Tambores e os Instrumentos do Senhor: Objeções e Refutações a Vanderlei Dorneles
As objeções do irmão Dorneles se referem ao meu artigo "Tambores e Os Instrumentos do Senhor", no qual analiso alguns dos argumentos contra o uso da percussão na música adventista do ponto de vista do transporte da arca em 1 Crô. e do Templo de Salomão.
Na parte final o irmão Dorneles aborda meu outro artigo "Ellen White Era Contra a Bateria na Música Sacra?" no qual analiso o culto da Carne Santa, mais especificamente a declaração "haverá gritos, com tambores música e dança" descrita no livro Mensagens Escolhidas vol. 2, p. 31-39.
Gostaria de ressaltar que eu em suas objeções, o irmão Dorneles não abordou questões cruciais que embasam o meu artigo e o uso da percussão na música Adventista hoje:
1. A autorização clara nos Salmos versus as "condenações" ausentes em 1 Crônicas e em outras partes da Bíblia;
2. As referências históricas do uso da percussão na adoração Israelita em conexão com a adoração no Templo (Salmo 81) e que "agradava" a Deus (Salmo 149:3-4; Salmo 150);
3. As referências históricas do uso da percussão na adoração do Segundo Templo;
4. O fato de que o ritual do Santuário (inclusive a música), abolidos na cruz não apresenta um modelo ou paralelo exato à Igreja, embora ofereça princípios gerais.
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Prezado André Reis!
(Nota: Meus comentários ao irmão Dorneles estão em cor azul).
Espero que esteja bem, sob a graça de Deus, nosso Pai!
Como você tomou liberdade de me enviar seu texto, o que eu agradeci, e como se mostrou aberto para debater este tema, tomei a liberdade de ler seu texto recente sobre instrumentos de música e louvor na Bíblia. E também de elaborar algumas considerações sobre partes dele, o que espero você receba com o mesmo espírito simpático que tem tido. Como eu disse numa mensagem recente, todos nós somos irmãos em Cristo, e é bom termos liberdade e consideração mútua enquanto debatemos acerca da Palavra de Deus. Se mantivermos um espírito humilde e receptivo, o Espírito Santo poderá nos guiar à verdade, que é o que desejamos de coração. O amor da verdade, como diz Ellen White, é uma grande virtude cristã, especialmente entre nós adventistas.
Eu creio que você e muitos outros que falam sobre a música de louvor têm esse mesmo sentimento e o desejo de conhecer a verdade. E nisso creio que podemos dizer que estamos no mesmo caminho.
Bem, você fez um texto acerca do já muito comentado transporte da arca para Jerusalém, onde se destacam, em Crônicas, as questões musicais envolvidas nas duas festas preparadas por Davi, com o título "Tambores e os instrumentos do Senhor". Creio que seu texto teve intenção de responder ou comentar meu artigo "O canto do Senhor", que está disponível em vários sites e blogs.
Seu argumento principal foi de que o texto de 1 Cr 15:20, que utiliza o termo hebraico al-alamoth seria uma referência às mulheres de Israel em dança com tamborins.
Vou me concentrar neste ponto, mas alguns outros itens podem ser repassados no transcorrer.
Um deles é que meu artigo não afirma que os tambores tinham a culpa do fracassado do transporte da arca. Isso não pode ser lido no meu texto.
(Isso pode ser lido nas entrelinhas, sutilmente creio, ao você dizer que a ênfase na música do segundo transporte indica que Davi modificou-a como esforço de fazer a vontade de Deus. Na sua opinião, a longa descrição da música indica que ela fora crucial no processo, a despeito do fato de que ela não fazia das instruções de Deus para o transporte da arca, o que faz a aparente ausência dos tambores uma proibição tácita ao seu uso.)
O que está afirmado é que Davi sabia que errou no que diz respeito a quem deveria transportar a arca. O que foi dito é que Davi não corrigiu esse ponto apenas e fez todo o restante igual. Crônicas trata do assunto do transporte da arca num único verso (1Cr 15:13), e depois temos quase dois capítulos permeados do tema da música. O ponto principal é que houve uma mudança na música, e isso está claramente narrado em diversos versos como demonstrei.
(Ellen White afirma que não havia nada de errado com a música do primeiro transporte, ela fora "alegre e solene" [PP 706].)
Não se trata do silêncio da Bílbia. É o contrário, ela é clara em afirmar detalhes da música, incluindo os instrumentos, cantores, etc.
(O escritor de Crônicas era possivelmente alguém envolvido com o serviço do Templo e é de se entender que ele dê ênfase à atuação dos levitas, que por ocasião da escrita do livro eram parte do serviço do Templo. A tradição judaica diz que foi Esdras mas não se sabe 100%. Porém, eu não leria mais do que a simples descrição de um ornamento na cerimônia, a música, pois ela não teve influência no transporte, a não ser auxiliar na celebração de todos e servir de base para a música do Primeiro Templo que tinha função celebrativa apenas. Creio que isso é evidente pelo fato de que Deus abençoou os levitas que levavam a arca segundo suas instruções em Núm. 4:15 e 7:9, e não porque tocavam harpas.)
O artigo também não fala que certos instrumentos foram proibidos. O que diz é que um grupo específico de instrumentos foi escolhido para a música do templo. E isso fica tão claro para Israel que ao longo de mais de 500 anos, a lista é repetida em diversos textos (1Cr 15:16, 19-24, 28, 16:5, 42, 23:5, 25:1, 6, 2Cr 5:12-13, 29:25-27, Nee 12:27, Is 39:20). A lista é consistente, não havendo qualquer relevante alteração entre os textos.
(Concordo, o problema é que ela não representa a argumentação usada pelos oponentes da percussão, pois há sempre uma implicitação de que certos instrumentos foram proibidos, o que não podemos concluir do texto. Além do que a história do Segundo Templo confirma que mais instrumentos foram adicionados pelos levitas.)
Tratando especificamente do sentido de al-alamoth, você diz que "a hipótese mais provável é a de que alamoth era na realidade uma melodia hebraica". Mesmo assim, com base na informação de alamoth (mulheres) tocando tamborins no Salmo 68:25 você conclui que "há uma forte possibilidade de que o Salmo 68 esteja descrevendo em linguagem poética o próprio transporte da arca e do seu reestabelecimento em Jerusalém, especialmente os versos 24-25".
Você diz que vários comentaristas apoiam esta idéia. Mas aqueles que você cita dizem que "parece evidente que [o Salmo 68] foi composto naquela ocasião festiva e alegre". Outro diz que "a ocasião do Salmo poder haver sido em um contexto de vitória, na qual a arca é trazida para Sião." Outro diz "o Salmista descreve um evento feliz, como quando Davi trouxe a arca para Jerusalém". Outro ainda diz que "Este Salmo pode ter sido cantado na cerimônia do transporte da arca de Quiriate-Jearim a Jerusalém."
(Do ponto de vista acadêmico precisamos dizer "pode haver", "parece" porque não há como precisar exatamente a ocasião do Salmo, como se dá com a maioria dos Salmos. As evidências indicam que o Salmo 68 tem fortes paralelos com o transporte da arca, mas não podemos estar 100% seguros. É o que eu disse no meu artigo.)
Na verdade, dois deles dizem o que você conclui, mesmo assim dizem que isso é apenas uma possibilidade. Os outros dois dizem que o salmo pode ter tido alguma relação com o evento, como que tivesse sido cantado ali.
A despeito disso, com base nessas evidências fluidas, você conclui: "Se o Salmo 68 de fato baseava-se no transporte da arca da aliança de Quiriate-Jearim a Jerusalém ou estava de alguma maneira relacionado a ele, então não há dúvidas de que o tamborim das alamoth fez parte também da segunda tentativa de trazer a arca."
(Veja que eu uso "Se" pois sempre há uma possibilidade de que não seja.)
O texto de 2Sm 6:20-22 não diz que Davi dançou com as mulheres. Diz que Davi dançou e isso na presença das mulheres. Os dois textos de Crônicas e Samuel são claros em dizer que só Davi dançou.
(Mas o texto não diz que o povo e as mulheres "não dançaram" ele apenas diz que "Davi dançou". Considerando-se a história das celebrações de Israel, é muito provável que elas tenham dançado também, embora não seja mencionado. É na história de Israel que eu baseio minhas conclusões e esse artifício exegético é usado da arqueologia à teologia sistemática; são fortes evidências que não ferem o sentido do texto.)
Mesmo assim, você diz que, "com base no Salmo 68:24-25 e no relato de 1 Crônicas 15, é seguro concluir que as liras (ou alaúdes) dos levitas (v. 20) tocavam 'al alamoth', a melodia hebraica Alamoth das virgens que dançavam e tocavam tamborins, enquanto as harpas respondiam em estilo antifonal (responsivamente) ou em contracanto, tocando 'al ha sheminith', a melodia Sheminith e marcando também o ritmo antifonal (v. 21). O povo, incluindo as virgens celebravam com seus tamborins e dança, acompanhavam a procissão, cada grupo respondendo ao outro em sua melodia e tessitura vocal e cada qual adicionando seus instrumentos à música. Esta prática de coros antifonais pode ser vista no Salmo 136."
Todo o seu argumento depende necessariamente da tradução de al-alamoth e de sua possível ligação com o Salmo 68:24-25.
Gostaria de destacar que, com base nessa "possível" tradução e na "possível" ligação com o Salmo 68, você está relativizando as cinco outras referências claras aos instrumentos sem menção de tambores nesse contexto de 1Cr 15 e 16.
(E o que dizer da tentativa de estabelecer um "padrão de louvor" que parece excluir a percussão ai nesta passagem mas que acaba relativizando versos claros na Bíblia que autorizam o seu uso da adoração?)
Como eu disse acima, estou propondo uma hipótese - que é tão boa quanto outras de outros teólogos - para a qual temos fortes evidências não só históricas mas linguísticas. Essa prática é muito comum em estudos da história de Israel. Muitos conceitos musicais dos tempos bíblicos são baseados não em declarações bíblicas, mas de achados arqueológicos recentes por exemplo, costumes da época, literatura extra-canônica. Isso é aceitável ao estudo de questões culturais e históricas, como é o caso da música da Palestina antiga. Lembre-se que não estamos tratando aqui de um ponto doutrinário mas sim de um mero costume da época, pois toda a música de Israel, inclusive como os instrumentos escolhidos para o Templo, refletiam a cultura Palestina antiga.)
Quanto ao sentido de alamoth nesse relato, precisamos considerar que o termo está precedido da preposição al, que significa "em" ou "sobre", e o substantivo literalmente significa "virgem" ou "donzela".
(Seu argumento todo é baseado em apenas duas possíveis traduções da preposição "al". Vc mesmo concorda que a tradução do hebraico é interpretação e depende do contexto. No entanto, ao limitar a preposição apenas a dois significados, você ignora justamente o aspecto interpretativo em que "al" quando se referindo a uma melodia, pode ser traduzida sem problemas como "em", i.e., "na melodia Alamoth". Nesse caso, ela pode ser traduzida também como "de acordo com", "segundo," dependendo do contexto. Por exemplo no Salmo 46 na Nova Versão Internacional em inglês aparece como "segundo Alamoth", o que não ocorre na versão em português.)
Mas, por que nenhuma versão faz essa leitura? Muito simples. O texto fica totalmente desconexo, como: "... com alaúdes em voz de virgens", ou "... com alaúdes em tom de donzelas", ou ainda "... com alaúdes em virgens". Na verdade essa tradução literal já sugere o que os tradutores entenderam, o sentido é de uma voz musical, como das virgens.
(Continua não havendo um consenso sobre o que o termo "al alamoth" possa significar realmente e a hipótese que proponho é baseada num contexto mais amplo que envolve o Salmo 46 e 68 e outras celebrações de Israel que envolviam as "alamoth". Mas isso é só uma forte hipótese, pois é impossível estabelecer com certeza o sentido real da palavra. A interpretação como sendo tonalidades não é útil e não está no texto, até porque as liras e as harpas da época tinham afinação bastante próxima. A Bíblia de Scofield por exemplo comenta que: "Alguns têm concluído que as "alamoth", virgens, eram um coral do Templo que cantavam em antífona com o "sheminith", ou coral de homens." [Comentário do Salmo 46 que traz "al alamoth". O fato de que o autor está escrevendo da perspectiva do serviço do Segundo Templo que parece ter incluído mulheres cantoras (Esdras 3:65) pode apontar para esta direção também]". A Bíblia de Estudo de Genebra traduz Alamoth como uma melodia sacra no Salmo 46.)
Lembre-se que tradução não é um trabalho mecânico de simplesmente se trocar palavras duma língua por palavras de outra língua. Tradução é interpretação, principalmente em se tratando do hebraico.
(Aqui você se contradiz pois traduz mecanicamente a preposição "al" enquanto interpreta livremente alamoth. Essa tradução é inconsistente. Veja meu ponto acima sobre a preposição "al".)
No hebraico, alguns verbos estão só implícitos, há frases longas com apenas duas ou três palavras, outras sem sujeito, há diversos substantivos concretos que representam conceitos abstratos, como em 1Reis 20:31, onde "cordão" significa "cativeiro", em outra parte diz "sai-lhes o vento, e eles morrem". Assim, o tradutor do hebraico precisa deduzir e interpretar freqüentemente.
Tendo isso em vista é que a maioria das versões não traduzem 1Cr 15:20 com o uso de "virgens", ou "donzelas", ou "melodias", mas por "soprano" ou "agudos". Assim, a tradução fica coerente com o contexto, uma vez que os versos imediatos tratam de tonalidades dos instrumentos.
(É impossível estabelecer de maneira inequívoca que a tonalidade dos instrumentos está sendo tratada nos termos "al alamoth e al ha sheminith" de 1 Crônicas 15 quando nem se sequer sabemos a que eles se referiam musicalmente. O termo permite ser entendido no contexto do Salmo 46 como uma possível indicação melódica. Mas novamente, não há um consenso entre os estudiosos. Sua conclusão de que os termos tratam da tonalidade dos instrumentos é baseada em algumas traduções dos termos, que são inexatas e hipotéticas.)
E é também coerente com a construção e o uso da preposição al, que é "em".
(Mais uma vez, 'al' pode ser traduzida também como "de acordo com" ou "segundo" quando se considera a hipótese "segundo a melodia alamoth".)
Como você poderia ler um texto como: "... com alaúdes em donzelas"? Fica estranho. Essa estranheza significa para o tradutor que a interpretação está errada.
(A dificuldade de precisar o que os termos significam levou algumas traduções a deixar as palavras no original o que seria preferível: "liras em Alamoth e harpas em Sheminith". Qualquer tradução é hipotética, até a minha.)
Os melhores léxicos não dão à palavra alamoth o sentido de "melodia", mas de "virgem" ou "donzela" como sentido literal, e "soprano" e "falsete" como sentido figurado, que é claramente o caso deste texto de Crônicas, como boa parte das versões o traduzem.
(Eu também não dei o sentido de "alamoth" como sendo melodia. A tradução de alamoth continua sendo "virgens". Musicalmente, no entanto, usavam-se palavras não-musicais para indicar questões de performance musical, como a frase "al ha gittit" no Salmo 8:1, que quer dizer "de acordo com as vinhas" ou "no estilo da cidade de Gade" que a Septuaginta traduz como "Segundo a Melodia dos Vinhateiros"; há também a melodia "A Pomba Nos Terebintos Distantes", (Salmo 56) "Não Destruas", (Sal. 75), "Shoshanim" e outras. Por isso o termo "Virgem" (Alamoth) referindo-se a uma melodia é consistente com esta prática. Por isso propus a hipótese de que cada instrumento tocava uma melodia, haja vista que as kinnorot (liras) e as nebalim (harpa) tinham afinação praticamente idêntica; não só o número de cordas era bem próximo mas a portabilidade dos instrumentos indica essa semelhança.).
Diante das questões de tradução envolvendo al-alamoth, é evidente que o texto não poderia ser colocado em confronto com os demais versos do mesmo contexto no sentido de inserir aí os tambores de qualquer forma, que é o que você parece estar fazendo. Todos os outros versos do contexto não falam desse instrumento, nem das tais "virgens".
(Essa questão também foi abordada no artigo, a interpretação de 'al alamoth' como uma melodia hebraica é consistente com o relato de EGW que infere "cânticos" antifonais dos dois grupos de músicos.).
E quanto ao Salmo 68?
Esse salmo não é objeto de unanimidade entre os comentaristas, que discutem sua autoria, unidade e propósito. O que caracteriza o salmo é a figura de Jeová como "guerreiro".
(O Salmo é uma descrição poética de um evento real portanto a linguagem é indireta, floreada. Sem dúvida o transporte da arca de volta para Jerusalém significava o estabelecimento de Jeová como aquele que destrói seus inimigos também pois os filisteus haviam usurpado a arca e sofreram terríveis flagelos. A arca da aliança acompanhava os Israelitas nas guerras simbolizando a presença de Deus e isso conferia à arca um significado de vitória na guerra. Seu transporte para Jerusalém continha esse elemento de celebração das vitórias de Deus. Por essa razão não há discrepância entre Jeová guerreiro e as celebrações festivas do transporte da arca para o Santuário).
O salmo fala da arca, mas não é do evento de Davi.
(Você acabou de dizer que não há unanimidade sobre a ocasião do Salmo mas acaba apresentando uma interpretação arbitrária. Não podemos determinar com 100% de certeza que não era. É mais seguro dizer "é possível" como eu fiz.)
Os versos 1 e 2 retratam a ida da arca à frente de Israel no deserto, citando Nm 10:35. Os versos 12 a 17 retratam as vitórias de Deus em favor de Israel numa clara referência à conquista da terra prometida, com o "Sinai" tornado-se santuário (v. 17), e o Sião sendo escolhido em lugar de Basã (v. 15), eventos claros da conquista de Canaã.
(Creio que não temos autoridade para precisar exatamente quais eventos estão sendo celebrados e quais não o são no Salmo 68. Tudo são hipóteses em se tratando dos Salmos pois a linguagem é poética, simbólica às vezes e os contextos bastante incertos. Para Israel Deus era o Salvador principalmente no contexto da guerra. Lembre-se que a arca havia sido usurpada pelos filisteus mas Deus os puniu e a arca foi devolvida.)
Os versos 24-26 em que você baseia a possível ligação com o evento de Crônicas, fala de Deus e não do povo, em primeiro lugar: "Viu-se, ó Deus, o teu cortejo, o cortejo do meu Deus, do meu Rei, no santuário" (v. 24, ARA). "Ó Deus, eles têm visto os teus caminhos; os caminhos do meu Deus, meu Rei, no santuário" (ARC). "É bela a tua marcha triunfal, ó meu Deus e meu rei, quando sais do teu santuário" (SBP). O sentido nesta última versão é que Deus vence os inimigos e e volta vitorioso para o seu santuário.
(A arca era um símbolo da presença de Deus com Seu povo, por isso a "tua marcha triunfal" pode aplicar-se intercambiavelmente à arca e a Deus.)
O sentido de guerra e luta é claro e descarta qualquer ligação com Crônicas. "Deus parte a cabeça dos seus inimigos" (v. 21), e "para que banhes o pé em sangue, e a língua dos seus cães tenha o seu quinhão dos inimigos (v. 23). Esses são os versos imediatos dos versos (24-25) que você diz referirem-se ao transporte da arca, aquela festa alegre e religiosa.
(Note que o Salmo cantado por Davi após o transporte da arca em 1 Crônicas 16 também tem sentido de Deus como vencedor: "Cantem ao SENHOR, todas as terras! ... Pois todos os deuses das nações não passam de ídolos, mas o SENHOR fez os céus [possível referência à arca perante Dagom em 1 Samuel 5].... tremam diante dele, todas as nações! ... Clamem: 'Salva-nos, ó Deus, nosso Salvador! Reúne-nos e livra-nos das nações... " O texto fala claramente de vitória sobre as nações e é compatível com a celebração do Salmo 68. O Salmo 136 que é definitivamente litúrgico traz o tema de Deus como guerreiro (v. 10-15)).
Com tanto sangue, é difícil de ver nesses versos imediatos ao verso 25 que fala das "donzelas", uma referência à alegre festa do transporte da arca. No contexto de Crônicas, Deus diz que Davi não faria uma casa para ele exatamente porque Davi era "homem de sangue".
(Não podemos ler o Salmo da nossa perspectiva, temos que fazê-lo na perspectiva do povo: Israel vivia em um contexto bélico e o sangue dos inimigos era um sinal da vitória de Deus pelo Seu povo, da Sua obra salvífica. O sangue destes é mencionado no contexto do louvor a Deus no Santuário. Haja vista que o transporte da arca era uma vitória sobre os filisteus que a haviam usurpado e também significa o estabelecimento do Templo, não há qualquer incompatibilidade aqui entre o contexto de guerra, vitória e o transporte da arca. Pelo contrário, o transporte da arca para Jerusalém era a culminação da vitória de Deus sobre seus inimigos até ali.
E também vejo outro problema com a descontextualização do verso que diz que Davi era um homem de sangue. No Salmo 68 Davi está louvando a Deus porque "DEUS" é quem "quebra a cabeça dos seus inimigos" e que faz o sangue jorrar. Não se sustenta portanto o paralelo de que o sangue era incompatível com a celebração no Templo, pois aqui Deus é o "Deus de sangue".)
Assim, este salmo 68 tem sido visto como um salmo que fala das vitórias de Deus em favor de Israel contra inimigos, na conquista de Canaã. E não há uma relação clara entre os eventos que ele reflete e o transporte da arca, a menos que versos sejam tirados do contexto, o que nunca deve fazer o estudioso da Bíbla especialmente em questões controversas.
(Pelo contrário, o Salmo 68 parece ter relações diretas com Crônicas pois expande a temática de Deus como vencedor adentrando no "Seu Santuário" que é justamente o que acontece no estabelecimento da arca da aliança "no Santuário" em Jerusalém. O paralelo não poderia ser mais claro, só não podemos afirmar com 100% de certeza.)
Se você encontrar outras fontes fora da Bíblia que contradigam as declaracões bíblicas, prefira sempre a Bíblia. Essas fontes da tradição têm valor mas só para confirmar o que a Bíblia diz, nunca para dizer o que devemos saber ou entedender na Bíblia.
(As fontes extra-canônicas citadas no artigo são documentos rabínicos confiáveis, como o Talmude e Mishnah, que descrevem o serviço do Segundo Templo bem como o relato de testemunhas oculares.
Por outro lado, o artigo de Dorneles, "O Canto do Senhor" parece se apoiar no título do Salmo apócrifo 151 que diz: "de Davi por ocasião da vitória sobre Golias" e as aplica ao Salmo 150 para apoiar o argumento de que Davi neste tempo não tinha luz sobre o uso dos tambores na adoração. Não sabemos como ou quando o Salmo 150 foi composto.)
Você tem dito muitas vezes que não há nenhum texto claro que proiba o uso de tambores. Certamente, mas eu nunca escrevi que Deus proibiu os tambores ou outra coisa qualquer nesse contexto. O que está claro na Bíblia e nos textos que escrevi é que Deus indicou um modelo de louvor em substituição ao que Israel fazia.
(Interpretar uma mera lista de instrumentos primitivos da Palestina como "padrão" de louvor é impraticável hoje. Isso porque não temos qualquer idéia de como a música do Templo soava, como era executada, em que tonalidade ou que contorno melódico tinha. Por isso, o único padrão seguro a ser traçado aí seria necessarimente o uso dos instrumentos específicos.
Neste caso, se a lista dos instrumentos indica um "padrão" por que fugimos deste "padrão" usando instrumentos que não são os "címbalos, alaúdes, harpas e trombetas" na igreja? O único padrão possível ali são os instrumentos.
Outro problema é que a adoração do Templo não representava toda a gama de adoração do povo de Israel. O que se fazia no Templo tinha sua função mas fora do Templo o povo adorava a Deus com tamborins e Deus se "agradava" disso (Salmo 149:4). Além do que não há nenhum verso que indique que deveria haver mudança na adoração. Com a abolição da música do santuário, o louvor do Salmo 150 é um padrão mais adequado para a Igreja.)
Isso não significa que Deus reprovou o que era feito, mas que ele estava indicando um caminho melhor e mais seguro. Da mesma forma que ele não rejeitou os homens que tinham mais de uma mulher, mas depois ele mostrou que seu povo devia eliminar aquele costume.
(A comparação entre o custome da poligamia e a música é interessante mas não se aplica totalmente, pois não há um verso na Bíblia dizendo: "Homens, tenham várias mulheres" por outro lado, existe um mandamento de "Louvai a Deus com o tamborim". Que os homens da Bíblia erravam e Deus dava uma "piscadinha" porque era tempo de ignorância é uma coisa, outra coisa é um conceito claro nas Escrituras que nos permite usar a percussão na adoração.
A leitura de que Deus estava indicando um ideal de louvor no Primeiro Templo, que só incluía certos instrumentos não pode ser defendido no contexto das festas de Israel (Veja Salmo 81) e principalmente não se verifica na história do Segundo Templo. Os levitas obviamente não interpretaram essa lista como rígida pois com o tempo, incluíram vários outros instrumentos, inclusive a flauta e o tamborim que não estavam na lista de Crônicas. Havia inclusive a dança celebrativa no Segundo Templo. Por outro lado, o Salmo 150 também pode ser considerado como emblemático do louvor que Deus quer do Seu povo, e todas as classes de instrumentos estão incluídas ali. As referências sobre isso estão no meu artigo na seção Tamborins e o Templo.)
Há muitos temas que não estão dados claramente na Bíblia, mas os servos de Deus estudam e chegam à luz revelada. O juízo investigativo não é referido na Bíblia, mas está claro para todos os adventistas que esse juízo está em andamento, sendo uma doutrina capital da fé adventista. A trindade não é afirmada pela Bíblia, a palavra não está na Bíblia. Mas o estudo dos diversos textos mostra que é assim que a divindade existe. Os adventistas entendem que devem evitar o uso de alimentos de origem animal hoje, mas a Bíblia não os proíbe.
Note que a verdade nem sempre é dada "de graça" por Deus. Ellen White até diz que "é plano de Deus dar suficiente evidência do caráter divino de Sua obra para convencer a todos quantos desejam sinceramente conhecer a verdade. Mas ele nunca remove toda a oportunidade de dúvida. Todos quantos desejam pôr em dúvida e cavilar encontrarão ensejo" (ME, I, 72, grifado). Jesus mesmo disse que falava por parábolas "para que nem todos entendessem" (Mc 4:12), e deixa claro que a verdade precisava ser buscada com oração, humildade e estudo. Tem verdade escondidas, que só o "garimpeiro" descobre. Mas quando descobre elas aparecem claramente, sem necessidades de qualquer malabarismo exegético. Ellen White ainda diz: "Os que cavam abaixo da superfície descobrem às escondidas gemas da verdade" (ME, II, 39).
(Concordo, mas é arriscado tentar criar um princípio moral encima do silêncio da Bíblia, principalmente quando ela é CLARA que a percussão é compatível com o louvor a Deus. Então seria contraditório querer tirar uma "pérola" de uma passagem obscura que acaba confrontando uma revelação mais clara.)
Você não vai encontrar na Bíblia uma proibição de certas coisas da forma com espera.
(Concordo, mas quando há uma autorização clara, como no caso da percussão na música sacra, ela sobrepõe-se à "condenação" ausente.)
Outro ponto que gostaria que você pensasse com cuidado é seu artigo a respeito do fanatismo da "carne santa". Você diz que Ellen White não focaliza a discussão na questão da música, mas apenas no problema teológico, quando fala do assunto em Mensagens Escolhidas (ME).
Também diz que ela não está falando dos "últimos dias", no tempo da volta de Cristo.
Ela faz uma profecia acerca da música do movimento da "carne santa", dizendo que tal liturgia iria voltar nos últimos dias.
Mas na verdade, nos diversos textos em que ela fala sobre o assunto, ela volta toda hora ao problema litúrgico, até mais do que dá atenção ao problema teológico.
(Isso parece ser verdade quando tiramos as citações do contexto. Sua mensagem à liturgia desses movimentos envolvia um pano de fundo teológico que se perde quando descontextualizamos as mensagens.)
Veja com cuidado alguns deles, onde grifei certas palavras:
1) "Havia exaltação, com ruído e confusão. Não se podia distinguir uma coisa da outra. Alguns pareciam estar em visão, e caíam por terra. Outros pulavam, dançavam e gritavam. Declaravam que, como sua carne estivesse purificada achavam-se prontos para a trasladação. Isto repetiam e repetiam. Dei meu testemunho em nome do Senhor, manifestando Sua reprovação a essas manifestações" (ME, II, 34).
(Este texto não se refere à Carne Santa e sim a outros movimentos carismáticos no início do Adventismo.)
2) "A maneira por que têm sido dirigidas as reuniões em Indiana, com barulho e confusão, não as recomendam a espíritos refletidos e inteligentes. O Senhor deseja manter em Seu serviço ordem e disciplina, não agitação e confusão" (ME, II, 35).
3) "As coisas que descrevestes como ocorrendo em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo" (ME, II, 36).
4) "O Espírito Santo nunca Se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isso [o ruído] é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É melhor nunca ter o culto do Senhor misturado com música do que usar instrumentos músicos para fazer a obra que, foi-me apresentado em janeiro último, seria introduzida em nossas reuniões campais. A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção. As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do Espírito Santo" (ME, II, 36).
5) "Nenhuma animação deve ser dada a tal espécie de culto". Veja que ela não fala da doutrina da carne santa, mas do culto (ME, II, 37).
6) "O Espírito Santo nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons como me foram apresentadas em janeiro último. Satanás opera entre a algazarra e a confusão de tal música, a qual, devidamente dirigida, seria um louvor e glória para Deus. Ele torna seu efeito qual venenoso aguilhão da serpente (ME, II, 37).
7) "Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida" (ME, II, 38).
8) "Alguns [fanáticos depois de 1844] dançavam para cima e para baixo, cantando: "Glória, glória, glória, glória, glória, glória." Por vezes eu ficava sentada quieta até que eles terminassem, e então me erguia e dizia: "Esta não é a maneira por que o Senhor opera. Ele não causa impressões assim. Precisamos dirigir a mente do povo à Palavra como o fundamento de nossa fé" (ME, II, 42).
(Os pontos 8-12 não se referem à Carne Santa e sim a outros movimentos carismáticos no início do Adventismo onde houve fanatismo ao som do piano, sem qualquer "balbúrdia ou ruído". Veja ME 3; 363).
9) "Temo qualquer coisa que tenha a tendência de desviar a mente das sólidas provas da verdade tal como se revela na Palavra de Deus. Temo isto; temo isto. Precisamos pôr nossa mente dentro dos limites da razão, não seja que o inimigo penetre de maneira a pôr tudo em desordem" (ME, II, 43).
10) "Cumpre-nos fortalecer nossa posição demorando a mente na Palavra, e evitando todas as esquisitices e cultos religiosos estranhos que alguns seriam muito prontos em pegar e praticar. Caso permitíssemos que a confusão penetrasse em nossas fileiras, não poderíamos libertar disso nossa obra" (ME, II, 44).
11) Sobre um casal de reavivalistas fanáticos, ela diz: "No falar, cantar e em exibições estranhas, que não estão em harmonia com a obra genuína do Espírito Santo, sua mulher está ajudando a introduzir um aspecto de fanatismo que causaria grande dano à causa de Deus, caso lhe fosse permitido qualquer lugar em nossas igrejas" (ME, II, 45).
12) "Meu irmão e minha irmã, tenho uma mensagem para vós: Estais baseados numa falsa suposição. Há muito do próprio eu entretecido em vossas exibições. Satanás entrará com fascinante poder através dessas exibições. É mais que tempo de vos deterdes" (ME, II, 45).
Veja como ela se concentra no problema da liturgia consistentemente. (Quando descontextualizadas, sim.) E expressa mais preocupação com esse assunto do que com o problema teológico da "carne santa", para o qual ela se limita a umas poucas referências. A liturgia é o carro-chefe para do fanatismo. Isso está claro na maneira de ela expressar suas preocupações.
(O que vou escrever aqui está no meu artigo na seção inicial Pano de Fundo do artigo "Ellen White Era Contra a Bateria na Música Sacra?"
O culto caótico da Carne Santa era a culminação das heresias teológicas do grupo segundo a testemunha ocular Stephen Haskell: para alcançar "carne santa", os fanáticos deveriam passar pela experiência do "jardim" que era justamente o êxtase NO CULTO acompanhado de tambores, gritos histéricos e finalmente o desmaio que concedia a "carne santa" para transladação. Não há como separar os dois, o culto, liturgia e música iam de mãos dadas com as crenças do grupo.
Portanto é um equívoco dizer que a liturgia era o carro-chefe do movimento e que a heresia teológica era secundária, quando é justamente o contrário: a heresia do perfeccionismo através da "carne santa" para transladação exigiu a criação de um sistema de culto que auxiliava na experiência do "jardim" que concedia justamente a carne santa, pelo êxtase. Ellen White na carta a Haskell e na declaração à Conferência Geral de 1901 condenou precisamente o erro teológico e o culto que elas causavam. Com o esfacelamento da heresia, automaticamente o culto desapareceu.
Ao dedicar boa parte de sua mensagem à Carne Santa aos excessos do culto do grupo, EGW está obviamente advertindo a IASD contra o perigo de se "dar animação" a um estilo de culto ruidoso, emocional ou com êxtase e chamá-lo de ação do Espírito Santo. Sua preocupação era o "choque dos sentidos" que impede a adoração racional e compromete a atuação do Espírito Santo na adoração.)
Ellen White fala sobre instrumentos musicais no sentido de recomendar seu uso. E diz: "Não nos devemos opor ao uso de instrumentos musicais em nossa obra" (Obreiros Evangélicos, 357). Você cita esse texto, e creio, mas não explica que nesse contexto ela estava orientado igrejas onde havia gente que considerava errado usar instrumento musical, e que Deus só aceitava a voz humana no louvor.
(O fato é que em todo o seu ministério ela não condenou um só instrumento musical. Ele falou de maneira desfavorável muitas vezes do piano mas isso não se fala hoje.)
Bem, gostaria de concluir com algumas observações. Tudo que já escrevi sobre o assunto da música, sempre do ponto de vista teológico e bíblico, não significa que considero como membro da igreja que nossa música é "ruído" e "confusão". Pelo contrário, a música adventista sem dúvida está entre as mais sacras entre todos os evangélicos. Enquanto outras denominações têm caído para uma completa perda da noção da música sacra e do culto de louvor, aceitando tudo que é mundano, a igreja adventista por causa de sua visão profética, tem mantido uma música mais próxima dos padrões divinos. E nessa distinção que está a sua força.
(É bom distinguir entre princípios de adoração e princípios de música: Deus deixou princípios de adoração claros na Bíblia mas não de música. Por quê? Porque ele sabe que a música sacra no contexto humano, sofre evolução; a música que era apropriada para o culto do primeiro templo seria inaceitável hoje pois ela e seus instrumentos eram frutos de um determinado contexto histórico. Precisamos estabelecer firmemente quais os princípios bíblicos de adoração e daí então fazer com que a música auxilie este culto "racional", celebrativo, exultante, com júbilo reverente. Querer produzir princípios de música no que tange à técnica ou estilo musicais leva sempre a extremos.)
Mas há certas regiões em que nossa igreja tem pendido para um liturgia perigosa.
(Temos que ter cuidado para não achar que é errado algo que é somente "diferente" do que estamos acostumados. Creio que a frase "liturgia perigosa" reflete um pouco desde zelo por uma certa tradição de se fazer as coisas. O Adventismo surgiu como uma reação ao tradicionalismo evangélico do século 19. Quando perdemos nossa identidade de inovadores?
A IASD não tem o pano de fundo teológico para que descambemos no carismatismo e êxtase, isso é um fato insofismável. Não cremos em êxtase, não falamos línguas, nossa música não leva a e nem acompanhava desmaios, manifestações estranhas. Os movimentos carismáticos que surgiram em nosso meio ou se desfizeram ou foram rejeitados pela IASD como denominação porque seguimos firmes sobre os Testemunhos. Esses movimentos segundo EGW continuarão a aparecer "de tempos em tempos" mas a IASD precisa continuar firme, e ao mesmo tempo evitar que o medo excessivo leve à condenação até da atuação legítima do Espírito Santo como explorei no meu artigo "Fanatismo e Verdadeiro Reavivamento".)
A igreja brasileira tem mantido uma liturgia mais pura, e isso certamente se deve ao nível de "adventismo" que ainda temos mantido. Quando falo de nível de adventismo, quero dizer que há uma tendência de nos tornarmos evangélicos. Mas nós não somos evangélicos. A igreja adventista é a igreja remanescente.
(Não vejo como ser evangélico possa ser incompatível com o ser "remanescente". Quem sabe precisamos nos tornar ainda mais 'evangélicos', no sentido de vivermos o Evangelho das boas novas, e não das boas "obras" e exclusivismo que a idéia distorcida de remanescente pode acarretar.)
Ela está à frente das demais e precisa estar para cumprir seu papel, do contrário ela se tornará irrelevante. Nossa relevância não consiste de sermos modernos, atuais e esclarecidos ao modelo do mundo. Mas em sermos bíblicos, fundados na Revelação divina em tudo que fazemos, em doutrina e prática.
(Biblicamente, ser relevante é pregar a "verdade presente" que não caduca com os tempos mas que deve ter roupagem relevante aos tempos. A evolução natural da música sacra como um fato histórico é parte desse processo de fazer a verdade "presente".)
Assim, meu ponto de vista sobre a música na igreja adventista é mais no sentido de precaução e de uma busca pelo que é ideal, mesmo que não o possamos atingir completamente.
(Concordo precisamos seguir com cuidado no assunto da adoração mas com o devido equilíbrio para que o zelo não nos leve posições extremas que no fim acabam tolhindo a própria obra do Espírito Santo.)
Espero ter sido bem compreendido.
Que Deus continue com você e sua família.
Vanderlei Dorneles
(Agradeço ao Vanderlei a boa vontade de analisar o material e oferecer observações. Espero poder continuar o diálogo amigável e construtivo.)