domingo, 18 de outubro de 2009

Integridade e honradez

Integridade e honradez

Há dois dias abordei o assunto da desonestidade que parece vigorar um pouco por todo o lado. Mas devemos reconhecer que ainda há quem prefira fazer o que é correto, quando, eventualmente, o mais fácil seria o contrário...

E porque este espaço não serve para destacar os maus exemplos, ainda que advirta contra eles, justiça seja feita àqueles que preferem a honradez de um comportamento íntegro. Até porque, também devido à escassez, são estes que devem receber a maior divulgação!

Veja aqui um desses casos. Trata-se de alguém - uma humilde padeira - que tendo encontrado 9.300 Euros (!) perdidos no meio da rua, escolheu avisar as autoridades e devolver a quantia ao legítimo dono.

Se quiser ler a notícia completa, faça-o aqui de seguida.

'Uma padeira de Penafiel devolveu, ontem, terça-feira, mais de nove mil euros em dinheiro a um homem que o havia perdido. As notas encontrou-as espalhadas pelo chão e numa pasta.

Como habitualmente, "Luzia padeira" saiu de casa para ir distribuir o pão pela freguesia de Valpedre, Penafiel, e redondezas. Deu dois passos e viu milhares de euros espalhados pelo chão. Pasmada, recolheu duas notas de 500 euros, duas de 200, cinco de 100 e 34 de 50 euros, num total de 3.600 euros. Adiante estava uma pasta com mais dinheiro, perfazendo um total de 9300 euros. A padeira chamou a GNR e devolveu todo o dinheiro ao dono, que o perdera.

"Só uma pessoa de consciência tranquila consigo mesma é que não se sente tentada por tanto dinheiro", desabafa Luzia Rocha, de 62 anos, moradora na Rua de Maragoça, Valpedre, Penafiel. Padeira há 33 anos, percorre durante a madrugada todos os lugarejos da freguesia para deixar pão na casa da clientela.

Ontem, a rotina foi quebrada com um achado espantoso: ao sair de casa, cerca das 2,10 horas, viu, numa pequena rampa, junto à casa de um agente de seguros, centenas de notas no chão.

"Pareceu-me papelada da política atirada para a entrada da casa. Mas quando me baixei para ler os papéis reparei que era uma nota de 50 euros. Ei lá! São notas, uma atrás de outras!" exclamou. Chamou o marido.

O casal deslocou-se de novo para a porta do agente de seguros onde as notas foram encontradas e viram uma pasta preta. "Que diabo seria aquilo!? Estaria alguém ali perto?!", interrogou-se o casal, chamando a dona da agência de seguros, que ligou para a GNR de Penafiel. Pensando tratar-se de um objecto armadilhado, a GNR accionou a brigada de minas e armadilhas do Porto.

Os militares abriram a mala e viram mais notas, ao todo 9.300 euros. Como na pasta havia livros de facturas, o dono foi contactado pela padeira. "A pasta era do Moisés, um jovem que faz festas de casamento numa quinta à beira de minha casa. Liguei para a mulher dele e perguntei se o marido não tinha perdido nada".

O promotor de eventos de casamento foi à GNR de Penafiel levantar a pasta. "Tinha recebido esse dinheiro de uns clientes do Marco de Canaveses. Deixei a pasta com o dinheiro em cima da mala do carro e nunca mais me lembrei. Arranquei e a mala caiu, mas não dei por nada", explicou António Moisés Rocha, 44 anos.

Ao falar deste episódio, Luzia Rocha recorda um outro, de há dois anos. "Estava no café e roubaram-me 780 euros de uma saca de plástico, dinheiro do pão. Fui à missa rezar e a pessoa que me roubou devolveu-me o dinheiro no dia seguinte. Dei-lhe 300 euros", recorda a padeira de Valpedre.

Lei obriga a comunicar achado de bem que não seja próprio

A lei obriga a quem encontrar um objecto que não é seu comunicar às autoridades o achado, em vez de se apropriar ilegitimamente dele. No caso de objectos, se o legítimo proprietário não aparecer durante um ano, o objecto em questão fica propriedade de quem o encontrou, explicou fonte da GNR.

No caso da pasta de dinheiro, a situação é idêntica. Imaginemos que Luzia Rocha se apoderasse indevidamente da maquia. Estaria a incorrer no crime de apropriação ilegítima (artigo 209 do Código Penal), explicou fonte da MA Sociedade de Advogados de Penafiel.

Se, porventura, o dono do dinheiro viesse a descobrir que a senhora se apoderou desse dinheiro encontrado, ela sujeitar-se-ia a ser julgada por esse crime, podendo incorrer numa pena de prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias.

Porém, em termos práticos, é muito difícil a alguém provar que o "dinheiro vivo" é seu, pelo que, não fosse a boa-fé e a honestidade da padeira de Valpedre, bem que o promotor de festas de casamento ficaria sem 9.300 euros.'