terra? Essa não pode ser a Nova Terra que esperamos após o milênio. Então, que novo céu e nova Terra são esses mencionados no verso 17?
Nesta passagem, Isaías descreve uma "nova criação" que teria existido se Israel, depois da restauração do cativeiro babilônico, tivesse permanecido fiel a Deus e cumprido a comissão divina de ser uma luz para o mundo (Is 42:6). Infelizmente, isso não aconteceu, e assim, a profecia, que era condicional, não se cumpriu. Esse "novo céu e nova Terra" nunca se tornaram realidade. Não obstante, em sentido secundário, esses versos apontam para o Novo Céu e a Nova Terra que existirão no fim do milênio. Mas naquela "Nova Terra e Novo Céu" não nascerão filhos para os remidos (Mt 22:30), não haverá mais tristeza nem morte (Ap 21:4), então, temos que ser cuidadosos em saber até onde podemos levar a imagem.
5. Em Parábolas de Jesus, Ellen White faz a declaração de que "nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos" (p. 155). Isso significa que nunca podemos estar certos da nossa salvação? 1Jo 5:12, 13
Quando estudamos o contexto, descobrimos que ela estava discutindo se uma pessoa pode estar excluída da graça depois da conversão. Muitos cristãos de seus dias criam na doutrina de "uma vez salvo, salvo para sempre". Ellen White era claramente contrária a esse ensino. No contexto, ela diz: "Jamais podemos confiar seguramente em nós mesmos ou sentir, aquém do Céu, que estamos livres da tentação" (p. 155).
O contexto estrito deixa claro que ela estava tratando da questão da confiança própria e das tentações depois da conversão. Nunca estamos protegidos das tentações, nunca podemos dizer que não podemos cair, que estamos salvos e assim, protegidos da tentação, mas isso não significa que em Jesus não possamos ter a certeza diária da salvação.
Ano Bíblico: Js 18–21 |
O contexto amplo
O contexto amplo se refere ao que outros textos, além da passagem imediata, têm a dizer sobre um assunto em particular. Ele pode se referir a outros capítulos de um livro, o livro inteiro ou a todas as Escrituras.
6. Somos salvos somente pela graça mediante a fé, ou também precisamos de obras? (Ef 2:8, 9; Tg 2:14-26). Paulo está em conflito com Tiago na questão da salvação? O que os textos a seguir têm a dizer sobre esse assunto? Rm 3:21-28; Rm 4:3; Gl 3:6-12
Quando olhamos para o contexto amplo nas Escrituras, o que outras passagens dizem sobre o assunto, descobrimos que Tiago não estava defendendo as boas obras como requisitos da salvação. Ao contrário, ele afirmava que existem dois tipos de fé, uma válida e outra inválida. Paulo falava sobre a fé válida, que é seguida por boas ações. Tiago se referia à fé inválida que pára em nível intelectual; a fé que é mero assentimento mental.
Paulo usou o exemplo de Abraão para mostrar que somos justificados com base na fé válida, ou real. Tiago mostrou que a fé demonstrada por Abraão era real porque produzia boas obras (obediência). Então, não precisamos de qualquer coisa a não ser a fé, fé válida, para ser salvos, e nosso comportamento mostra se nossa fé é válida ou não.
Quando lemos Ellen White, também precisamos examinar o contexto amplo em seus escritos; isto é, tudo o que ela escreveu sobre um assunto em particular. Não podemos tirar apenas uma ou duas declarações e tirar conclusões precipitadas com elas. Por exemplo, na questão de comer carne, ela tem muitas declarações que parecem absolutas, mas também muitas declarações que precisam ser consideradas.
No livro Conselhos Sobre o Regime Alimentar, por exemplo, ela diz: "Verduras, frutas e cereais, devem constituir nosso regime. Nem um grama de carne deve entrar em nosso estômago. O comer carne não é natural. Devemos voltar ao desígnio original de Deus ao criar o homem" (p. 380). Se alguém ler apenas esta declaração, chegará à conclusão de que sob nenhuma circunstância devemos comer carne. Porém, algumas páginas adiante, existe esta declaração: "O regime cárneo não é o mais saudável, e todavia eu não tomaria a atitude de que ele deva ser rejeitado por toda pessoa. Os que têm órgãos digestivos fracos podem, muitas vezes, comer carne, quando não lhes é possível ingerir verduras, frutas e mingaus" (p. 394, 395. Veja também a lição de sexta-feira.) Quando olhamos para o todo do que ela escreveu sobre determinado assunto, emerge um quadro equilibrado, inestimável a todo cristão que leva a sério sua religião.
Ano Bíblico: Js 22–24 |
Estudo adicional
Ellen G. White, Fé e Obras, p. 35-39, "Cristo, Justiça Nossa"; p. 41-46, "Ellen G. White Elucida Vários Aspectos"; p. 47-50, "Fé e Obras".
Diretrizes adicionais para a interpretação dos escritos inspirados
Além das diretrizes estudadas na lição desta semana, precisamos (a) pedir a direção do Espírito Santo no estudo de Sua Palavra; (b) procurar ter em mãos uma ou mais boas traduções bíblicas; (c) procurar princípios que sejam universais e aplicáveis a todos, em todos os lugares, e em todas as épocas; (d) estar dispostos a obedecer às verdades que descobrirmos; (e) Ter mente aberta e disposta a abandonar posições anteriormente defendidas; (f) evitar interpretações extremistas; (g) trabalhar junto com pessoas de experiência; e (h) usar o bom-senso.
O que Ellen G. White disse sobre "uma vez salvo, salvo para sempre":
"Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável. A queda de Pedro não foi repentina, mas gradual. A confiança em si mesmo induziu-o à crença de que estava salvo, e desceu passo a passo o caminho descendente até negar Seu Mestre. Jamais podemos confiar seguramente em nós mesmos ou sentir, aquém do Céu, que estamos livres da tentação. Nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos. Isso é enganoso. Deve-se ensinar cada pessoa a acariciar esperança e fé; mas, mesmo quando nos entregamos a Cristo e sabemos que Ele nos aceita, não estamos fora do alcance da tentação" (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 154, 155).
Perguntas para consideração
1. De que outras maneiras os escritos de Ellen White têm sido mal-empregados? Que podemos fazer para evitar a armadilha de rejeitar o todo simplesmente porque não foi usado corretamente?
2. Pense no que nos foi dado com a mensagem de saúde conforme aparece nos escritos de Ellen White. Que grandes bênçãos podemos receber se a usarmos corretamente? Que armadilhas devemos evitar?
Respostas sugestivas:
Pergunta 1: Nem por não terem a lei escrita, como nós, são os gentios desculpados de guardar a lei, pois Deus lhes deu Sua lei em seus pensamentos e coração.
Pergunta 2: O reino da graça.
Pergunta 3: Descreve a condição de Jerusalém após a destruição provocada pelos babilônios. A aplicação secundária se aplica ao milênio.
Pergunta 4: Esta foi uma profecia condicional que não se cumpriu, referindo-se a um período de restauração após o cativeiro babilônico.
Pergunta 5: Veja nota.
Pergunta 6: Veja nota.
FONTE: WWW.ADVIR.COM.BR