§ Analisando o Ensino Bíblico §
Como a Bíblia Descreve o Fim de Tudo—a Morte da Morte!
O problema de alguns debatedores do tema da natureza e destino humano é alegarem que o sentido de "castigo eterno" em Mateus 25:46—"E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna"—indica a eternidade literal, em termos de tempo infinito, para os condenados. Só que as coisas não são assim, de modo algum. Vejamos:
a) De fato, a palavra "eterno" (aionios) é a mesma para ambos—salvos e perdidos. O tema discutido está relacionado com o aspecto do destino "eterno" dos dois grupos.
b) Só que estão RELACIONADOS em termos de destino final de ambos os grupos, porém NÃO IGUALADOS, pois há contraste entre a condição de vida eterna do grupo de remidos, e o de morte eterna do outro grupo.
c) Cristo está estabelecendo a ANTÍTESE do destino final de salvos e perdidos, e, logicamente, é um destino eterno, definitivo para os dois grupos. A palavra "eterno" está relacionada em ambos os casos, mas não igualada em seu sentido absoluto porque há outras informações na Bíblia para se entender a sorte dos salvos e dos perdidos indicando vida eterna do lado de Deus para os salvos, e "destruição dos homens ímpios" (2 Pedro 3:7). Afinal, a Bíblia diz claramente que "O salário do pecado é a morte" (Rom. 6:23).
d) Na análise do tema do destino final dos homens não podemos ignorar o começo da história humana partindo de uma premissa não comprovada—de que dentro do ser humano haja uma partícula imortal, criada por Deus no princípio (Gênesis 1 e 2), em função da qual os ímpios terão que viver eternamente no fogo do geena, em que são lançados. Simplesmente não ocorre tal informação na descrição da criação do homem (Gên. 2:7). Nós somos almas viventes, não temos alma.
e) Se não se deve ignorar o começo da história, tampouco o fim deve ser passado por alto, ou o que a Bíblia ensina sobre a sorte dos condenados—o lago de fogo. O fato é que logo em seguida à menção da ação desse lago de fogo, que é a segunda morte, o que temos é uma descrição de "novos céus e uma nova terra . . . e o mar já não existe [nem o lago de fogo]". Não há, pois, espaço para qualquer lago de fogo prosseguir sua obra destrutiva sobre a superfície dessa Terra renovada, nem consta qualquer informação de que salte de sobre a Terra para prosseguir queimando em outro recanto do universo (ver Apocalipse 20:14-21:8).
f) Também há uma dificuldade tremenda para os advogados da tese da eternidade literal das penas dos condenados, porque Cristo fala da ressurreição em termos de que todos vêm das sepulturas, os que fizeram o bem, para a "ressurreição da vida", e os que praticaram o mal, para a "ressurreição da condenação" (João 5:28, 29). Mas se os condenados são, por fim, lançados no lago de fogo, teriam que possuir corpos de uma estrutura tal que fossem eternamente refratários ao fogo! Contudo, somente os remidos terão corpos "incorruptíveis", como Paulo acentua em Filipenses 3:20, 21 e 1 Coríntios 15:35-54.
g) Ademais, a linguagem bíblica de destruição é claríssima, tanto no Velho, quanto no Novo Testamento. O salmista Davi chega a dizer que os ímpios "derreterão como a cera" (68:2), serão "como a palha que o vento dispersa", desarraigados e eliminados de modo total (ver Salmo 1:4; 37:10, 20). Ezequiel fala do "rei de Tiro", numa representação do próprio Satanás, que será destruído inteiramente, "e nunca mais serás para sempre", como constam de algumas versões (Ezequiel 28:14-18). Malaquias 4:1-3 diz dos condenados que não ficará "nem raiz, nem ramos", mas se tornarão em cinzas!
No Novo Testamento temos Paulo falando de como os ímpios serão eternamente destruídos e banidos da face do Senhor (2 Tessalonicenses 1:7-10) quando Cristo vier trazendo consigo os fogos da vingança sobre os inimigos de Deus. Isto é significativo, pois mostra que o inferno de fogo AINDA NÃO EXISTE, o castigo é futuro! E 2 Pedro 3:6 a 10 trata dessa destruição final em termos claríssimos, utilizando a palavra apollumi e derivadas e traçando um paralelo entre a destruição sobre os pecadores antediluvianos com os do tempo do fim. Ou será que os antediluvianos "pereceram" nas águas do dilúvio ficando em eterno tormento líquido, sob tais águas?
h) As palavras "eterno" e "eternamente" não têm sempre em hebraico (olam) e grego (aion, aionios) o sentido absoluto de tempo infindável como em português. Vejamos três sentidos disso em hebraico e três em grego:
Em hebraico (Velho Testamento) :
1 – O Salmo 23:6 diz—"habitarei na casa do Senhor para sempre-olam". Contudo, comparando diferentes versões nota-se que diferentes tradutores, tanto para o português quanto para outros idiomas, preferiram verter olam neste verso como "por longos dias"!
2 – O próprio Jonas, relata sua dificuldade nestes termos: "Desci até à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim para sempre—olam, contudo fizestes subir da sepultura a minha vida" (Jonas 2:6). Que "para sempre" mais breve—durou somente três dias e três noites!
3 – A lepra de Naamã recairia sobre Geazi, o servo de Eliseu, que mentiu e enganou o rei e o profeta, e sobre sua descendência " para sempre-olam". Será que hoje há leprosos sofrendo de tal enfermidade por serem descendentes do problemático servo do profeta? (ver 2 Reis 5:27)
Em grego (Novo Testamento):
1 – Hebreus 6:2 fala do "juízo eterno- aionios". Isso não significa que o juízo é um processo que tem começo mas não tem fim, e sim que tal juízo é de conseqüências e/ou efeitos eternos.
2 – Filemom, vs. 15, traz "para sempre- aionios" no sentido do tempo de vida de um homem (o servo ou o seu amo).
3 – O fogo que destruiu Sodoma e Gomorra foi "eterno" (Judas 7), contudo a cidade não está queimando até hoje, porque foi um fogo eterno em suas conseqüências (ou efeitos).
Finalmente, há dicionários gregos que explicam isso:
Liddel & Scott (Dicionário Grego) dá os seguintes significados de aion:
"1. Um espaço ou período de tempo, especialmente toda a vida. Vida. Também a vida de uma pessoa. Idade: a idade do homem. . .
"2. Um longo período de tempo. Eternidade . . .
"3. Mais tarde. Um espaço de tempo claramente definido . . . Uma era. A vida presente. Este mundo".
Alexandre Cruden, em sua conhecida Concordância (em inglês), assim anota a palavra "eterno":
"As palavras 'eterno', 'perpétuo', 'para sempre' são algumas vezes tomadas no sentido de um longo espaço de tempo, e não devem sempre ter estritamente esse sentido".
E o erudito Basil Atkinson observa:
"Quando o adjetivo aionios com o sentido de 'eterno' é empregado no grego com substantivos de ação faz referência ao resultado da ação, não ao processo. Assim, a frase 'castigo eterno' é comparável a 'eterna redenção' e 'salvação eterna', ambas sentenças bíblicas. Ninguém supõe que estamos sendo redimidos ou sendo salvos para sempre [como um processo]. Fomos redimidos e salvos de uma vez por todas por Cristo, com resultados eternos. Do mesmo modo, os perdidos não estarão passando por um processo de punição para sempre, mas serão punidos uma vez por todas com resultados eternos. Por outro lado, o substantivo 'vida' não é um substantivo de ação, mas um que expressa uma condição. Assim, a própria vida é eterna".– Life and Immortality. An Examination of the Nature and Meaning of Life and Death as They Are Revealed in the Scriptures (Taunton, Inglaterra, n. d.), p. 101.
Conclusão : Não devemos tomar textos ou termos isolados das Escrituras para daí fixar doutrinas, segundo pressupostos de crenças arraigadas na mentalidade popular. Uma análise mais detalhada do sentido de palavras-chave, como os adjetivos "eterno", "perpétuo" e expressões tais como "para sempre", "não se apagará" (para o fogo do castigo) precisa ser empreendida antes de chegar a uma conclusão de sentido real do que o autor quer transmitir, ao descrever o castigo final dos ímpios.
Tomar palavras soltas, textos isolados de sua contextuação imediata ou global, termos de sentido dúbio, metáforas e hipérboles interpretadas literalmente sem considerar as características lingüísticas (como no Hino Nacional Brasileiro, o "pátria amada, IDOLATRADA" não significa que literalmente assim o seja) nunca foi a melhor metodologia para o estudo da mensagem divina aos homens ao longo das Escrituras.
Estudo composto pelo
Prof. Azenilto G. Brito
Ministério Sola Scriptura
Bessemer, Ala., EUA
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