segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Breve Histórico da Vida de Samuele Bacchiocchi (segundo leitura feita durante o seu culto fúnebre)

Breve Histórico da Vida de Samuele Bacchiocchi (segundo leitura feita durante o seu culto fúnebre)

Samuele Bacchiocchi, ou como ele preferia ser conhecido, "irmão Sam", nasceu em 29 de janeiro de 1938, em Roma, Itália, a poucos passos de distância do Vaticano. O mais velho de 5 irmãos, Sam cresceu num lar humilde e religioso onde o seu pai, Gino, e mãe, Evelina, trabalhavam duro para criar os filhos no amor e temor do Senhor. Um ano antes de Sam nascer, seu pai, que trabalhava como pedreiro e tinha educação até a 3a série, recebeu uma Bíblia de um conhecido valdense. Ao estudá-la ele ficou convencido de que o sábado era o verdadeiro dia de observância. Desse ponto em diante, a família observava independentemente o sábado, o que significava que, entre outras coisas, Sam não freqüentava a escola no sábado. Devido a suas convicções, Sam era zombeteiramente chamado "il judeo" ou "o judeu", e era impiedosamente ridicularizado e rejeitado tanto por colegas como por professores. Finalmente, um dos professores de Sam disse que a menos que ele conseguisse trazer um atestado médico justificando suas ausências, iria ser reprovado em seu curso. Muito esperta, sua mãe obteve do médico da família um atestado que afirmava que "a mente Samuele Bacchiocchi era incapacitada no sábado". (Pouco suspeitava o seu professor ... ou qualquer um ... que anos mais tarde, seria precisamente no sábado que a mente de Sam seria mais inspirada ao ele falar a milhares por todo o mundo).

Além do assédio e bombardeio emocional com que Sam tinha de lidar na escola, aquele era o tempo da Segunda Guerra Mundial, e havia abundância de bombas verdadeiras que ameaçavam a sua segurança. Durante os muitos ataques aéreos, Sam e sua família viam-se obrigados a se refugiar em cavernas, às vezes por dias. De fato, Sam teve uma infância difícil. Ele recordava como muitas vezes deixou de celebrar o seu aniversário e nem recebia presentes. O brinquedo de infância que mais apreciava era um que obteve por seu próprio suor e engenhosidade. Sam acompanhava o pai a locais de construção e saía à caça de pregos usados para endireitá-los. Após achar e endireitar vários baldes de pregos, ele os vendia, com o que ganhou o suficiente para comprar uma velha bicicleta enferrujada.

Esta tenacidade de trabalho duro continuou pelos seus anos de adolescência, quando, a fim de custear os estudos, assumiu o trabalho de colportagem ao longo do litoral adriático. Muitas vezes viu-se perseguido pelos padres católicos tendo que sair da cidade. No entanto, quando tinha um dia favorável, recompensava-se com doces ou sorvete, sabendo que iria estar a trabalhar duro no dia seguinte. Aparentemente, ele teve muitos dias favoráveis porque foi capaz de ganhar o estipêndio escolar para ele e sua irmã, Maria, ao cursarem a Academia Adventista de Villa Aurora, em Florença. Após a graduação, ele freqüentou o Newbold College, na Inglaterra, novamente colportando para ganhar não só o estipêndio escolar dele, como também de sua irmã, Maria, seu irmão, Paolo, e, finalmente, de sua noiva, Anna Gandin.

Em 1960, com idade de 22 anos, Sam recebeu o Bacharelado em Artes do Newbold College e veio para a Universidade Andrews trabalhar em dois mestrados, um em História da Igreja e outro em Divindade. Enquanto na Andrews, Sam continuou a colportar para sustentar-se durante os anos escolares. Entre seus trabalhos e estudos, uma de suas poucas diversões era jogar voleibol, e sua equipe venceu um campeonato de voleibol interno. Uma vitória ainda maior ocorreu no meio do seu segundo ano de estudos, quando, em 21 de dezembro de 1961, conduziu sua querida, Anna Gandin, até o altar da capela do Seminário Teológico.

Em fevereiro de 1964, após completar seus estudos na Universidade Andrews, Sam e Anna partiram para Kuyera, Etiópia, onde Sam tinha aceito um convite de lecionar Bíblia e História num Colégio Adventista. Sam e Anna serviram ao Senhor como missionários ali por cinco anos e meio. Durante seu primeiro ano na Etiópia, foram abençoados por Deus com uma preciosa menina, Loretta.

Logo que chegou à Etiópia Sam preocupou-se com o fato de que muitos estudantes não eram capazes de pagar suas mensalidades. Um dia ele notou um arbusto peculiar, que crescia no campus, e soube ser era um tipo de capim que se usava para fazer vassouras. Anos antes era assim utilizado, mas agora ninguém sabia como fazer isso, por isso o arbusto ali ficava, sem utilização, ano após ano. Agora, Sam nunca tinha montado uma vassoura antes, mas estava determinado a fazer com que a escola produzisse vassouras novamente. Ele foi à cidade, comprou uma vassoura, desmontou-a e percebeu como era montada. Ensinou isso aos ansiosos alunos que agora tinham um meio de ganhar dinheiro para os seus estudos! Além desse sucesso com o negócio de produção de vassouras para o colégio, Sam estudou como fazer mesas e cadeiras de madeira e metal de encanamento. Após a preparação de um protótipo, ele obteve a sua primeira encomenda, assim, começou a fábrica de carteiras escolares do colégio, o que acabou requerendo que um missionário fosse trazido à Etiópia para administrar o negócio. Quem teria imaginado que estas empresas, iniciadas por um obreiro bíblico, permitiriam que o colégio em Kuyera ficasse livre de dívidas e permitisse que estudantes pudessem pagar suas mensalidades!

Após dois anos na Etiópia, Anna ficou grávida do seu segundo filho, Daniel, o que exigiu a adição de mais um quarto para a sua casa. Este desafio Sam tomou a si com seu espírito empreendedor. Uma vez que o colégio não tinha um nível de carpinteiro para garantir que as paredes ficassem retas, um equipamento para isso se fazia necessário. Sam, prático como sempre, procurou até que encontrou o que parecia ser um bom material para tal função ao qual faltava um gancho. Sam imediatamente teve a idéia de soldar-lhe um gancho. Durante a soldadura, o material se revelou como realmente um morteiro da II Guerra Mundial que explodiu em sua mão! Imediatamente arrancou o seu dedo indicador direito, e o seu polegar direito ficou muito danificado, bem como outros dos dedos e várias partes do seu corpo. Milagrosamente, Deus salvou Sam da explosão e o preservou durante a penosa viagem de 2 horas até o hospital mais próximo. O médico queria amputar os dedos danificados, mas Sam, não estava dispostos a desistir, e convenceu os médicos a fazer o melhor para manter os dedos restantes, apesar de ter sido avisado de que uma gangrena se tornaria provável, o que exigiria a amputação do braço inteiro. Nesse momento Sam orou a Deus dizendo que se Ele salvasse sua mão direita, iria utilizá-la para glorificar a Deus através de seus escritos. Deus preferiu realizar o milagre e Sam renovou sua dedicação de serviço ao Senhor, que se tornou sua incansável paixão até ao fim.

Após concluir o seu serviço missionário na Etiópia, Sam estava ansioso para prosseguir em sua educação. Embora tivesse sido aceito pela Universidade Yale para fazer o seu doutoramento, um sacerdote católico italiano com quem Sam havia feito amizade na Etiópia convenceu-o a solicitar matrícula na prestigiosa Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, Itália. Após um extenso processo de entrevista, Sam tornou-se o primeiro não-católico a ser admitido pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em mais de 450 anos de sua história. Começando em 1969, Sam gastou os próximos cinco anos na Gregoriana trabalhando num Doctorado em História Eclesiástica. Durante seus muitos anos ao ser vítima de zombarias como sendo "il judeo" por causa de suas crenças e do sábado, Sam desenvolveu uma intensa paixão pela defesa da observância bíblica do sábado como o verdadeiro dia de adoração, observado pelo próprio Jesus e Seus apóstolos. Agora, ele tinha acesso aos ricos arquivos históricos da instituição católica, e ali aplicou o coração e alma em suas pesquisas.

Quando Sam foi admitido na Gregoriana, foi-lhe dito que sob nenhuma condição devia discutir a fé adventista . . . a menos que indagado. Pelo fato de Sam vestir-se de maneira diferente dos seus colegas, todos sacerdotes católicos de diversas ordens, ele era muitas vezes indagado, "de que ordem é você?" Ele gostava de lhes dizer brincando que era da "ordem adventista", o que em seguida conduzia a muitas discussões acerca da fé adventista de Sam. Em meio a seus estudos em Roma, o terceiro filho, Gianluca, nasceu. Uma vez que Sam tinha uma família crescente para sustentar, além dos gastos com seus estudos doutorais, ele continuou aplicando sua habilidade empresarial, em Roma, atuando em venda de imóveis.